segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Trabalhos publicados




Ensaio sinóptico, da minha autoria, sobre a magia dos contos infantis... Pag. 116 a 121.

http://www.wook.pt/ficha/pedagogias-do-imaginario/a/id/40924

(...) Pomba e leoa leoa ou pomba/quero que permanceças poema/por seres luz e sangue e dor/um suave vento no meu rosto/o selvagem cheiro do amor

in O Rumo e o Sonho - Fólio Edições - 2001

http://www.wook.pt/authors/detail/id/30144


Uma proposta (em co-autoria) de Desenvolvimento Curricular para o 1.º Ciclo do Ensino Básico.

http://www.goodreads.com/book/show/12303571-a-constru-o-do-curr-culo-na-escola

Repto Provocatório - Contracapa do romance histórico "O CHÃO DOS SENTIDOS" (no prelo)




 “Por cima, a criada tinha colocado um avental de linho branco, irrepreensivelmente brunido, que emprestava ao volume doce dos seus seios virgens, uma indescritível beleza e frescura; o balanço das suas ancas redondas, quebradas e soltas, a projecção das suas nádegas, sensualmente cheias, vigorosas e firmes, onde brincava saltitante e atrevido o laço do avental, constituiam para o Padre Adolfo alguns dos traços perceptíveis da mulher visível. Perante tudo isto, o sacerdote entregava-se à aparente leitura da revista “O Século Ilustrado”, em frente à lareira, onde um monte de achas de carvalho e azinho alimentava o crepitar das labaredas doiradas, lumimosas e quentes. O pároco sentiu que começava a transpirar: o cheiro de Arnalda envolveu-o completamente, e era agora o corpo daquela mulher que irrompia das chamas, com o seu cabelo de fogo a queimar-lhe o rosto de homem solitário, a abrasar-lhe o peito onde cavalgava um coração apaixonado... E, tal como a fogueira que ardia à sua frente, se manteria acesa enquanto durassem as brasas, Adolfo continuaria a sentir o avassalador afrontamento, provocado pela presença da fêmea, cuja chama inapelável lhe torturava a mente e desfeiteava o corpo, num processo lento e gradativo que o mortificava e consumia, de forma inglória, até que voltasse a ser chão. Quando a mulher passou de novo perto dele, Adolfo levantou-se num salto, agarrou o braço da criada e falou perturbado:”



Manuel Bragança dos Santos
O CHÃO DOS SENTIDOS 

Prémio Literário






                                                       1991 - Porto (Clube Sportivo Nun, Álvares)

                                                                               II Jogo Florais

                                                              3.º Prémio - Conto - "Chá de Estio"                


domingo, 24 de fevereiro de 2013

AUTOFAGIA ECONÓMICA E MENTAL



            É já impressionante o rol de queixas que os cidadãos portugueses vão tendo dos governantes, dos partidos, e das instituições criadas por uns e por outros, por se permitirem agir, nem sempre através de processos suficientemente transparentes, até porque, quando se trata de auditar todos eles, raras são as vezes em que não vêm a lume um ou outro quid pro quo resultante de erros de avaliação das múltiplas situações em presença (a imperfeição é a essência do ser humano), a exigir, portanto e pelo contrário, a preocupação de comportamentos e protagonismos eivados de bom senso e pragmatismo actuante.
            Mas o mesmo se passa no âmbito da União Europeia (zona Euro ou a 27), depois do eixo franco-alemão ter chegado à conclusão que a bacia carbonífera do Rühr, deixaria de ser pomo de discórdia (tinham motivado as 1.ª e 2.ª Grandes Guerras Mundiais), para, em 1950, passar a ser ponto de partida de interesses comuns – “mudam-se os tempos... (...)” Assim, tanto a França como a Alemanha, passaram a gerir em conjunto o mercado do carvão e do aço através de uma Alta Autoridade. Foi desta maneira que, um ano depois, surgiu a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), que vigoraria a partir de 1952, instituída pelo Tratado de Paris. E por aí fora, invocando sempre acordos e implementando tratados que, a pretexto do bem da união, mais não fazem do que ir debilitando, paulatinamente, os países do Sul da Europa em proveito de interesses hegemónicos de domínio inconcebível. Logo, mais lamúrias, decepções, choro e ranger de dentes.
            E podia falar ainda de outros países, por esse mundo fora, mas vou apenas tocar ao de leve a tese que hoje me traz aqui e concluir rapidamente sobre as disfunções comportamentais dos cidadãos nacionais.
            Face à complexidade factual mal percepcionada de um quotidiano redutor, anacrónico e demencial, uma vez que vai sendo urdido pela incompetente mediocridade dos “heróis” nacionais ungidos pelo voto popular, o povo, incrédulo, mas sempre reincidente, já só sabe chorar as suas mágoas, convencido de que a responsabilidade é apenas dos outros, numa demonstração aflitiva de sintomas neuróticos introjectados, tal como nos descreve Sándor Ferenczi(1873-1937) - contemporâneo e amigo de Freud -, quando adianta que a histeria colectiva força a líbido a desinvestir o objecto, por desprazer, numa transferência incompleta, tendente a diluir as responsabilidades nos outros, enfim.
            No entanto, como todos fazemos exactamento o mesmo, levados por um atavismo arreigado de larguíssimas dezenas de anos... centenas, se dermos ouvidos a Roberto de Mattei, quando este refere os tratados de Westfalia de 1648, enquanto vírus que irá minar a coesão Europeia por rejeição a qualquer referência transcendental. Bom, de volta a Portugal, e, como todos fazemos exactamente o mesmo, repito, recordo o nosso filósofo José Gil: “o queixume delirante constitui também um modo de justificar todo o pragmatismo de sobrevivência, o não-cumprimento da lei, a irresponsabilidade, o “desenrasque” , a esperteza na acção” – saloia, tal como fazem os governos, onde se vão encontrando, cada vez mais, autênticos sucedâneos do chico-espertismo, valorizado desde há muito pelo povo que somos, num processo estranho mas claro e simultâneo de autocomiseração autofágica.
            Por último, e sem pretender particularizar por demais o fenómeno, eis-nos chegados a um beco sem saída, sem ter por onde nem para onde ir, como se a identidade nacional não fosse mais do que o circo estático de uma praia onde, com o tempo e a crise global aliada à inépcia lusitana, o povo e as instituições, quais construções de areia, estão já condenados a se esboroarem sob o efeito inelutável dos ventos de uma psicose fatal.


Por: Humberto Maranduva (Pseudónimo)

CRIATIVIDADE LITERÁRIA



      Numa época em que cada vez mais, a vida pessoal, comunitária e social tende a ser vista através do filtro da psicologia, da sociologia e da pedagogia, da História e da cultura, fundamentalmente, para além de outro tipo de metodologias processuais com carácter mais sofisticadamente tecnico-analítico, que não vem agora ao caso referir, também a criatividade artística, mormente a literária, é passível de uma leitura, melhor dizendo, de uma abordagem, de uma apreciação de feição, a um tempo crítica e analítica, a partir da sua mensagem discursiva, metalinguística (formal e substancial).
           
      Alguém terá dito que nenhum escritor escreve mais do que um só livro; o mesmo vale por dizer, que todos os outros não passam de novas versões do primeiro, ou seja, em todos eles se entrecruzam sempre a mesma temática e idêntica motivação que redundam, as mais das vezes, de forma progressiva ou regressiva, na eclosão do inconsciente a caminho do sentido da narrativa (forma progressiva) ou inversamente (forma regressiva).
           
      Evidentemente que me refiro aos ensinamentos de Freud e Jacques Lacan (o imaginário tece-se pelas palavras, mas radica no inconsciente), e, a este respeito, recordo que quanto à crítica psicanalítica, passível de ser gerada a partir da leitura da mensagem literária, ocorre um processo de captação similar ao que se verifica no âmbito da interpretação dos sonhos, que, através da aparente incongruência discursiva onírica, revela impulsos inconscientes camuflados: assim, no texto literário, “os símbolos ou as metáforas, as imagens ou os conflitos dramáticos surgem sobretudo como metamorfoses mais ou menos sofisticadas de sentidos que há que atingir”, conforme (Reis, 1981: 83). E, para que não se pense que as coisas são assim tão lineares e primárias, acrescenta, citando Paul Ricoeur: “(...) a obra de arte não é uma simples projecção de conflitos do artista, mas um esboço das suas soluções (...)” (Reis, 1981: 84).
           
      Se, para Freud, a arte se situa algures entre o princípio da realidade, que tolhe os nossos desejos, e o princípio do prazer, nem sempre tangível, porque sujeito à censura do social, na sequência do devir da própria civilização, a criação artística surge então como contraponto da neurose, sendo o texto literário o terreno propício à sublimação de traumas, mais do que ao espraiar do talento estético do autor.
           
      Já Jung vê o texto como impregnado pelos arquétipos do inconsciente colectivo, onde a imagem primordial da Mãe vai guiando a pena do artista; deste modo, não existiria liberdade criadora, dado que a criatividade surgiria de forma determinada, por via da estrutura hereditária do psíquico, desde os primórdios mais remotos, capaz de fazer despoletar reacções e condutas, indirectamente, por meio de símbolos.
           
      Mas, voltando a Freud, poder-se-á dizer que, no âmbito da sublimação, a criação literária, enquanto dissimulação, é metamorfoseada projectivamente através de imagens, símbolos e metáforas que, de outra maneira, permaneceriam no subconsciente, não se deixando, portanto, captar à flor do texto.
           
      Como se vê, a diferença entre Freud e Jung, reside no facto do primeiro considerar a criatividade como partindo do indivíduo e das suas problemáticas (recalcamentos), isoladamente, e, Jung ser da opinião que essa mesma criatividade radica no colectivo (inconsciente) – arquétipos.
           
      Segundo Charles Mauron, citado por Reis, e por aqui termino, a psicocrítica releva os aspectos estéticos da obra literária; este autor, nessa medida, atribui, na sua obra, grande destaque à metáfora que, de acordo com Reis, “constitui uma das figuras de estilo que, de modo flagrante, apela para a substituição sémica abertamente inovadora, para o desvelar de facetas incógnitas do real, para a consumação do processo de dissimulação que a expressão artística interpreta”. Mauron aponta ainda o “mito pessoal” como sendo a noção fundamental da psicocrítica; deste modo, “abre caminho para a desvalorização do biografismo excessivo (...) e para a denúncia e superação da rigidez da análise temática, obsessivamente preocupada com a ocorrência de episódios infantis”.

Bibliografia: DOUCET, Friedrich (1975): A Psicanálise – Freud, Adler, Jung. Lisboa, Unibolso
                      REIS, Carlos (1981): Técnicas de Análise Textual. Coimbra, Livraria Almedina

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