sábado, 30 de março de 2019

QUEM DÁ O PÃO...


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    É este um ditado popular... mais um, repleto de significado, de sensata sabedoria, de profundo alcance sociocultural. Pois é, “quem dá o pão, dá a educação”; tão simples como isso, que o mesmo vale por dizer que os pais sempre se preocuparam com o sustento dos filhos... outra coisa não seria de esperar; mas também, e por isso mesmo, porque dos seus filhos se trata, compete-lhes a eles, desde o berço, a responsabilidade da sua educação, a todos os níveis, ou seja, quer no plano moral, quer no cívico e no social, bem como no campo das aprendizagens de carácter geral. Neste particular, a acção dos progenitores deve assumir um cariz acentuadamente pendular, para que a criança possa conseguir interiorizar comportamentos equilibrados, no que toca às atitudes a tomar, não só no dia-a-dia da sua vida infantil, com os pais e os irmãos (se os houver), em casa, mas também junto dos companheiros do infantário, a partir dos três anos de idade e, posteriormente, aos sete anos, no âmbito da turma ou turmas do 1.º Ciclo do Ensino Básico, e por aí fora.

     Educação Informal, é assim que se chama àquilo que os paizinhos vão construindo (ou destruindo, que também os há neste nosso terceiro mundinho de arrepiar), visando a estruturação e definição das personalidades em embrião dos queridos rebentos, tantas vezes numa óptica meramente neurosada, “porque ele é mesmo a carinha do pai”, ou então, “porque eu na idade dele era mesmo só de futebol que gostava”, ou ainda, “eu não consegui chegar a economista, mas o meu filho há-de sê-lo nem que chovam picaretas”. Enfim, pobres criancinhas, que tanto têm de aturar, para já não falar nas guerrinhas de, literalmente, trazer por casa, depois de apagada a chama da paixão que alimentava a instituição casamento.

     Neste particular, usam-se as crianças como moeda de troca, para chantagens mesquinhas, para atingir o outro, que não nós, porque os defeitos não se enquadram na nossa maneira de ser, toda ela virtude e padrão a seguir. É desta maneira que as coisas se assumem de forma invertida, ou seja ao invés do próprio refrão popular: exige-se, a coberto da própria lei, a “dádiva” da pensão de alimentos, mas, apenas isso, porque os cuidados e a guarda ficam apenas para o outro progenitor, isto é, nestes casos concretos, balizados pelo decreto-lei n.º 272/2001 de 13 de Outubro, quem dá o pão, fá-lo, porque a isso é obrigado, mas não lhe é permitido dar a educação, ainda que a regulação do poder paternal o possa incluir nesse âmbito... meramente formal, dizemos nós. Enfim, insuficiências e arestas, mais uma vez, típicas da legislação, sempre incapaz de conseguir configurar os problemáticos meandros dos multifacetados aspectos da realidade.

     Nos dias de hoje, tendo em conta a brutal proliferação das famílias separadas, desestruturadas, monoparentais, a braços com problemas sociais, psicológicos e financeiros, etc., etc., etc., deparamo-nos com cada vez mais crianças com pão e sem educação e, muito pior do que isso, a milhares e milhares de alunos sem ambas as coisas, ou seja sem educação e também sem pão. Não sabemos para onde se caminha, mas a continuar assim, quem é que irá responder pelo futuro do próprio futuro que, necessariamente, se deveria alicerçar no presente com quem deveria dizer e saber estar presente?


5 comentários:

  1. Bom dia. Adorei o texto. Parabéns :))

    Bjos
    Óptimo Domingo

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  2. Uma realidade nua e crua e não há legislação que resolva este problema, porque é um problema educacional de direito e deveres dos pais.
    Gostei da análise que infelizmente é a realidade.
    Beijinho e feliz domingo.

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  3. Infelizmente é assim que procedem grande parte das famílias que se desestruturam em função do relacionamento dos pais.
    Homens e mulheres, cada um carregando sua fatia de culpa, cooperam para que a separação se torne um inferno. Os filhos, que nada têm a ver com os desencantos e maluquices dos pais, são as primeiras vítimas da história. Esses inocentes passam a viver num burburinho de hipocrisia e rancor. As famílias, paterna e materna, antes com todo o amor para dar, também passam a medir forças. As mulheres têm por norma se apoderarem dos filhos como se fossem só delas. Mas o que me assombra é a rapidez com que o ser humano passa do amor ao ódio.
    Gostei imenso do que li aqui.
    Beijo, uma ótima semana pra você!

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    1. Afinal, Tais Luso, o ódio (Neikos) e o amor (Philia) são as faces de uma mesma moeda - a do afecto que, como escreveu Alfred Adler (1870-1937), tão depressa ostenta numa das faces a aversão, como exibe na outra a atracção.
      Beijo.
      Uma semana feliz.

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  4. Um texto muito pertinente, meu Amigo. Infelizmente há crianças sem pão e sem educação. Infelizmente usam-se as crianças como moeda de troca para chantagens mesquinhas. E, nas famílias desestruturadas cada vez se vê mais só um dos progenitores ficar com toda a responsabilidade das crianças… É tudo muito complexo, amigo.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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