segunda-feira, 11 de março de 2019

A (DES)MOTIVAÇÂO NO ACTO DE ENSINO/APRENDIZAGEM



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    Torna-se cada vez mais difícil, para todos aqueles que, no seu dia-a-dia, têm de enfrentar a árdua tarefa da leccionação, perceber até que ponto os alunos que se encontram à sua responsabilidade, estão a agir em função das motivações orquestradas pelo professor, ou estão simplesmente a reagir às mesmas, tendo em conta toda a intrincada complexidade do seu universo interior, e, quer num caso quer no outro, importa clarividenciar se, o acto de ensinar, alicerçado nas aludidas motivações, terá tido repercussões ao nível das aprendizagens, por parte dos alunos em questão.

    Não vamos tratar este assunto de forma muito aturada ou exaustiva; vamos apenas, com base, uma vez mais, na nossa experiência, tentar discernir relativamente ao que se passa nas nossas escolas e que tem determinado um maior ou menor sucesso/insucesso escolares, uma maior ou menor adaptação ao ultimamente designado contexto de sala de aula; uma maior ou menor estruturação de mecanismos de defesa ou de desenvolvimento de resistências face à “ desagradável” tarefa de aprender, tendo em conta o desfasamento entre a ambiência escolar e outros enquadramentos onde as crianças e os jovens, aí sim, se sentem como peixes na água.

    Como não podia deixar de ser, acompanhámos a ainda próxima e breve presidência aberta do senhor Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, que palmilhou a semana iniciada a 3 de Maio, abordando alguns problemas dos muitos que afectam a Educação deste país tão pouco educado e tão perigosamente à deriva, como temos vindo a alertar há estafadas décadas, no que concerne à “estupidez” política dos sucessivos governos e à total ausência de uma vocação educativa autêntica, que tem sido manifestada, portanto, de forma negativa, pelos titulares da pasta da educação e pelos ditos responsáveis autárquicos pelos pelouros da cultura e da educação. Não pretendemos ofender ninguém, bem entendido, quando referimos a expressão “estupidez” política; esta significa, tão só, no nosso modesto entendimento, o desfasamento que os próprios políticos deixam transparecer entre a realidade factual dos meandros da educação e toda a sua complexa contextualização, e a forma como os mesmos apresentam o seu discurso medíocre e incapaz, que, como é óbvio, vai determinar posteriormente medidas, iniciativas e práticas perfeitamente distorcidas, desenquadradas e claro, ineficazes. E o tempo sempre a correr...

    Jorge Sampaio fez o que tinha a fazer. Esteve bem, quer na forma, quer na substância e, uma vez mais, aqueles que o deveriam ter alertado para os problemas mais sérios e graves do sistema educativo nacional pecaram, de novo, por omissão... ou terá sido por ignorância?!. Então e as turmas com vários anos de escolaridade, vários níveis de aprendizagem, numa só sala e com um só professor apenas? Ninguém fez ver ao Sr. Presidente da República esta calamitosa degenerescência (des)educacional que tem constituído uma terrível chaga pestilenta a gangrenar todo o sistema educativo deste país. E porquê? Esta situação interessa a quem.? É que, quer o abandono escolar, quer o insucesso mais renitente dos nossos alunos radica aqui mesmo. Tudo o resto são cantigas, meus senhores.


     Assim não há motivação que resista. A constatação diária da forma como os alunos acabam por demonstrar aquilo que são as suas reais necessidades de apoio, de acompanhamento directo, individualizado e sistemático esbarra, quer queiramos quer não, quer tenhamos milhares de cursos e formação exaustiva quer não, precisamente aqui, neste contexto obscuro, tenebroso e delirante, que corrói a mais sã e empenhada das iniciativas curriculares, a mais elaborada e cirúrgica das estratégias, o mais frenético e automatizado dos malabarismos metodológicos. Não brinquem connosco. A educação tem de ser um assunto a tratar com sensatez, capacidade de análise e vontade de agir; não com atitudes meramente reactivas, ocasionais e branqueadoras da nossa consciência colectiva. Voltaremos ao assunto.

NOTA: Artigo, de 2004, reeditado agora. Tudo tem piorado!!!

6 comentários:

  1. Sem dúvida que o ensino não está fácil. Professores em luta - em Portugal - e alunos que respeito por esses é cada vez menor. Difícil, atualmente, leccionar.

    Cumprimentos.

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  2. E o tempo a correr, Amigo… Não sei de quem é a culpa, mas a ideia que tenho é que há pouca coisa a motivar os alunos. Os políticos não tomam medidas capazes de modificar este estado de coisas. Os professores gastam as suas energias numa luta constante e sem tréguas… O Presidente Jorge Sampaio quis fazer alguma coisa, mas quem esteve interessado em ajudá-lo? Pertinente esta sua crónica…
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  3. Um problema difícil de resolução e sempre adiado, estou de acordo com o meu amigo "A educação tem de ser um assunto a tratar com sensatez, capacidade de análise e vontade de agir", aproveito para desejar uma boa semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

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  4. Caro Humberto, posso entender toda sua angústia com a decadência do ensino e os desmandos de quem não tem o minimo de ciência, para ocupar os cargos governamentais que gerem a educação. Somos aqui no Brasil vitimas desde processo, que ano apos ano gradativamente sucateou o ensino fundamental e como num processo dominó atingiu as faculdades e universidades do país. E no primário a coisa ainda é mais pirada amigo e em se tratando de um país onde a miséria reina, pode-se imaginar como está a educação na área rural, nos interiores miseráveis do país. Mas lá ainda existem guerreiras professoras lutando contra o tempo. Hoje não creio mais em solução e os ministros que aqui pousam, são piores cada vez mais. Podemos dizer que a educação está num buraco sem fundo.
    Muito bom seu texto e creio que pode mesmo ser muito mais explorado com toda sua experiencia e conhecimento de dentro da educação.
    Meu abraço

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  5. Boa noite de paz, Humberto!
    Sou professora aposentada e fico perplexa como anda caótico o ensino por inúmeras razões, mas eu, particularmente, creio que o pior seja a falta de vocação. A motivação fica opaca por descrédito em vários níveis, entretanto, vamos ganhando ânimo e generosidade por estarmos na carreira que optamos.
    Há tempos não tivemos crédito e a educação que deveria ser um dos pilares da sociedade é deixada de lado, sem compaixão.
    Que Deus motive o corpo docente e discente mas também a consciência das autoridades que podem melhorar condições para todos os lados!
    Amo minha vocação e profissão ainda que já aposentada.
    Tenha dias felizes e abençoados por Deus!
    Abraços fraternos de paz e bem

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  6. Olá
    E pensar que esta situação já era vivida há, pelo menos, 64 anos!
    Eu nem imaginava que ainda se leccionavam alunos de vários anos na mesma sala!!!
    Mau para os docentes e péssimo para os discentes!
    Até onde iremos?!
    Um beijinho
    Mana

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