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O
Século XXI começou já ontem e muitas das
realizações, ao nível da educação,
que se esperava fossem concretizadas para essa altura, tardam em ser
sucedidas. O tempo continua a ser de grandes expectativas e torna-se
urgente não contemporizar com contratempos que a destempo do
próprio tempo de acção útil e necessária,
venham a sacrificar a capacidade de resposta do próprio
sistema educativo, nomeadamente no que diz respeito, num âmbito
político alargado, a aspectos, não só de feição
económica e social, mas também de cariz cultural e
ético.
Quem espera desespera... Quem
espera sempre alcança... Conforme rezam os ditados populares;
no caso da educação existem demasiados sectores da vida
nacional, senão mesmo quase todos, a desesperar e a alimentar,
paralelamente, esperanças em demasia, sem que existam
contrapartidas palpáveis, no sentido de dotar o sistema
educativo das tais defesas vitaminadas que o tornariam forte e bem
vivo.
Embora legítimas, as
expectativas das populações, cada vez mais exigentes,
podem esbarrar contra a dureza da realidade imposta pela ginástica,
também necessária e urgente, das opções
económicas e financeiras de um país que tem
obrigatoriamente de cumprir um determinado nível de défice
e que deve, portanto, definir políticas educativas
reformistas, por um lado, mas, por outro lado, ser capaz de
estabelecer prioridades, de forma a garantir a estabilidade do
sistema e o seu normal funcionamento, alicerçando
principalmente a sua base, ao nível da Educação
Pré-Escolar e dos primeiros anos de escolaridade fundamental.
A partir de 1976, a
Constituição da República Portuguesa aludia à
igualdade de direitos e oportunidades educativas para todos sem
excepção, mas, hoje em dia, com o agravamento de
dificuldades de todo o tipo e à consequente escassez de
recursos, a sociedade tem de, primeiro, se autodisciplinar e, depois,
tentar fazer uma reflexão profunda sobre as medidas mais
sensatas a tomar, no campo educativo, de forma a permitir o progresso
económico, social e cultural sustentado e previsível.
Não gostaríamos
de falar aqui de uma qualquer crise das muitas que, na verdade,
afectam o país, mas não podemos deixar de constatar a
tão grande contradição que se verifica entre o
conjunto diversificado de cursos em que se diplomam os nossos jovens
e o número ínfimo de indivíduos realmente
preparados para ocupar os empregos que a sociedade hoje (não)
tem para oferecer a quem sai das universidades.
A qualidade e o nível
de desenvolvimento intelectual, aliados a uma cuidada preparação
das competências profissionais dos recém-diplomados,
podem servir as empresas de bens e serviços, o comércio
e a indústria, mas não respondem cabalmente às
exigências de uma carreira de investigação
universitária; da mesma forma, enquanto que ao nível
das artes em geral: som e imagem, por exemplo, são exigidos
meios muito específicos e dispendiosos, para a aquisição
de competências especialíssimas e muito trabalhosas, no
que toca à preparação e escolarização
das crianças e da sua formação geral, devem ser
equacionadas medidas de carácter particular, completamente
diferentes daquelas, mas sempre suportadas por verbas que não
são nunca suficientes, se quisermos dotar o ensino obrigatório
de mais e melhores professores, de mais e melhores instalações
e espaços verdes, de mais e melhores recursos, materiais e
humanos, de apoio, enfim...
Nesta medida, e tendo em conta
as finalidades da educação, importa repensar a nossa
sociedade e até que ponto ela pode ser ou não apelidada
de educativa; quais os limites e interdições a que essa
mesma sociedade deve estar sujeita, por força dos descalabros
que certas franjas de que se reveste têm protagonizado em
prejuízo da maioria daqueles que efectivamente trabalham e
produzem.
Vivemos, ainda assim, num
estado de direito democrático e, por isso mesmo, pensamos que
se impõe, no interesse de todos nós e do
desenvolvimento integrado do nosso pequeno rectângulo lusitano,
um debate sério sobre esta matéria, no qual participem
os mais habilitados e honestamente interessados, depois de arrumadas
as ideias e estabelecidos os novos rumos e metas da educação,
no nosso país.
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