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Urge que alinhemos algumas ideias, de
novo, sobre o assunto, já que se trata de uma questão de honra. Não podemos,
nem devemos, cruzar os braços. Só se é cidadão de facto e de pleno direito,
quando se exerce, efectivamente, a cidadania.
Em Portugal, existe apenas uma escassa
minoria de pessoas, devidamente esclarecida e informada, que consegue e/ou
aceita ler, realmente, os acontecimentos, os eventos, o desenrolar do
quotidiano nas suas várias vertentes, a saber: política, sociológica,
económica, financeira, psicológica, informativa, etc., etc., etc.. Logo, mesmo
do reduzido universo de todos quantos o conseguem fazer, a maioria, cultiva
opcionalmente a ignorância, omite ou distorce a realidade, sempre que tal lhe
convém, por motivos óbvios, mas sempre inconfessáveis.
Relativamente à docência,
que constitui hoje a nossa motivação dissertadora, importa alertar as pessoas
de boa vontade para o logro a que têm sido forçados aqueles que a exercem com
denodo, com paixão, com estoicismo, com alma e coração, mas sem nenhum tipo de
missão ou sacerdócio, já que estes dois últimos conceitos nada têm a ver com a capacidade
técnico-científica e lectiva (sociopsicopedagógica e didáctica
fundamentalmente) do professor, seja ele mestre ou doutor, cuja actividade
profissional se caracteriza pelo seu conteúdo funcional sempre linear, do
primeiro ao último ano.
Também por isto, o Estatuto tem
constituído uma incompreensível amálgama de equívocos. Pretendeu-se sempre –
agora mais do que nunca – confundir as coisas, desvirtuando quer o estatuto,
quer o papel destes intelectuais, no sentido de os desacreditar junto da
opinião pública. Matam-se assim dois coelhos de uma só cajadada: por um lado,
retiram-se competências, atribuições, dignidade, independência, autonomia,
capacidade de progressão funcional, de serem remunerados por mero direito de
justiça os professores, sobrando, portanto, alguns cobres mais à tutela para
esbanjar em loucuras inconsequentes; por outro lado, com o desânimo dos
docentes, a população escolarizada tende a crescer mais embrutecida e
manipulável. Bonito, sim senhor! Desta maneira, as alegadas reformas, não
passam de tretas por explicar.
Depois de queimada a primeira década
deste ingrato século XXI, e depois da alteração cirúrgica – foram apagados os
professores titulares do estafado e intragável novo/velho Estatuto Docente,
publicado em Janeiro de 2007, continua a docência a traduzir-se no
incomensurável labor, abstrusamente regulado por aquele documento, sem deixar
nunca de constituir a prestação de um serviço de carácter fisicamente
demolidor, intelectualmente arrasador, humanamente abrangente... Meus senhores!
A docência é o exercício capital do Magistério do conhecimento e dos valores,
da socialização e da solidariedade, da integração social e cívica, participada
e participativa, e da convivência pacífica e democrática, já hoje, dos homens e
das mulheres de amanhã... se o houver!
Já por missão, entende-se
algo ligado a uma incumbência ou encargo, de duração variável, de maior ou
menor importância ou responsabilidade, em sentido lato, claro. Cada indivíduo,
no seu desempenho profissional, cumpre, necessariamente, todo um conjunto de
missões diversificadas, particulares, que visam, no fundo, a satisfação cabal
da tarefa geral que lhe incumbe realizar.
Por sacerdócio, e para que
não restem dúvidas, entendem-se, estritamente,
as funções atribuídas aos sacerdotes, como o exercício do poder espiritual, no
quadro de uma qualquer prática religiosa, em local próprio, que não (n)a
escola. Tal tarefa, como é sabido, tem estado apenas a cargo de homens que
fizeram previamente voto de castidade, de celibato, ordenados pela IGREJA...
Pois é! Com o desnorte e desconchavo
que cada vez mais vai caracterizando as políticas, os governos e a sociedade,
parece que muito boa (má) gente continua disposta a encarar, com a maior
naturalidade, a total e completa inversão de estatutos e papéis entre docentes e sacerdotes: os padres passariam a
poder casar e ter filhos, constituindo família; os professores, vitaliciamente
castos e celibatários, teriam de velar, 24 horas por dia, pelo vasto rebanho da
criançada escolarizada. Não querem mais nada?!
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