terça-feira, 3 de abril de 2018

A MATRIZ PARENTAL



Image result for a família feliz
Imagem do Google


 
            Sobre este assunto não alimentamos nenhum tipo de dúvida. A matriz parental é, precisamente, o cerne de toda a posterior evolução ou estagnação do recém-nascido, quando não do próprio feto; é nesse âmago original que o feto é objectivado por um sem número de expectativas, por parte dos progenitores, relativamente a quem cresce no útero materno. Sublinhe-se, desde já, o carácter, por um lado, bilateral desse tipo de representações, ou, por outro, o teor ambivalente: bilateral, se for de aceitação, sendo susceptível de ser considerado positivamente construtivo; ou, de rejeição, se a energia dos pais se dirigir ao feto de forma negativa e destrutiva.  Ambivalente, ainda, caso a atitude parental, face ao vindouro, revista uma mescla difusa e indefinida de sentimentos emocionais, a um tempo polimorfos, difíceis de qualificar.

            Tudo isto se deve, note-se, à pressão (in)consciente exercida pelo assomo das representações sociais, culturais e pessoais, pautadas pelas reminiscências da própria infância dos futuros pais e do conhecimento que possuem de outras crianças próximas-afastadas. Um filho não pode constituir uma desagradável surpresa; tem de ser planeado, desejado e amado; deve, portanto, ser aceite como um ser individual e autónomo, embora dependente dos cuidados parentais, para os quais estes devem estar preparados. Para tal, importa compatibilizar a personalidade do casal com os traços psicológicos comportamentais da criança, no sentido de a libertar... integrando-a.

            Não se pede mais do que inteligência, sensibilidade e flexibilidade sem permissividade, intolerância ou sadismo, para que a criança se sinta segura, protegida e tranquila na harmonia do aconchego triangular da família. As necessidades biológicas dos nascituros são diversas das dos adultos, por isso as rotinas devem ser diferenciadas. Há dias, vimos na televisão a arrepiante imagem de um bebé de escassos meses, ao colo do pai, no meio da efervescência dos adeptos que assistiam a um atribulado jogo de futebol...

            Não raramente, a ansiedade e a frustração dos pais é projectada nos filhos; estes, então, crescem ansiosos, inquietos, não introjectam os alimentos, não aferem os índices devidos de concentração e aprendizagem. Perante tal estado de coisas, os pais redobram de ansiedade, tornam-se persecutórios e tudo vai de mal a pior. Curiosamente – e aqui as reacções das crianças podem ser as opostas, isto é, perante a marcação cerrada de progenitores ansiosos, os filhos, por vezes, reagem com abulia, com enfado, com dormência, mas comem como alarves e tornam-se obesos e, face a este particular aspecto da questão, não se incomodam muito os impreparados paizinhos.

            Jacob Levy Moreno (1889-1974) legou-nos o conceito locus nascendi, ou seja, a matriz identitária de inserção e comunicação da criança desde o nascimento. Esse extraordinário domus vitae, como lhe chamamos, constitui o lar vivencial de cada recém-nascido e, conforme os pais, irá matizar a identidade de cada novo ser. Convém, portanto, reter que as crianças não têm todas o mesmo apetite; o seu tempo de sono é variável, mas, caso acordem repetidamente, ao longo da noite, com pesadelos, convém aquilatar sobre a sua estabilidade emocional... Ah!, se se tratar de meninos do pré-escolar, não se cometa o crime de se lhes sonegar a sua sestinha.

            Se o domus vitae, hipoteticamente, se apresentar emocionalmente perturbante, por força da matriz parental, e caso a criança denote uma baixa tolerância à frustração, pode reagir através de choro sistemático, de birras, de tristeza frequente, de apetite intermitente (voracidade versus fastio), de chantagem afectiva, isto é, de comportamentos generalizados de inadaptação; tudo isto é susceptível de fazer perigar a relação familiar-triangular e pode até levar os pais ao desespero, caso não consigam perceber o que se passa. Se se constatar que a etiologia não é do foro somático, convém, então, recorrer a um clínico entendido na matéria.

Sem comentários:

Enviar um comentário