segunda-feira, 8 de abril de 2019

ERA PÁSCOA...



Imagem do Google

Era Páscoa...
O cabrito estava delicioso... E então servido por Arnalda, esse anjo de candura e recolhimento...
-- Um bocadinho mais de cabrito, Sr. Padre Adolfo? -- interrogava, atenciosa, Arnalda.

Adolfo ficava como que estático, paralisado pela pergunta da criada. Fitava a mulher, de formas intactas e veementes, os langorosos olhos azuis, esplendorosa nos seus vinte e seis anos, a presença quente e inebriante, o trato educado... Ou antes, doce, muito doce!... Um gesto seu era quase uma carícia!... Ou era impressão sua ou com Luís Henrique, Arnalda tornava-se mais meiga ainda, gentil e delicada... Não, não podia ser!...
Devia estar a imaginar coisas!...
-- Sim, sim! A perna, para juntar às minhas batatinhas... Se ainda houver!... E uns grelinhos!... -- respondeu atabalhoadamente o sacerdote.
E a serviçal aproximava-se pelo lado esquerdo de Adolfo e servia-o com todo o profissionalismo, debruçada sobre o seu ombro, quase encostando, por força do acto, o seio direito ao rosto do homem. O coração do clérigo, então, disparava desenfreado... O cheiro da mulher penetrava-lhe a alma... Daquele corpo brotava uma onda surda de desejo que perturbava o pároco. Que se passava com ele, afinal?!

-- Ah!, Obrigado, mas já chega!... Tenho de me conter!... Acho que estava distraído!

In "O Chão dos Sentidos" (2013).

5 comentários:

  1. Entre a gula e desejo carnal...
    Um texto perfeito! Beijinho Poeta

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  2. O pecado da gula. Mas que tem bom aspecto, tem:))

    Hoje:-Tempo nefasto, sem piedade.

    Bjos
    Votos de uma óptima Terça - Feira

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  3. Muito bom, um conto de páscoa que apresenta o 'ser humano': o homem, o clérigo, mas natural, com seus desejos que obviamente existem.
    Contado com elegância.
    beijo, boa semana, Humberto!

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  4. Querido Zé
    Ao ler, quis-me parecer que, por momentos, o leitor se pode esquecer do lauto jantar e se põe a divagar. Ai! Ai! Ai!
    Olhamos para a imagem e ficamos com água na boca!
    Um beijinho
    Mana

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  5. Também se come com os olhos... e o prato estava convidativo, convenhamos!
    Beijinho.

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