Imagem do Google |
Numa sociedade cada vez mais
descaracterizada por enredos absurdos, que a desregulamentação dos mercados
teima em balizar, submetendo tudo e todos aos ditames implacáveis do
capitalismo desenfreado, neo-liberal, frio e indomável, quem mais sofre são já
os velhos e as crianças. Mas, hoje, ocupar-nos-emos das crianças, nomeadamente
no âmbito da questão educacional, tão malbaratada em nome de desígnios
economicistas inconfessados e inconfessáveis, porque temos estado todos, nesta
pobre e velha Europa, principalmente, quer queiramos quer não, ao serviço desse
esquizóide monstro sem valia humanitária e civilizacional.
Pensamos que concordarão connosco se
lhes dissermos que, quanto mais preocupados (se calhar, angustiadamente
apavorados) estivermos com os problemas inerentes à nossa segurança económica e
financeira, ao nosso emprego ou falta dele, à indefinição do futuro, já para
não falar de outro tipo de ameaças que pairam no horizonte, menos disponíveis
nos encontraremos para fazer face às prementes necessidades dos nossos filhos e
netos, não só no seio familiar, mas também em contexto escolar. É que as
crianças têm sido deixadas a uma aflitiva deriva, em ambos os enquadramentos a
que atrás se alude.
Nesta conformidade, e porque os
homens de amanhã começam, já hoje, prematuramente, a ser abandonados à sua
sorte, verificamos que as motivações são distorcidas, os valores são
deformados, os vícios distendidos, o convívio, de cariz narcisista e
tautológico, não visa o enriquecimento relacional colectivo da juventude, mas
tece-se antes nos teares virtuais da internet, da perniciosa ilusão
fantasmagórica que a vacuidade televisiva nos despeja em cada uma das casas que
já não a dispensam; ainda nas famigeradas e atrofiadoras consolas dos
denominados jogos de vídeo.
Cingindo-nos então às crianças,
diremos não ser de espantar que este terrível pacote, de influência
poderosíssima, consiga desviar, alienar esses seres em formação, tornando-os
pouco sociáveis e nada saudáveis, porque de ocupações solitárias se trata;
deveras inseguros, porque não canalizam nem dimensionam a sua afectividade no
sentido do desenvolvimento da sua emocionalidade, interagindo vivencialmente
com outras crianças da sua idade; problematicamente tensas, porque esbanjam
horas a fio, especadas frente às máquinas, numa gestão de sensações disruptivas
muito mal digeridas, pior estruturadas ou até mesmo heteroclitamente
desconchavadas.
Ademais, sempre que as crianças não
recriam devidamente as suas emoções; quando não condimentam as suas energias e
respectiva aplicação de forma socializante e harmónica, porque se encontram
cativas de enredos e esquemas mercantis, alegadamente lúdicos ou tidos como
diversão de efeitos mais que perniciosos, geram-se comportamentos desviantes na
sua maneira de ser, na sua natural capacidade de dirigir a atenção para as
coisas que realmente interessam, como é o caso das matérias curriculares de
eleição, a exigir concentração e aprendizagem.
Um destes tipos de desvio prende-se
com aquilo a que Barkley (1990) designou como o “distúrbio
hiperactivo de défice de atenção”, hoje cada vez mais comum, em maior ou
menor grau, nas crianças que todos os dias demandam os aberrantes
mega-agrupamentos.
Trata-se de um tipo de perturbação
que fere de “morte” a motivação, a atenção e a concentração, sendo estas
as pricipais vertentes responsáveis pelo exercício do papel fundamental de
acicate em todo o processo de aprendizagem activa das crianças, visto predispor
afectivamente os meninos, através da curiosidade, do interesse, da
participação, do empenhamento; funcionam afinal, quando em alta, sendo aquela,
pelo contrário, susceptível de disfuncionalizar toda a ambiência lectiva, na
sua vertente mais nobre – a do enquadramento ensino/aprendizagem –, quando em
défice.
Sem comentários:
Enviar um comentário