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Num escrito agora revisitado, onde procurámos recordar as ínvias contradições dos curricula, mormente no que diz respeito aos aspectos desviantes de alguns dos seus componentes, uma vez que tudo é curriculum na vida de uma criança, concluímos com a ideia de que o enquadramento ensino/aprendizagem tem sido, devido ao facto, profundamente prejudicado. Sabemos do que falamos: nos últimos anos do século XX integrámos a co-autoria da obra A Construção do Currículo na Escola, cuja publicação sugerímos à Porto Editora. Desta feita, no entanto, vamos reflectir sobre o conceito de aprendizagem activa.
Aquando do nascimento de qualquer indivíduo humano, muito pouco
dos comportamentos observados no bebé é inato, exceptuando o impulso da sucção,
os processos de maturação do crescimento e o cansaço resultante de esforços
exagerados. Tudo o resto, como a locomoção erecta, a linguagem e todo o
conjunto alargado de aquisições culturais, resulta de um continuum de
aprendizagens obtidas na micro-sociedade familiar, na sociedade mais ampla que
é a escola e, por fim, na macro-sociedade. Todas estas aprendizagens, portanto,
são passíveis de operar mudanças comportamentais verificadas em resultado da
experiência intrapessoal e intersubjectiva relacional.
Quanto mais
experiências vivenciar a pessoa, melhor; aquelas acumulam no cérebro de cada um
aquilo a que o médico inglês F. Semon (1849-1921) chamou as engramas de memória; estas elucidam sobre
a interpretação de futuros protagonismos individuais ou colectivos. A memória,
contudo, pode ser curta ou estendida. A primeira pode diluir-se de imediato ou
durar apenas escassas horas; já a segunda beneficia do desaparecimento da
primeira, uma vez que o cérebro selecciona (memoriza) os dados realmente
importantes para o indivíduo, necessitando de espaço para o efeito.
Segundo a
Psicologia do Desenvolvimento, o primeiro processo de aprendizagem conta com a
percepção impressiva, que actua logo após o nascimento, particularmente nas
aves – fizémos a experiência com uma rola brava tombada do ninho –, e que
alicerça a ligação do recém-nascido à mãe, na consolidação da marcha do
desenvolvimento. O segundo modelo processual radica a aprendizagem ao condicionamento
de resposta estudado por Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936), no âmbito do
qual a transferência de um estímulo para outro resulta da capacidade de evocar
uma reacção emocionalmente matizada. Já o terceiro processo de aprendizagem
liga-se ao condicionamento dinâmico, estudado por Skinner, cuja resposta
é tanto mais potenciada quanto mais aliciante for a meta a atingir;
acrescente-se que, neste caso, este tipo de aprendizagem tanto pode funcionar
para o bem como para o mal.
Convém, contudo,
salvaguardar a distância que vai da teoria à prática da vida. Em contexto real
multiplicam-se as situações específicas de condicionamento da percepção
impressiva, da capacidade de resposta e da dinâmica operacional. Para além
disso, não ignoremos a diferenciação idiossincrática dos indivíduos, a
determinar susceptibilidade na forma de responder aos mesmos estímulos, bem
como nas maneiras de interpretar as motivações. Sendo assim, a efectivação das
aprendizagens varia, quer em qualidade, quer em quantidade, sendo também
sensível ao contexto, pelo que, sobre esta matéria, nada é peremptório nem
definitivo.
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