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A capacidade de sublimação é
prerrogativa apenas do ser humano. Trata-se, portanto, de um mecanismo
libertador de dinâmicas fantasmáticas que escapam ao recalcamento, pela
susceptibilidade de serem transformadas em algo elevado, social ou
culturalmente; isso passa-se com os instintos primários do indivíduo, com os
seus impulsos ou com outro tipo de tendências marginais não educadas. Assim, a
transformação a que nos referimos caminha no sentido do transcendente, quer ao
nível do pensamento, quer da ética e da estética, quer ainda no que diz
respeito a todas as formas de expressão artística.
Dotada deste extraordinário
privilégio, a espécie humana, deste há tempos imemoriais, tem conseguido erguer
essa eficaz defesa do self, no seu próprio interesse, e caso não enferme
de psicopatologias impeditivas – enfim, as coisas variam de sujeito para
sujeito e de sociedade para sociedade–, integrando na personalidade os impulsos
e pulsões pré-genitais, devido à transfiguração positiva destes no âmbito
social e cultural. Em termos técnicos, e tal como se aprende em Psicanálise,
tudo não passa de um fenómeno psicodinâmico inconsciente de substituição, de um
impulso infantil.
Sublimar advém, a um tempo,
etimologicamente, do grego e do latim, e reflecte o conceito de “elevar,
levantar”, conforme o título em epígrafe. A noção de sublimação foi
inicialmente lidada por Freud (1856-1939), tendo este discernido
sobre o assunto na sua obra “Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade”.
Segundo a sua hipótese, no indivíduo, a finalidade sexual seria objecto de um
desvio para uma finalidade não sexual, ou seja, o crescendo da excitação sexual
seria redireccionado, idealmente, no sentido de potenciar a elevação das
aptidões psíquicas, conforme teor do primeiro parágrafo.
Mas Freud também considera
que este processo pode ser completo ou imcompleto, o que determina que, por
mais talentoso que seja o artista, a análise caracterológica do mesmo é
passível de revelar a proporção existente entre capacidades, perversões e
neuroses, dado que é sobre os fundamentos orgânicos do carácter que se constrói
o edifício psíquico. Este aspecto particular da questão em apreço subentende a
relação dialéctica intrínseca entre as tendências instintivas, as repressivas e
a capacidade de sublimação, que a educação potencia.
Tanto quanto nos parece, Freud
estava ciente das subtilezas inerentes ao fenómeno estudado, nomeadamente, no
que toca à complexa relação de sujeição dicotómica entre o biológico e o
social, o que coloca de parte, desde logo, a própria liberdade do Eu,
que a representação dos interditos (super-eu) condiciona.
Esta, porém, varia em função da época sócio-história em presença, como é fácil
de perceber, tendo em conta o enquadramento ideológico de cada uma delas e a
diversidade das representações sociais, culturais e organizacionais.
Uma última ideia apenas, para
referir que nenhum nexo de causalidade é só isso e nada mais, mas que o efeito
determinado também é, simultaneamente, dinâmica causal; para além da
reciprocidade activa dos fenómenos e da sua influência mútua, pode verificar-se
uma descaracterização identitária oponível que leva à alternância dos papéis
iniciais, num encadeamento de causalidades. Não podemos, portanto, entender
como linear o conceito de sublimação.
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