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Wilfred Rupert Bion (1897-1979)
foi quem mais terá pensado sobre este assunto: o
pensamento. Segundo Bion, tudo tem o seu início na relação
pioneira com o outro – a mãe. Esta seria a condição sine qua non
para a constituição e funcionamento do aparelho psíquico; a partir da elaboração
de uma “narração” dirigida ao pai, através do
psiquismo materno, as primeiras produções psíquicas do bebé
transformar-se-iam em pensamentos. Melhor, o pensamento aqui cinge-se ao âmbito
boca-seio e estende-se a uma relação continente-conteúdo, passível de melhorar
a satisfação da experiência emocional, ampliando o enquadramento do objecto
parcial; uma vez introjectada, a experiência fará parte da função alfa.
Sobre este processo
Bion afirmou que: “o que era, no princípio, a conversação da mãe, no exercício
de uma função rudimentar de designação, é substituído pelo balbuciar próprio da
criança” – lalação – (Learning from Experience, p. 111). Com o seio
ausente, no entanto, a pré-concepção do mesmo liga-se a uma frustração e a
criança vive a experiência do não-seio; este transformar-se-á em pensamento se
o bebé possuir suficiente capacidade para tolerar a frustração,
enriquecendo o aparelho para pensar os pensamentos, aprendendo com a
experiência. Caso contrário, o bebé evacuará projectivamente os maus conteúdos
experienciados pelo ego, alojando-os no continente.
Pensar, contudo, faz parte de um
processo cognitivo generalizado que não vive apenas da percepção. O pensamento
recorre sem cessar a representações mentais imagéticas, à reorganização interna
do nosso vivido subjectivo, da nossa consciência auto-biográfica, da
consciência alargada, memória, inteligência, das experiências sensoriais,
também no âmbito mais lato do imaginário conceptual e simbólico. O indivíduo
pode controlar o seu pensamento ou, ao invés, deixar-se levar pelo mesmo: nas
psicoses ou como quando sonhamos acordados e somos embalados por devaneios
fantasiosos, movidos a partir do inconsciente.
Jean Piaget (1896-1980), psicólogo suíço, estudou em
profundidade as várias fases do desenvolvimento da criança relativamente ao
pensamento. Neste mesmo espaço, publicámos já dois escritos sobre a temática: “Os
Legados Conceptuais de Piaget” e “As Descobertas de Piaget”. Sendo
assim, não repetiremos aqui e agora o teor dos mesmos.
A espécie humana comunica por meio
da linguagem, embora pense, sobretudo, através de imagens. Linguisticamente, as
palavras são signos arbitrários, providos de duas faces como se de uma moeda se tratasse: de um lado temos o significado, isto é, a coisa nomeada e, do outro
apresenta-se-nos o significante, quer dizer, os símbolos gramaticais
codificados. Desta maneira arquitectam-se os conceitos utilizados na linguagem,
e a interiorização dos mesmos ao nível simbólico torna possível a transmissão
do conhecimento inerente aos factos, através dos espaço e do tempo.
Uma última referência ainda, embora
breve, às disfunções do pensamento: estas podem afectar tanto o conteúdo como a
forma do pensamento. Nos doentes mentais verificam-se este tipo de
perturbações, como a perda da capacidade de conceptualização, de simbolização,
o distúrbio na forma de leitura da realidade, na manutenção das relações
inter-subjectivas comunicacionais, o que pode configurar no doente aspectos
regressivos, indutores do pensamento
primitivo, mágico e solipsista infantil.
Gostei muito do seu texto. Não conhecia o pensamento de Wilfred Rupert Bion. Percebo que seja através da mãe que a criança comece a assimilar uma linguagem, ainda que precoce...
ResponderEliminarUma boa semana.
Uma beijo, meu Amigo.
Olá Humberto, uma interessante abordagem desta relação que reforça a afirmativa de ser a família p centro de nossas ações pela vida e a mãe vem como o eixo deste movimento, como se pode auferir deste belo texto.As referencias ornam seu belo trabalho da psique.
ResponderEliminarGrato pela partilha amigo.
Semana boa e leve para voce.
Abraços