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De
acordo com
as
teses de Wilfred
Rupert Bion
(1897-1979)
–
profundas, complexas e geniais – a teoria do conhecimento parte do
pressuposto de que conhecer tem a sua génese na emocionalidade
que envolve as experiências primitivas, desde que ligadas à
ausência do objecto. Desta forma, “pensar” enquadra-se numa
abstracção que parte de uma realização
(esquematização). Pensar os pensamentos, portanto,
radica na singularidade das impressões sensoriais e no
primitivismo da emocionalidade empírica primordial, enquanto
fenómenos aliados à realidade protomental do indivíduo.
Estes
conceitos revolucionários desenvolvidos por Bion,
extremamente úteis e fecundos para a psicologia do
desenvolvimento e para a psicanálise, encontram-se ancorados
na filosofia de Immanuel
Kant (1724-1804),
nomeadamente em certos aspectos da Crítica
da Razão Pura,
como aquele que diz respeito à coisa
em si;
Kant
considerou incognoscíveis as realidades que se situam fora dos
limites da experiência possível, isto é, aquelas
que transcendem as meras possibilidades do conhecimento, enquanto
concepções espirituais (númenos) situadas para
lá dos fenómenos que nos são dados percepcionar.
Estas
coisas
em si
podem ser pensadas (é possível fazê-lo), desde
que não envolvam contradição, sem nunca
iluminarem (feno) o nosso conhecimento, até porque pensar um
conceito não significa atribuir-lhe validade objectiva. Não
nos é dado conhecer a realidade absoluta, a coisa
em si,
pois desta não temos qualquer tipo de experiência nem
entendimento; aquela
opõe-se às aparências,
de algum modo ligadas, estas,
ao espaço e ao tempo, depois de materializadas através
da percepção subjectivada pela nossa síntese
unificadora.
Pensar
o incognoscível (a verdade absoluta) é possível,
seguindo os ensinamentos de Kant
e
de Bion,
já que os conceitos do entendimento da realidade
transcendental podem ser pensados para que possamos esboçar
(aflorar) os dados da experiência, sem nunca sermos capazes de
ultrapassar as possibilidades da mesma... Diz-nos Bion,
sobre o nosso psiquismo, onde se internalizam as pré-concepções
ou conhecimentos a
priori,
que aquele se configura admissível como “coisa
em si”
; esta área, embora inacessível, é passível
de ser imaginada, e, sendo pensados os seus elementos é porque
se operou a função-alfa
(depressiva e integradora),
dando sentido à realidade, e fundamental em toda a sua
capacidade transformadora das impressões sensoriais e das
experiências emocionais, formando conceitos e gerando
conhecimento, e ainda para que os elementos-beta
(dispersivo-esquizo-paranóides),
avessos à frustração e incapazes de tolerância, não sejam
destruídos do pensamento – por evacuação
(identificação projectiva),
onde impera (apenas) a
arrogância, a estupidez e a curiosidade.
Nesta
conformidade, a oscilação entre as posições
Esquizo-paranóide
e De
pressiva, aliada
à interacção vinculativa continente-conteúdo
(mãe-bebé),
permite
ao sujeito, não só tolerar a frustração,
aceitando conceber abstracções, realizações
exactas e performances técnicas, mas também o abandono
pacífico das perspectivas passageiras das coisas sensíveis
ou sensitivas, através da função-alfa.
Ou
melhor:
na
posição
depressiva
gera-se a experiência de conhecimento e os elementos-beta
(neste transe) podem ser pensados, depois da experiência do
conhecimento ao qual se alia o facto seleccionado (o seio) – no
caso da relação primária mãe-bebé,
enquanto modelo prototípico humano.
NOTA:
Pela sua importância e flagrante actualidade (ignoradas),
voltaremos ao assunto.
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