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Sobre este assunto não alimentamos
nenhum tipo de dúvida. A matriz parental é, precisamente, o cerne de toda a
posterior evolução ou estagnação do recém-nascido, quando não do próprio feto;
é nesse âmago original que o feto é objectivado por um sem número de
expectativas, por parte dos progenitores, relativamente a quem cresce no útero
materno. Sublinhe-se, desde já, o carácter, por um lado, bilateral desse tipo
de representações, ou, por outro, o teor ambivalente: bilateral, se for de
aceitação, sendo susceptível de ser considerado positivamente construtivo; ou,
de rejeição, se a energia dos pais se dirigir ao feto de forma negativa e
destrutiva. Ambivalente, ainda, caso a
atitude parental, face ao vindouro, revista uma mescla difusa e indefinida de
sentimentos emocionais, a um tempo polimorfos, difíceis de qualificar.
Tudo isto se deve, note-se, à
pressão (in)consciente exercida pelo assomo das representações sociais,
culturais e pessoais, pautadas pelas reminiscências da própria infância dos
futuros pais e do conhecimento que possuem de outras crianças próximas-afastadas.
Um filho não pode constituir uma desagradável surpresa; tem de ser planeado,
desejado e amado; deve, portanto, ser aceite como um ser individual e autónomo,
embora dependente dos cuidados parentais, para os quais estes devem estar
preparados. Para tal, importa compatibilizar a personalidade do casal com os
traços psicológicos comportamentais da criança, no sentido de a libertar...
integrando-a.
Não se pede mais do que
inteligência, sensibilidade e flexibilidade sem permissividade, intolerância ou
sadismo, para que a criança se sinta segura, protegida e tranquila na harmonia
do aconchego triangular da família. As necessidades biológicas dos nascituros
são diversas das dos adultos, por isso as rotinas devem ser diferenciadas. Há
dias, vimos na televisão a arrepiante imagem de um bebé de escassos meses, ao
colo do pai, no meio da efervescência dos adeptos que assistiam a um atribulado
jogo de futebol...
Não raramente, a ansiedade e a
frustração dos pais é projectada nos filhos; estes, então, crescem ansiosos,
inquietos, não introjectam os alimentos, não aferem os índices devidos de
concentração e aprendizagem. Perante tal estado de coisas, os pais redobram de
ansiedade, tornam-se persecutórios e tudo vai de mal a pior. Curiosamente – e
aqui as reacções das crianças podem ser as opostas, isto é, perante a marcação
cerrada de progenitores ansiosos, os filhos, por vezes, reagem com abulia, com
enfado, com dormência, mas comem como alarves e tornam-se obesos e, face a este
particular aspecto da questão, não se incomodam muito os impreparados
paizinhos.
Jacob Levy Moreno (1889-1974) legou-nos o conceito locus
nascendi, ou seja, a matriz identitária de inserção e comunicação da
criança desde o nascimento. Esse extraordinário domus vitae, como
lhe chamamos, constitui o lar vivencial de cada recém-nascido e,
conforme os pais, irá matizar a identidade de cada novo ser. Convém, portanto,
reter que as crianças não têm todas o mesmo apetite; o seu tempo de sono é
variável, mas, caso acordem repetidamente, ao longo da noite, com pesadelos,
convém aquilatar sobre a sua estabilidade emocional... Ah!, se se tratar de
meninos do pré-escolar, não se cometa o crime de se lhes sonegar a sua
sestinha.
Se
o domus vitae, hipoteticamente, se apresentar emocionalmente
perturbante, por força da matriz parental, e caso a criança denote uma baixa
tolerância à frustração, pode reagir através de choro sistemático, de birras,
de tristeza frequente, de apetite intermitente (voracidade versus fastio), de
chantagem afectiva, isto é, de comportamentos generalizados de inadaptação;
tudo isto é susceptível de fazer perigar a relação familiar-triangular e pode
até levar os pais ao desespero, caso não consigam perceber o que se passa. Se
se constatar que a etiologia não é do foro somático, convém, então, recorrer a
um clínico entendido na matéria.
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