sexta-feira, 12 de abril de 2019

ÍDOLOS SEMPRE HOUVE


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    Quem melhor nos falou, até hoje, sobre os ídolos que povoam o nosso imaginário simbólico inconsciente (ou consciente), e a que, por sistema, nos agarramos, ou dos quais dependemos no quotidiano, terá sido, provavelmente, Francis Bacon (1561-1626). Para este filósofo do experimentalismo, a idolatria dá forma às falaciosas representações genéricas e abstractas, de que o espírito do sujeito é alvo, na letra das superstições e das incompreensíveis tradições que se vão perpetuando, ao longo do(s) tempo(s).

     Para Bacon, tudo isto são equívocos que desvirtuam a forma correcta de ler a Natureza. Por essa razão, preocupou-se em dividir os ídolos em quatro a saber: os ídolos da tribo, atinentes à espécie humana e que deixam supor uma Natureza exacta, de uma só leitura e opiniões acabadas; geradora de comportamentos e afectos nefastos, mistificadora dos sentidos e das vontades, instigadora de abstracções e de cultos fantasistas omnipotentes, capazes de distorcer, portanto, a realidade.

    Os ídolos da caverna dizem respeito ao sujeito, enquanto ser individual, visto que cada um vive no fosso do seu próprio Eu, interpretando a luz da Natureza de maneira anaclítica (refractada). Estes inúmeros ídolos surgem, especialmente, devido à especificidade subjectiva de cada corpo-mente indissociável e ao seu respectivo percurso desenvolvimentista – transgeracional e ambiental.

      Os ídolos do forum, ágora ou mercado são os que têm a sua génese na intersubjectividade relacional (comunicacional) dos sujeitos. Estes, alimentam a presunção de associar aos vocábulos (significantes), significados falsos, provavelmente, resultantes de delírios alucinatórios vistos como realidades de correspondência. Isto, hoje, volta a estar muito presente nas vidas das massas, dirigidas pelos media, ao serviço dos mercados.

      Por fim, os ídolos do teatro, e fica já aqui, a talho de foice, o do inconcebível acordo (“orto”)gráfico, seja lá o que isso for. Este e os outros, que são tantos quantas as “seitas filosóficas”, enfermam da prepotência dogmática dos detentores do poder e não passam de deploráveis equívocos, vazios de fundamentação e demonstração. Segundo Bacon, que assim teria falado caso ainda hoje fosse vivo, tudo isto acontece, porque as leis e princípios donde advêm transmigram de cenários fictícios.

2 comentários:

  1. Tudo o que tenho lido e ouvido sobre o AO revela quase sempre posições extremas, a favor ou, mais contra. Mas tenho para mim que uma língua tem o seu próprio dinamismo.
    Gostei da riqueza do texto.
    Beijinho, Poeta e bom fim de semana .

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