quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

O DOMÍNIO DA LINGUAGEM



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    É sabido que os animais comunicam entre si – os da mesma espécie taxionómica, bem entendido, mas, muito embora possuam as suas vozes características, interessantes, curiosas e diferenciadas, não o fazem com aquela acuidade cognitiva e conceptual que é apenas apanágio do Homem. Este é dotado de consciência alargada, memória e inteligência superior, com tudo o que isso representa; aqueles dispõem apenas de consciência nuclear, memória residual e inteligência reduzida e variável.

    A espécie humana é composta por criaturas que integram, cada uma delas, matéria e espírito. Em sânscrito, homem significa mediador, isto é, a mente que tudo mede, tudo pondera e decide, ou não, para o Bem e para o Mal. Por isso, os homens não se medem aos palmos, o que significa ainda que a sua força interior é mil vezes superior à sua massa corpórea. Nesta conformidade, cada ser humano encerra em si próprio, no tesouro da sua mente, a extraordinária capacidade de pensar, de sentir, de se emocionar, de sonhar e imaginar, de alimentar expectativas e afectos, sejam eles de aversão ou de atracção, de cultivar desejos, anseios ou decepções.

    Esta determinação superior (filosoficamente, entendida como tal), colocada à disposição do Homem, consubstancia-se através do domínio da linguagem, em interacção com o outro, depois de ter entrado na ordem da linguagem que o precede e lhe baliza os desejos primários, transformando-o em ser social. Se este processo de aprendizagem e crescimento mental não for bem sucedido, gerar-se-ão, ao nível do subconsciente, emoções degenerativas (somatopsícóticas), manifestamente tóxicas para o indivíduo e para quem o rodeia. Assim, é importante o discernimento entre o Bem e o Mal, para sermos capazes de criar e de construir, através do raciocínio emocional positivo, tudo quanto acreditarmos, in-ti-ma-men-te, com fé e esperança, invertendo e inviabilizando todo o sofrimento desnecessário.

    Já aqui reflectimos sobre o inconsciente colectivo-transgeracional, enquanto fenómeno psicossocial-transversal (Jung), portanto, algo a que todos estamos sujeitos. Trata-se de uma espécie de reservatório mental inconsciente que vai acumulando todo o tipo de lixo tóxico, em quantidade e rapidez, tanto mais perigosamente (para além do nosso passado colectivo), quanto mais omnipotente, omnisciente e omnipresente se têm tornado (no momento actual) as novas tecnologias e a voracidade dos mercados, o despudor dos interesses instalados, a desfaçatez dos políticos, o açaime dos imperialismos.

    Agora, que vai ter início o ano de 2019 fica esta nossa despretensiosa mensagem de Ano Novo: saibamos seleccionar os objectos de eleição, mantendo uma mente limpa e activa em um corpo vigoroso e saudável (mens sana in corpore sano -- Juvenal), e, como defendia Platão, citado por Mark Vernon (1966-....): através do domínio da linguagem e com amizade, “as pessoas podem explorar abertamente as complexidades das suas vidas e como se relacionam com as suas convicções, os seus sentimentos, as suas esperanças e o seu carácter”, surgindo, assim, “novas maneiras de compreender e avaliar o mundo” (Vernon, 2011, p. 41).




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