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Em
um escrito recente, intitulado Educação
XXI, tivemos
ocasião de referir, relativamente à apatia escolar
infantil, a fórmula nEAS
(não-Emotivo-Activo-Secundário),
da autoria do médico fisiologista belga Heymans
(1892-1968)
e do filósofo francês Le
Senne (1882-1954),
cuja classificação caracterológica aponta para
uma redução drástica da actividade física
geral e para o empobrecimento das reacções afectivas.
Esta ataraxia pode despoletar a baixa auto-estima e precipitar as
depressões, levando as pessoas a se abandonarem, perdendo
mesmo a noção do espaço e do tempo.
Tal
estado de indiferença, de insensibilidade, de desinteresse, de
inércia, de falta de paixão, de frieza, perante tudo e
face a todos, começa por radicar em uma falta de entusiasmo
pelo próprio indivíduo que enferma desta síndroma.
Podendo, eventualmente, ser contornada na infância, esta
afecção mental insinua-se de forma mais grave na
adolescência, podendo mesmo configurar quadros esquizofrénicos
ou hebefrénicos, atingindo também certas pessoas na
meia-idade e a partir dos 60 anos de vida.
Contudo,
enquanto na esquizofrenia crónica a dissolução
da reactividade emocional, traduzida pela ausência de afectos,
é mais vincada, na hebefrenia o doente encontra-se mais
condicionado pelos fantasmas do seu universo psicótico
interior. Os especialistas apontam ainda a doença de Pick,
como
sendo responsável pela afecção dos lobos
frontais e, por vezes, pela demência, o que leva à perda
do contacto com a realidade.
Como
aludimos no primeiro parágrafo, a apatia pode levar à
depressão mais ou menos grave; se aquela for intensa, a apatia
é explicada pela indolência acentuada e recalcitrante,
pela ausência de alegria e pela expectativa dolorosa de que o
futuro se apresentará irremediavelmente negro. Não
esqueçamos, também, que certas situações
circunstanciais desastrosas, que possam ocorrer na vida das pessoas,
poderão contribuir para estados apáticos, como acontece
nos internamentos hospitalares de longa duração, na
permanência nas prisões ou nos lares da terceira idade.
A
perda de contacto destas pessoas com o universo exterior e com as
suas vivências dinâmicas, leva, invariavelmente, a
estados de apatia de certa maneira graves ou problemáticos;
para além de se sentirem entregues a si próprios, as
condições de “vida” nesses contextos são
sempre tendentes a ignorar os desejos e interesses de quem já
nem força tem para reivindicar algum carinho e atenção.
Numa época em que tanto se fala em solidariedade e
humanitarismo, o mínimo que se exige das famílias e do
estado é que cumpram o seu dever moral, cívico e
institucional, não ignorando nunca que o ciclo da vida engloba
todos e cada um de nós.
Mais um excelente texto seu para reflexão… A apatia leva quase sempre à depressão e tantas vezes ficamos indiferentes a isso...
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