segunda-feira, 4 de março de 2019

CONCRETO VERSUS ABSTRACTO


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     Ora, cá estamos nós na presença de dois significantes gráficos que se contradizem, conceptualmente falando, sendo, por isso mesmo, antagónicos. É curioso, quando se repara na etimologia latina da palavra abstracto (abs-traído) e se constata que a mesma nos transmite a noção de separação. Já a palavra concreto aponta para algo uno e singular, materialmente objectivo, leia-se agregado. Estamos, portanto, na presença de dois antónimos.

    Aduzindo ainda mais similitudes, só somos levados a pensar em algo como sendo concreto quando este se associa a uma alusão feita a qualquer coisa particular, individual, concebida no seu todo uno e indivisível; já o abstracto clama por uma identidade generalizada, de cariz universal. Mais: em termos empíricos, o concreto é sensitivo, palpável, físico, logo real, muito embora, filosoficamente, possa haver quem considere as qualidades sensíveis do concreto, simultaneamente concretas e universais. Neste particular, então, o concreto pode ser decomposto...

    Se se trata, por outro lado, de um concretismo associado ou atribuído a alguém – a um aspecto particular (real) dessa pessoa ou sujeito –, ou se se fala da pessoa em si ou de uma sua qualidade, no primeiro exemplo estamos perante uma conceptualização, e no segundo caso encontramo-nos face a uma definição adjectivada. Complexo? Concordamos! Contudo, toda esta necessidade de reflectir filosófica e arduamente sobre o que representa, afinal, o concreto, tem constituído uma preocupação recorrente da filosofia, não sendo mais do que uma maneira de equilibrar a supremacia de que sempre foi alvo o conceito ligado ao abstracto.


    E terminamos já, já, com uma pequena ironia – que segue no fim deste artigo –, se quiserem, de carácter filosófico: tendo em conta o verdadeiro, prolongado e incansável desastre da economia portuguesa, a braços com a 3.ª mais aniquiladora corrupção e respectivos efeitos verificados no âmbito europeu, o povo (contribuintes) tem sido chamado a tapar os buracos sem fundo das falências generalizadas [(bancos, grandes empresas) biliões e mais biliões]. Sendo assim, concreto é o capital que os portugueses depositam nos bancos; abstracto é o dinheiro pelo qual não conseguem responder, depois, os badalados e bem pagos gestores de topo da banca nacional.

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