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Há muito quem fale da escola
inclusiva como algo de inevitável, por considerarem,
imagine-se, de efeitos milagrosos; a exemplo, aliás, daquilo
que se tinha antes verificado com a flexibilidade curricular, depois
de testadas muitas outras receitas de jaez meramente
teórico-livresco, afanosamente propaladas por quem nunca
leccionou e também pelo grupo daqueles que, embora tivessem
começado no terreno duro e difícil de “contexto de
sala de aula”, rapidamente fugiram para o lúdico
coleccionismo de cursos e mais cursos, perderam rapidamente a noção
da realidade ensino/aprendizagem, mas, conseguem ter o desplante de,
em prédicas, palestras e “formações” (?!),
nos apontarem os mais absurdos e descontextualizados caminhos de
orientação lectiva.
A este propósito, vamos
recordar aqui um caso, do qual nos deram parte, de uma criança
em idade escolar, adoptada , sofrendo de comportamentos
acentuadamente disruptivos, caracterizados por acções e
reacções inopinadamente violentas, agressivas,
destruidoras, caóticas.
Estranhamente, a mãe
adoptiva não encara a dura e notoriamente visível
realidade protagonizada pela própria criança e, não
só nega tudo aquilo que se vai passando com o menino, mas
também, depois de testemunhar as insólitas atitudes e
“loucuras” do Abel, assobia para o ar, como se nada fosse.
Avancemos, no entanto, mais
alguns dados sobre a questão vertente: o Abel, ao longo deste
último ano, depois de vezes sem conta ter desempenhado, na
sala de aula de uma turma do ensino regular, o papel de terramoto e
furacão e tanque bélico, virando carteiras de pernas
para o ar, arrancando, sem mais nem menos, das paredes os expositores
com os trabalhos dos colegas, puxando cabelos, desferindo caneladas,
arranhando, cuspindo, mordendo, a torto e a direito, os outros
meninos e a professora... bem, ao abrigo do Dec.Lei nº 319/91,
passou a integrar, contra a vontade da senhora que detém a sua
custódia legal, a turma do ensino especial.
Agora, nesta turma, com
professores superiormente habilitados para o efeito, nada se alterou
em relação ao Abel. Modificou-se, isso sim,
relativamente ao sossego e à tranquilidade dos outros meninos,
alguns deles com deficiências profundas, impossibilitados de se
defenderem das agressões repentinas do Abel. Tornaram-se
inquietos, nervosos, ansiosos, sofrendo desnecessariamente por causa
de uma outra criança que se encontra, declaradamente, no
limiar da Escola Inclusiva. Este problema tem de ser solucionado,
valha-nos Deus!
A mãe, entretanto, não
consegue adquirir consciência da verdadeira dimensão do
problema e denuncia o caso, através da sua versão muito
subjectivamente particular, aos responsáveis regionais, pelo
que estes lhe garantem que o menino deverá ser reintegrado na
turma do ensino regular que tinha frequentado antes.
Em nossa opinião, todo
este caso, a provocar já demasiado rebuliço, deve ser
analisado com cuidado, atenção, ponderação,
profissionalismo e sentido clínico-pedagógico, pois
trata-se de uma criança especialíssima a requerer
cuidados também especiais e acompanhamento especializado e
permanente, numa instituição vocacionada para o efeito.
Imaginem, por hipótese,
que na nossa sociedade , que é inclusiva, se não dava
destino específico, terapêutico, pedagógico,
profiláctico, diferenciado, conforme os casos, a doentes do
foro psiquiátrico, a assassinos, a violadores, a traficantes e
ladrões, e se deixava tudo “à balda”, então
onde é que íamos parar todos?
Relativamente ao Abel, será
de toda a conveniência e em nome do mais elementar bom senso,
reunir todas as partes envolvidas, na tentativa de definição
de uma solução útil e de consenso. Não
pode ser suficiente a versão solitária e subjectiva
desta mãe fragilizada, destroçada pela angustiante dor
e sofrimento de uma adopção que a sorte não
bafejou.
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