sábado, 29 de março de 2014

A NON-REAL REALITY

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O que se passa nos nossos dias, com a cultura de uma lógica mediática non-stop, principalmente na televisão e na rádio, tem acendido a ideia de que o jornalismo merece o seu espaço próprio, não sendo aconselhável, portanto, confundir comunicação com informação. Relativamente a esta dicotomia, e tendo em conta a destrinça para a qual aponta Watzlawick, citado por Mesquita (2004: 85), a comunicação interpessoal desdobra-se em relação-comunicação e em conteúdo-informação. Por seu lado, Bougnoux, também citado por Mesquita (2004: 85), chama a atenção para o facto deste tipo de relação-comunicação, tornar mais rica a mensagem informativa, mas nunca cedendo à tentação de um tipo de envolvimento que faça perigar a ética profissional e a deontologia jornalística, o que levaria sempre à mistificação da mais correcta leitura do real, cujo pano de fundo se desdobra ao olhar de quem o observa de forma atenta, para poder informar devidamente.
Mas, voltando à ideia geral que titula esta parte do presente trabalho – A Non-Real Reality, e depois de ter lido (Eduardo Paz Barroso, 2008: 195), no texto “A opinião publicada existe”, algo mais se me oferece dizer, nomeadamente, para além do título da obra - “A Locomotiva dos Sonhos”, que encerra, este, uma grande força, simbolicamente expressiva e conceptualmente pujante, diria mesmo, abrangentemente poética. O autor leva-nos, através de uma escrita desassombrada, a concluir que existe apenas a opinião publicada, em detrimento da opinião pública, em nome da cada vez maior influência, exercida sobre a vida social, pelos grandes meios de comunicação, que, são afinal respeitados, porque se movimentam nos meandros do poder, ao que parece, com grande àvontade, iludindo e substituindo a opinião pública, apresentando manifestações individuais e avulsas, enquanto reflexo de uma moral dominante legitimada por sentimentos colectivos, adulterando, afinal, o real tal e qual o mesmo se apresenta.
Fica, nesta medida, comprometido o discurso jornalístico, enquanto “mediação desinteressada do real” e, digo eu, referindo o atrás citado Bougnoux, não se verifica o devido afastamento e a cuidada análise que deve acautelar a visão neutral dos acontecimentos. E Paz Barroso (2008: 196) prossegue, afirmando que assim “os interesses do público se confundem com o interesse público”, uma vez que, o real não existe nem é reconhecido, se não for mediatizado.
Fazendo alusão ao sociólogo francês Bourdieu e a um artigo seu publicado na revista Les Temps Modernes, em Janeiro de 1973, Paz Barroso (2008: 196, 197) refere “a substituição no plano simbólico, da opinião pública por outras formas de opinião”. Fala depois na utilização jornalística de sondagens que partem do pressuposto de que existe consenso, a partir da questão colocada, como se não existissem outro tipo de problemáticas de real importância, para além daquela. É que, quanto maior for a desagregação social das massas, resultante da ausência de coesão por instinto, maior se torna a necessidade de serem e de se sentirem estimuladas por “interesses e motivações publicitárias”.
E recordo aqui a mobilização geral, extensiva às grandes massas populares, operada pela comunicação social no dia 25 de Abril de 1974 e seguintes e, do mesmo modo, a participação massiva do povo português, do Minho ao Algarve e Ilhas, numa mobilização do género, eivada de emocionalidade, aquando dos acontecimentos trágicos, vividos em Timor Leste, e que viriam a abrir caminho à Liberdade e à Independência daquela mortificada ilha. Como escreveu Carlos T. sobre Timor, para Rui Veloso musicar, “longe da vista, perto do coração”; no caso da Revolução dos Cravos, foi à vista de todos, mesmo no coração, apetece-me dizer. Mutatis mutandis, as grandes causas a gerar grandes consensos, a reforçar a cidadania, a instaurar o culto da liberdade, ainda assim, num clima mediatizado de coesão emocionalmente estimulada, mas, em ambos os casos, num cadinho social onde passa a fervilhar, por ignição, a coesão por instinto.
Estes exemplos, no entanto, constituem uma espécie de contraponto à linha de raciocínio seguida por Paz Barroso, quando o autor refere a demagogia dos media na busca de opiniões isoladas que o público confere, e que são aproveitadas apenas por aqueles para efeitos meramente decorativos, sem carácter social nem cívico, mas antes caricatural, como se de um reality show se tratasse.
Seguidamente, citando Eduardo Lourenço, o autor de A Locomotiva dos Sonhos, a propósito da forma como os “media convertidos em opinião pública”, se servem dos públicos, gerando audiências, recorda o já velhinho (Grécia antiga) ingrediente da demagogia, cujo sucesso se explica pela extraordinária convergência do interlocutor, ou seja, dito por outras palavras, as massas colocam-se, de forma decidida e definitiva, a jeito para que tal se concretize. Desta maneira “o rebanho das audiências”, vai ruminando no descalabro do entretenimento, que ele próprio busca, na desconstrução da democracia, enquanto sistema que vai conferindo legitimidade à forma como a opinião pública vai perdendo vitalidade e acção.
Esta quebra de posição, este esmorecimento, por parte da opinião pública, desvirtua a própria democracia, como referi atrás, fomentando, ao mesmo tempo, a assunção de novas formas de poder exercido sobre as massas, nomeadamente pela televisão, na senda da qual segue a imprensa escrita, como é o exemplo da pag. 30, do Jornal de Notícias, de 11 de Dezembro de 2010, num enquadramento de adormecimento generalizado que debilita a capacidade de reacção crítica face a esta realidade desfocada, porque mais não é do que uma non-real reality.
A este respeito foi paradigmático o caso da transmissão televisiva do programa Big Brother (ano 2000), e da Secret Story-Casa dos Segredos (2010), denominado este último, pela Contra-Informação (RTP1), pelo curioso título de Casa dos Secretos de Porco Preto... se calhar, enquanto divertida alusão a uma espécie de delicioso, mas indigesto pitéu de enfarta brutos, para utilizar aqui uma linguagem mais ao gosto das massas, porque a elas se lhes dirige.
A propósito do programa iniciado no ano 2000 – Big Brother, Paz Barroso recorda a visão de Pacheco Pereira, quando este evoca o célebre livro de George Orwell, intitulado 1984, e rotula o paralelismo constatado entre ambos de “metáfora do poder”. Fica a perder a democracia, por via da fragilidade dos media, em nome da ditadura do lucro.
Importa agora deixar claro a razão pela qual me inclinei a designar esta parte do trabalho por non-real reality, quando por todos é conhecida por “novela da vida real”. É sabido que uma novela é um enredo curto e simples, mais narrativo que descritivo, repleto de episódios dramáticos, mexericos e intrigas, que surge da cabeça e da mão do seu autor. Já a dita “novela da vida real” tem a sua origem a partir do protagonismo e interacção dos vários participantes, previamente encarcerados numa casa, ao longo de pouco mais de três meses, permanentemente observados pelas câmaras televisivas, que a “produção” comanda a seu bel-prazer, numa demonstração de poder supremo, e, como nota Pacheco Pereira, este poder controla também as audiências, reféns da casa, porque, como adianta Paz Barroso (2008: 201), “o sujeito já não controla a sua própria diversão”.
Voltando ao conceito non-real reality, direi que, tendo em conta a situação circunstancial de lugar onde se desenrola a acção, e à luz das mais elementares normas da psicologia, a realidade com a qual nos confrontamos assume uma dimensão manifestamente não-real, em virtude de estarmos perante um contexto forjado e forçado, logo absolutamente artificial, o que lhe confere um carácter, muito mais embotado do que airoso, muito mais amorfo do que enérgico, ou seja, muito mais vegetativo do que vivencial. Numa palavra, doentio. Estamos perante a negação da própria realidade, que os media artificializam, através da opinião publicada, para a qual nos adverte Paz Barroso (2008:202), concluindo provisoriamente que a mesma “existe e faz escola, mesmo que não tenha muitos discípulos”.

INÊS SANTOS


SONHO DESFEITO

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Passei a vida toda à tua espera
passei eu tantos anos de agonia
não quis soltar ao vento essa quimera
único sol de vida tão sombria

Onde estavas quando por ti chamei
onde foste quando por ti demente
inerte moribundo já nem sei
só senti rebentar meu peito ardente

Ao sonhar ver teu corpo imaculado
envolver-me com graça e sentimento
despertava mais tarde torturado
ao carpir esse triste e vil tormento

Onde vais que não vês meu desalento
onde estás no momento em que te canto
são demais as nuvens no céu cinzento
oh como dói a chuva do meu pranto






sexta-feira, 28 de março de 2014

LEMBRANÇA

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Com que ternura recordo
o teu abraço sentido
com que amargura te bordo
a ouro no meu gemido

... Hoje não soube de ti
não senti a tua voz
tremi de frio e de medo
revi tempos em que nós
tu meu rio eu degredo
para podermos estar sós
inventámos uma ilha
onde o tempo foi parar
vivemos essa partilha
em busca do nosso espaço
amarrando num só laço
toda a imensidão do mar...

Com que saudades eu bordo
o teu afago divino
o meu tão sonhado hino
com que ternura recordo

1997 - Porto (Clube Sportivo Nun, Álvares)

VIII JOGOS FLORAIS

2.º Prémio - Poema Livre

quarta-feira, 26 de março de 2014

MENSAGEM

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De que serve uma mensagem
para mim que a escuto
não passa duma miragem
veste roxa do meu luto

De que serve uma viagem
se não te tenho eu aqui
só me resta então carpir
tanta dor alma vazia
faca no peito cravada 
à míngua de fantasia

De que serve esta passagem
antes quero ter-te a ti
ao teu trópico sorrir
meu sol nascente magia
prata luar madrugada
quando sem sombras te vi
musa tágide porvir
inspiração sinfonia
no meu peito ancorada

De que serve uma mensagem
gravada na solidão
dá-me antes a tua imagem
já que tens meu coração

sábado, 22 de março de 2014

TERNURA

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Oh Deus que doce ventura
ter alguém a quem amar
meu amor com que ternura
sinto em mim o teu olhar

Meu amor com que ternura
afagaste a minha face
não há no céu mais doçura
nem ouro que a pagasse

Com que ternura recordo
o teu abraço sentido
com que amargura te bordo
a ouro no meu gemido

Minha tristeza é usura
por não te poder pagar
a inefável ternura
desse teu jeito de amar

Nossos gestos são candura
e só Deus lhes dará cor
nossas vidas são ternura
vem comigo meu amor

sexta-feira, 21 de março de 2014

POSSUIR-TE

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Perder-te por um só dia
quem diria quanto dói
houve tempos não sabia
quem alegria constrói
não pode viver sedento
de te prender na lembrança
mergulhado no tormento
de te sonhar na magia
sufocado no lamento
de beber na poesia
o diminuto sustento
que fere destrói e cansa...

Prender-te por um só dia
é viver numa só alma
dois corpos que na saudade
destoam da Natureza
é ter de Deus a verdade
das flores toda a beleza
conquistar o paraíso
ganhar coragem e viço
é no dia do Juízo
subir ao céu no sorriso
da tua boca de mel


quarta-feira, 19 de março de 2014

A PAIXÃO E RESSURREIÇÃO DO SOLDADO - NEWSLETTER


DOCE BRISA

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Neste leito sem barreiras
és corrente na paisagem
avança firme sentida
segue pura e selvagem
imagem prenhe de vida
sem castigos nem canseiras

Eu vou ficar ao abrigo
nos braços da natureza
sou lamento de erosão
caminho feito certeza
de que no teu coração
viajo sempre contigo

Passa o tempo à desfilada
nem sei se existe afinal
num tropel de arvoredo
bebo o verde no teu sal
acordando manhã cedo
ou será que é madrugada?!

Ainda assim quero-te vida
comungando a Liberdade
doce brisa vento forte
soprando a nossa verdade
eu teu Rumo tu meu Norte
sarando qualquer ferida

domingo, 16 de março de 2014

PERDIÇÃO

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Tu brilhas cintilante no meu canto
ofuscas qualquer oiro de repente
prendes-me mais que o mais belo poente
cegando o meu olhar de luz e pranto

Ecoa a tua voz que por encanto
me soa a água fresca da nascente
tão doce cristalina e corrente
que me faz entorpecer tanto tanto

Eu já nem sei quem sou por te não ter
eu só sou quem te traz no peito a arder
quem por ti brada plangente e rendido

À maré cheia do teu seio puro
clamor calor emanando do escuro
degredo onde me sinto perdido


sábado, 15 de março de 2014

PROJECÇÃO SUBLIMATÓRIA

O conceito psicanalítico de “PROJECÇÃO” pode revestir várias acepções. Para o que aqui e agora importa sublinhar, ater-nos-emos à sua perspectiva mais ampla, definida por Freud – a projecção psicológica funciona como um mecanismo de desfesa que consiste em atribuir aos outros as qualidades e defeitos que se recusam ou desconhecem em nós próprios.

Todos os actos, expressões ou respostas de um qualquer indivíduo, bem como os seus gestos, percepções, sentimentos, decisões, verbalizações ou actos meramente motores, estão sempre, de certa maneira, impregnados com a marca da sua personalidade. Sendo assim, a projecção assume o papel de um acto interior que nem sempre o seu autor consegue controlar conscientemente, até porque o eu de cada um integra outras componentes que não apenas o consciente.

Perante estímulos idênticos, os vários indivíduos dão respostas diferentes que dependem das suas necessidades, desejos, sentimentos, enfim, das suas personalidades globais, intrínsecas e profundas. Se solicitarmos a alguém uma qualquer tarefa, uma acção, como por exemplo desenhar, e se lhe fornecermos um papel e um lápis, o que daí advirá será o resultado da eclosão do inconsciente na rota progressiva do traço individualizado com carácter sublimatório.

Face a esta situação concretamente contextualizada, isto é, dispondo a criatura do mínimo de material para o efeito, mas perante uma elevada expectativa, desenvolver-se-á, neste enquadramento circunstâncial, o respectivo exercício reactivo atitudinal criativo do indivíduo; uma espécie de significação de um propósito que acaba por redundar naquilo que designamos por projecção sublimatória.

O sujeito (criança), porque delas se trata afinal, a partir do universo de uma folha de papel em branco, demandará nas profundezas da alma a inspiração criativa, que pode incluir, ou não, uma ou várias personagens, uma história ou a ausência dela, seja o que for, mas tal constituirá sempre a projecção da sua própria personalidade. Mas, reparem, este tipo de fenómeno não se compadece com espartilhos, condicionalismos, restrições ou directivas temáticas. Na aplicação da técnica projectiva sublimatória, sugere-se à criança que desenhe a seu bel-prazer, porque tem mesmo de ser assim. Importa que a LIBERDADE seja completa e total.

NOTA 1: Segundo Nicolas Georgieff, “Freud considera a projecção como uma forma de defesa contra determinadas representações do desejo inconsciente, em particular no paranóico, em que um sentimento amoroso inconsciente é invertido e depois projectado, aparecendo sob a forma de uma perseguição pelo outro”.

NOTA 2: Para Nietzche, o homem estético deveria dizer não ao feio, porque este era a negação da arte, desde que significasse depauperação, pobreza, impotência, etc... Só através da arte o ser poderia atingir a perfeição e orientar-se para a plenitude.


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sexta-feira, 14 de março de 2014

NÉCTAR

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Vou cantar-te vida fora
toda a minha adoração
és pôr-do-sol és aurora
luz divina inspiração

Como a frágil mariposa
com suas asas de cor
encontraste-me adejosa
sorriste-me a tua flor

Magia feitiço dor
esmeralda preciosa
és mais doce que a rosa
se te desfolhas amor

És folha és água és amor
janela verde também
ausência da minha dor
o mel que a abelha não tem





terça-feira, 11 de março de 2014

TU

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Pairas acima do céu
plasmada em minha mente
de cor esboço teus traços
preso que estou nos teus braços
sorvendo teu mosto quente

Nos teus olhos há um véu
de recatada doçura
assim que tangem os meus
subo direito aos céus
pois vi a cor da ternura

Esses teus cabelos negros
são cascatas de frescura
se tua seiva beber
em teus seios a morder
estremeço de loucura

Tua pele é um lençol
do mais suave cetim
é nela que me aconchego
deslizando com apego
no perfumado jardim

No teu ventre virginal
colo minha face ardente
são duas almas fundidas
de tudo o resto esquecidas
delírio deliquescente

AINDA O TEXTO NARRATIVO (II)

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Ainda sobre o texto narrativo, e, do mesmo modo, permanecendo no âmbito das personagens, notemos também a importância do seu retrato físico, psicológico, ou mesmo a relevância que pode assumir a fusão de ambos os aspectos; a notoriedade do papel desempenhado na acção, quer pelas personagens principais quer pelas personagens secundárias; a acção individual e colectiva dos intervenientes.



No que diz respeito ao espaço, este pode ter lugar no exterior e é designado de espaço aberto. Já no interior é denominado de espaço fechado. Em termos de espaço aberto não oferece dúvidas que o mesmo se possa enquadrar numa praia, numa serra, num jardim, num lago, num deserto, numa ilha, numa cidade, numa piscina, etc., etc.; já o espaço fechado pode situar-se numa sala, num hotel, num castelo, num quartel, numa escola, numa casa, etc., etc..



Acrescente-se que a localização da acção no espaço e no tempo é feita, por norma, na introdução do texto em questão.



E encerramos estas curtas reflexões sobre o texto narrativo, fazendo alusão ao tempo: este pode decorrer no passado, no presente e no futuro; de dia ou de noite, numa qualquer época ou estação do ano. Por sua vez, o dia pode precisar a madrugada, o amanhecer, o entardecer, a hora de uma qualquer refeição diurna, claro, para além de outras situações temporais a ele (dia) inerentes. A noite, como é óbvio, especifica o escurecer, a noite cerrada... Sobre o assunto, esperamos ter feito alguma luz!

domingo, 9 de março de 2014

O TEXTO NARRATIVO (I)




No seguimento das reflexões e considerações que temos vindo a expressar relativamente à importância de saber ler, e muito ler, e à necessidade de conhecer aquilo que é, afinal, um texto literário, vamos agora partilhar com o leitor alguma matéria mais sobre O TEXTO NARRATIVO.

O texto narrativo divide-se em três partes fundamentais, a saber A INTRODUÇÃO caracterizada pelos seus momentos de pausa ou interregnos, nos quais a acção se suspende, se catalisa – motivo pelo qual estas mesmas pausas se denominam de catálises; O DESENVOLVIMENTO, recheado de frases nucleares, constituindo os momentos de avanço do texto em si, e, por último, A CONCLUSÃO, que pode incluir também as já referidas frases nucleares, que alternam com as catálises de forma a imprimir mudanças de ritmo no texto.

Num texto narrativo importa ter em conta ainda as categorias da narrativa, tais como A ACÇÃO, AS PERSONAGENS, O ESPAÇO E O TEMPO. No que diz respeito às personagens e à sua caracterização, ela pode ser directa e/ou indirecta: no primeiro caso, se usa palavras da própria personagem, de outras personagens ou do autor; no segundo caso, se advém do entendimento deduzido pelo próprio leitor (teoria mental), com base nas atitudes ou acções vivenciadas pelas personagens.

Continuaremos a falar das personagens, num segundo escrito subordinado ao tema em epígrafe – O TEXTO NARRATIVO. Não deixem de ler, diariamente, parte de um bom livro, sempre em suporte de papel, por motivos óbvios. (CONTINUA)
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ENTREVISTA NA WORLD WIDE WEB



Dos vários recursos multimédia, a imagem de vídeo que veicula o entrevistado no momento da entrevista, a par das respostas às perguntas que lhe são colocadas, constitui uma oportunidade única cujo realismo e objectividade se situam para lá do simples relato dos factos, uma vez utilizada na web. 

Enquanto na televisão, o texto em voz-off sublinha a imagem, sem (concorrência semântica) nem significado quando separados, no caso da entrevista colocada na Web a imagem apresenta-se, por si só, como um texto autónomo, susceptível da legibilidade que reforça a compreensão do cibernauta, no momento da interpretação das palavras do entrevistado; desta maneira, o espectador-leitor é levado pela curiosidade à intertextualidade, movendo-se da árvore para a floresta. 

No caso concreto da entrevista em plataforma digital, não releva da mesma a redundância verificada num simples vídeo televisivo, isto porque quando aquela se integra na Web, assume de imediato “o carácter legitimador da informação veiculada”, embora se dilua a enventual emoção original. (CANAVILHAS 2001: 5)

A Web é muito mais do que um novo meio de distribuição de conteúdos jornalísticos, pelo que deve ser aproveitada no caso concreto da plataforma da entrevista, no âmbito de todas as suas reais potencialidades que, incluem, como já foi dito, as virtualidades multimédias da rede, a capacidade diversificada de leitura não linear ou multilinear, os reflexos da hipertextualidade de acordo com a disponibilidade interventiva (interactiva) dos cibernautas que, ao disporem simultaneamente do texto, do som e da imagem em movimento, têm uma palavra a dizer, no cômputo da fruição da informação disponível em várias direcções e sentidos. Segundo Canavilhas (2001: 2), o conceito introduzido por este conjunto de práticas, cujas possibilidades de partilha informativa se renovam e redimensionam a cada momento, deve ser designado de webjornalismo, mais do que jornalismo online. 

Depois de tudo quanto escrevi sobre as características da entrevista tradicional, quer a nível geral quer sob ponto de vista dos seus aspectos particulares, é curioso notar a forma como o simples facto de ter surgido um amplo leque de novas vias proporcionadas pelos múltiplos aspectos inerentes ao World Wide Web, caracterizado pela diversidade multimédia (som e imagem em movimento), pelo hipertexto e pela interactividade efectivamente participada e participante, a partir de todos os pontos da rede, tornam-se evidentes os ganhos de utilização da entrevista em plataformas digitais, porque fazem, não só o aproveitamento das potencialidades tecnológicas apontadas, mas conseguem, também, obter resultados no campo informativo, junto dos cibernautas leitores, constituindo um desafio para estes, sob o ponto de vista da interactividade que potencia o enriquecimento da informação geral partilhada, cuja actualização é constante e se processa à escala global.

INÊS SANTOS

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quarta-feira, 5 de março de 2014

ROSA

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Antes mesmo da Primavera
a rosa dá o mote
aliando a rija fragilidade
do caule de espinhos
ao grácil rubor de pétalas incendiadas

Acendem-se os botões dos seios
no olhar que busca o Sol
como se a Primavera fosse
o sonho que volta
no verde vivo das folhas

Gira febril a seiva
queimando a tua pele e a minha
num suplício de espanto
que o teu perfume embriaga

Volta minha rosa ao teu jardim
e dá-me de novo
dos beijos que me ensinaste
o sabor da terra do sol e do mar




segunda-feira, 3 de março de 2014

FESTA DO AMOR

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Conseguiste inaugurar em mim
a celebração dos sentidos

Sob o sol quente da pele
na revelação dos lábios e dos seios
agitam-se os corações
num cortejo de carícias

Na euforia da festa
no auge da romaria
brilham luzes de mil cores
soam rufos de tambores

Na loucura travessa dos olhares
que fortalece a coragem de remar
agarro as tuas coxas delirante
e navego o barco do teu corpo
na enseada humedecida dos juncais

A festa somos nós
no foguete que sobe aos céus veemente

Enquanto comemoras amplexos
a Ria devolve o Sol ao espaço


sábado, 1 de março de 2014

SOBRE O TEXTO DESCRITIVO

Depois de tecidas as primeiras considerações, de carácter geral, sobre o decepcionante panorama que nos é dado verificar, relativamente à reiterada aversão à leitura, por parte de inúmeros sectores da população portuguesa, vamos agora adiantar algumas das particularidades de um TEXTO DESCRITIVO:

Neste, a descrição afigura-se-nos como algo de extraordinariamente saboroso, com ingredientes que conferem um paladar especial ao texto que, assim, não conseguimos parar de ler; nesse momento particular a narração cessa, passando a descrição para primeiro plano, perpassando, então, ante o nosso olhar cerebral, todo um cenário de múltiplas cores, artisticamente pinceladas, através das palavras que o autor selecciona, escolhe, visando a harmónica composição sintagmática dos conceitos projectados.

O texto descritivo, no entanto, não se fica por aqui: o mesmo abarca ainda outros recursos estilísticos, a saber a personificação, a comparação, a metáfora, a imagem, etc., tornando, através do apuro cuidado de todos eles, o texto mais rico, mais poético, se quisermos, foneticamente pujante também.

Por último, adiantaremos que, na construção de uma descrição é sempre conveniente dar primeiro atenção aos seres, aos lugares e às coisas; expor minuciosamente todos os elementos e pontos de vista de abordagem – da realidade ou da ficção – que consideremos fundamentais; definir ainda um plano de escalonamento coerente, para que tudo se disponha de acordo com uma ordem perfeitamente lógica.

E é tudo, para não maçar o leitor. Aqui fica o texto descritivo, em toda a sua envolvência e fascínio, impregnado daquele magnetismo mágico que nos impede de desviar os olhos das páginas do livro que temos em mãos, estando mesmo fora de cogitação fechá-lo ou pô-lo de lado. (Brevemente abordarei o texto narrativo).

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