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Que
deseja?!, interrogou-nos, há dias, no interior de uma
mercearia tradicional da cidade do Porto, o seu proprietário,
quando aí nos dirigimos para comprar amêndoas, nozes e
pinhões. De facto, são abomináveis as grandes
superfícies comerciais. São frias, humanamente falando;
amplas e dispersivas; induzem a compra supérflua, etc., etc.,
etc..
Em
que lhe posso ser útil...?!, perguntavam-nos, há
décadas, nas lojas da baixa portuense. Ah!, o tal merceeiro,
ao fazer o troco, subtraiu-nos, ilicitamente: fomos-lhe nós
mais úteis, afinal, na satisfação dos seus
desejos inconfessados.
Hoje
em dia, ouvimos, nas lojas, amiúde: posso ajudar?!... E nos
restaurantes, antes da travessa ser colocada na mesa, por exemplo:
– Posso?!
– Posso?!
Pois
é! Antes verificava-se uma certa cortesia estaladiça
(subtractiva); já hoje regista-se uma boçalidade rude,
massificada, que vai da ajuda virtual ao acalentado “poder” (obrigatório)... grosso, descabelado,
embora mornamente pragmático. E não é que as
grandes superfícies estão já a adoptar o
fino-trato, sem derivas nas pesagens nem no acerto de contas? E aceitam devoluções! Sem dramas! E restituem pagamentos! Calculem!... Depois
não se queixem! Tudo depende do que, efectivamente, se deseja.
Afloremos,
agora, o conceito de DE-SE-JO. Este, psicologicamente, remete-nos
para a nossa ancestral e primitiva ânsia temporária, a
que o desejo sexual dá forma e conteúdo, antes que o
orgasmo o resolva. Ao longo do continuum
desse desejo – que é motor de todos os outros –, “o
mundo pula e avança” - António Gedeão
(1906-1997),
sempre que o mesmo se protagoniza e contextualiza salutar e
civilizadamente. Caso contrário, os indivíduos podem
enfermar de frigidez ou impotência (anedonia), ou de satiríase
(os homens) ou de ninfomania (as mulheres).
Filosoficamente,
Platão
(428-348
a. C.)
distinguia entre desejo e razão (embora em termos complexos),
enquanto Aristóteles
(384-322
a. C.)
considerava
o desejo como uma forma de apetite, nem sempre irracional, já
que daria cor, também, a uma deliberação
consciente. Modernamente, Sartre
(1905-1980)
considerou o desejo impossível de satisfazer, por aspirar a
possuir a transcendência do outro sem ignorar o seu corpo,
reduzindo-o à sua simples facticiedade, sem necessidade e sem
razão, incorrendo na artificialidade. Na contemporaneidade, o
desejo é cego, também por ser vampiresco, capitalista e selvagem,
orientando-se no sentido solidamente material do sangue, do suor e
das lágrimas das maiorias mais vulneráveis e
fragilizadas do planeta... E vai fazendo história!
me encanta como escribes como comentas eres increible abrazos desde Miami
ResponderEliminarBom fim de noite amigo.
ResponderEliminarHoje tem escrito por lá inspirado por aqui.
Que bela relação reflexão sobre o expressar e proceder-se.
E são os desejos os motores de toda esta coisa que assistimo amigo.
Muito bom Humberto.
Abraços
Humberto,te vi no Toninho e vim te ver.Gostei muito da bela leitura ofertada aqui! abraços, chica
ResponderEliminarMuito bom. Adorei lê-lo:))
ResponderEliminarHoje:- Caminhos da ilusão...
Bjos
Votos de uma óptima Quarta - Feira.
Um texto muito bom e reflexivo, Humberto. Vi no Toninho a referência ao seu blog e vim conhecer de perto...
ResponderEliminarVocê escreve com conteúdo de qualidade, parabéns.
Abç
Ah... As tabernas do Porto...
ResponderEliminarUmas de meus ancestrais
Que querendo ganhar mais
Vieram o Brasil por conforto.
O clã maior já está morto
Mas as memórias dos pais
São minhas e imortais
"Me guiam" por rumo torto.
Meu prezado amigo Humberto,
Tu me pões no rumo certo
Trazendo a bela lembrança
Da vendinha onde desperto
Com o avô ali por perto
Que uma balinha me alcança!
Recordar é viver... Belíssima crônica, Humberto! Parabéns! Abraço fraterno! Laerte.
Errata: Onde lê-se vieram o Brasil, leia-se viram o Brasil....
ResponderEliminarMeu caro amigo, mas que belo entrelaçar de memórias!
EliminarUm abraço.
É bom ver como encadeia as ideias de forma a tornar a sua leitura tão interessante. Como interessante é analisar o desejo ao longo dos tempos tanto psicológica como materialmente…
ResponderEliminarUma boa semana, meu Amigo.
Um beijo.
Olá, Zé
ResponderEliminarEsta é já a 3ª vez que tento colocar aqui um comentário!
Achei interessante esta abordagem ao DESEJO: uma dicotomia ímpar!
Ainda bem que, agora, podemos estar tranquilos nas grandes superfícies:além de um atendimento personalizado, não somos enganados.
Texto que li com imenso gosto.
Um beijinho
Mana
Verdade! O comércio tradicional não pode ser trauliteiro nem chico-esperto!
ResponderEliminarBeijinho.