domingo, 29 de dezembro de 2013

QUEM É O ALUNO?!


Independentemente das vulgares estatísticas, resultantes, na prática, do conjunto alargado dos normativos meramentes determinantes que, nos anos mais recentes têm vindo a ser publicados, no sentido da diminuição artificial do insucesso escolar, o aluno, que no dia a dia frequenta a escola portuguesa, deve ser olhado com olhos de ver. Nesta medida, a nossa sociedade deve permanecer atenta, ou melhor, deve tratar de começar a dar a máxima atenção à realidade palpável que se vive no nosso país, passando a ter opinião sobre a matéria em questão, ao invés de papaguear os clichés do senso comum, ou as simples e redutoras máximas da propaganda governamental.

A nós, pelo nosso lado, e porque sempre temos estado no hostil terreno da demolidora prática pedagógica de todos os dias, resta-nos a missão cívica de intervir de forma positiva, tentando ilucidar quem nos lê, sobre algumas especificidades que intervêm na construção da pessoa humana e no desenvolvimento integral de cada uma das suas qualidades que a tornam apta a agir nas diversas situações de(a) vida. Tendo em conta esta realidade, torna-se imprescindível partir do estudo cuidado do historial de cada um dos alunos, da sua hereditariedade, bem como do meio ambiente que o envolve (meio sócio-económico e cultural), não ignorando ainda um terceiro aspecto da questão, indissociável dos dois anteriores e, ainda, fundamentalmente essencial, para que seja possível contornar as vertentes mais problemáticas da temática em apreço. Referimo-nos, naturalmente, ao Eu” e ao seu todo comportamental, atitudinal, quando consegue correlacionar os diversos factores em presença, na base de uma linha de amadurecimento do próprio conhecimento deste tipo de relação que se vai gerando no âmbito da sua forma de estar e de agir, face ao devir dos dias lectivos.

A hereditariedade não pode ser considerada, no seu sentido restrito, invariavelmente inata, claro; deve, pelo contrário, ser vista, conforme os casos, como sendo variável, numa linha de desenvolvimento dependente do meio e do conhecimento da sua intervenção activa.

A função faz o órgão, e é bem verdade; da mesma maneira que se afirma que errar é humano, ou seja, nenhuma aprendizagem poderá estar alguma vez concluída, isto é, nenhum homem conseguirá nunca o mais total e completo nível de aperfeiçoamento – por isso mesmo é que o mundo tecnológico tenderá sempre a evoluir, de geração em geração. Só os mentecaptos estratificam. Mas, o universo estudantil português corre já hoje este risco. Urge discipliná-lo.

Voltando ao aluno, que é para isso que aqui estamos, diremos que a maioria dos seus actos aliada à suas naturais capacidades de aprendizagem, radicam na acção conjunta de factores de predisposição e níveis de personalidade diversificados. Se se verificarem défices, não demasiadamente condicionantes, num determinado plano, podem surgir compensações a outros níveis, a partir de uma escola psicologicamente pensada, pedagogicamente activa, didacticamente alicerçada, que não esta que nos tentam actualmente impingir.

Importa, no entanto, não ignorar que os alunos que se nos apresentam já com um conjunto de aprendizagens, aquisições, inculcações, hábitos, comportamentos e atitudes constantes, oferecem, por norma, uma resistência tenaz a qualquer tentativa de trabalho pedagógico. Reaprender é sempre muito mais complexo e difícil do que apenas aprender.

Por último, adiantaremos a ideia de que a capacidade de aprendizagem, quanto mais tardia, mais resistências oferece também, nomeadamente no domínio motor. Já no campo psíquico em geral, essa capacidade mantém-se até mais tarde, se o cérebro tiver sido sempre activamente estimulado, claro! 

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segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

HAJA NATAL!

No Natal há fantasia
nas chaminés há calor
nos corações há magia
festa luz e muito amor

No Natal há alegria
prendas... beijos... tanto faz?!...
há também pois quem diria
a Noite Santa da Paz...

M.B.S.


sábado, 21 de dezembro de 2013

SONETO DE NATAL

Irmã gémea das rosas e da aurora
beijo de amor mui doce e virginal
como te quero alma encantadora
suavíssima flor de laranjal

Sonho de só sonhar bendita a hora
genésica rotunda tal e qual
cativo coração que se demora
no frémito de ventre triunfal

Papoila frágil tão cá dentro acesa
no meu peito de Fé iluminado
quis Deus que fosses ponto de partida

minha açucena branca de pureza
botão de rosa lindo amordaçado
tu hás-de abrir enfim ao Sol da Vida

M.B.S. in "O Rumo e o Sonho" - 2001
 Fólio Edições

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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

VULTOS E CULTOS

Imagem do Google



Não há nada mais saboroso do que deixar correr na pantalha da memória, todo o filme de recordações que ficou indelevelmente gravado, aí mesmo, no âmago do mais profundo do meu ser, onde radicam os afectos, o carácter, a personalidade; a exemplo do que se passa no coração dos homens de boa vontade, onde se dão os primeiros passos no sentido das aprendizagens mais puras e sentidas, mais espontâneas e autênticas; onde ficam escritos, pela força do amor que desbrava os caminhos da paz e da concórdia, os vultos que determinaram e ainda fomentam os cultos, que nenhuma força oculta ou tendência desviante conseguirá esbater, abater ou fazer desaparecer.



O sabor delicioso que se mescla de fantasia e maravilha, e que nestes dias perpassa teimosamente a minha memória, liga-se à festa dos Reis Magos, muito mais bonita do que a festa do Natal, durante a qual toda a gente só pensa em cultivar gulas desmedidas; muito mais cristã do que as celebrações, perfeitamente patéticas e gratuitas (mas dispendiosas), de enterro do ano velho e de saudações ao ano novo (?!); ainda, muito mais simbólica do que as outras duas às quais aludo, devido ao significado de incomensurável riqueza que encerra o facto de três reis terrenos, ricos e poderosíssimos, terem sido levados, pela luz de uma estrela, a prestar homenagem, através da oferta de ouro, incenso e mirra, a um recém-nascido que, ungido de sublime bondade etérea, viria a ser rei, sacerdote e profeta.


Depois do que fica exposto, é extremamente penoso ter de constatar que, a nível oficial, em Portugal (que não em Espanha), os “Reis” foram deliberadamente desacreditados, por omissão, nomeadamente no cômputo dos dias que até aí integravam as denominadas Férias de Natal, que não mais se estenderiam até ao dia 6 de Janeiro de cada ano que passa.



Só esta alteração, aparentemente simples e inofensiva, encerra em si um poderoso e devastador alcance, que visa, está bem de ver, mentalizar as crianças, ao nível ideológico, para a indiferença, o desprezo, a ignorância a que devem ser votados os “Reis” e toda a sua maravilhosa abrangência psicológica, emocional e simbólica.



Nesta conformidade, não sei para onde caminhamos; mas sabemos todos que, isso sim, não é com o extermínio de cultos tão envolventes, harmónicos, significativamente simbólicos e saudáveis como o eram o dos “Reis” – Gaspar, Melchior e Baltasar – três dos vultos que estruturaram, adocicaram e (re)temperaram a minha infância (e que se quedam indeléveis e impolutos no meu imaginário, tecendo a harmonia saudável do meu verdadeiro self), que conseguiremos respeitar as nossas crianças ou valorizar a sua educação. Punhamos os olhos no admirável exemplo da nossa vizinha Espanha!



NOTAS: O FANTÁSTICO ocorre quando o seu realismo suscita a dúvida que a lógica não consegue explicar; a narrativa de carácter sobrenatural cria o efeito fantástico sempre que hesitamos entre causas naturais e sobrenaturais;

   
O MARAVILHOSO nunca converge no sentido do real nem do seu contrário, sendo mesmo encarado naturalmente, como acontece na cultura judaico-cristã.


quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

AINDA PAULO FREIRE...

Ainda Paulo Freire e as suas teses educacionais, no prosseguimento do escrito de há oito dias. Afirmava este grande pedagogo e ser humano: se se quer que o homem actue e seja reconhecido como sujeito; se se pretende que ele faça a história em lugar de ser levado por ela, e se se procura que ele participe de forma activa e criadora, então é importante prepará-lo para o efeito, através da Educação autêntica que conduza à liberdade não condicionante, não escravizante. Isto obriga a rever, a partir das bases, os sistemas tradicionais educativos, quer ao nível dos programas quer ao nível dos métodos.

A realidade só pode ser modificada se o homem descobrir que ela o pode ser, e que tal desiderato pode ser protagonizado por ele. É desta tomada de consciência que surge o primeiro grande objectivo da educação, traduzido, antes de mais, na necessidade de desencadear uma atitude crítica, de reflexão, de empenhamento, de acção.

A consciência crítica só pode ser despertada se se utilizar um método activo, suportado por um diálogo intenso e esclarecido, que torne participantes tanto os que querem aprender como aqueles que os querem ajudar nisso mesmo. O diálogo deve ser sempre mantido numa relação horizontal, consubstanciando uma permuta entre dois seres; uma relação que envolva amor, humildade, esperança, confiança mútua, numa linha de comunicação equilibrada e profícua, que gere por si só uma atitude crítica fecunda.

“Uma educação que não é feita pelo diálogo – no dizer de Paulo Freire – mata o poder criador, não só de quem educa mas também do educador”, na medida em que este se transforma em alguém que impõe regras e fórmulas passivamente recolhidas pelos seus alunos. Ninguém cria... nem quem impõe nem aqueles que recebem as imposições. Ambos os lados se atrofiam. É a negação do próprio processo educativo. A educação – continua Paulo Freire –, sendo um acto de amor, é, por isso mesmo, um acto de coragem. 

A educação não pode temer o debate e a análise das realidades. Não pode evitar as discussões criadoras, sob pena de ser uma farsa. Na educação tradicional não são permutadas ideias – são ditadas. Não debatemos nem discutimos temas; não trabalhamos com o educando, mas trabalhamos sobre ele. Propomos-lhe uma ordem à qual não adere, mas a que se ajusta. Não é possível com uma educação deste género preparar homens que se integrem num impulso de democratização, dificultando ou mesmo impedindo a “entrada do povo na vida pública”.

(Até para a semana!)
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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

PAULO FREIRE, O PEDAGOGO

Esse grande educador e pedagogo que foi Paulo Freire (1921-1997) nasceu no Brasil, na cidade de Recife. Em 1947 começou a trabalhar com adultos analfabetos e, gradualmente, foi desenvolvendo um método de trabalho a que foi associada a palavra “conscientização”. A partir de 1962 partiu para a realização de experiências com base no seu próprio método.

Ainda na grande nação sul-americana, depois do golpe de estado ocorrido em 1964, Freire foi preso pela “Nova Ordem”, sob a alegação de que o seu método de ensino era manifestamente subversivo. Reaparece, então, no Chile, no exílio, onde consegue implementar livremente as suas teorias educacionais, realizando também vários seminários que versam as suas ideias e o seu trabalho.

Na base das concepções de Paulo Neves Freire sobre Educação, encontra-se uma primeira ideia-chave: “Para ser válida toda a educação, toda a acção educativa deve ser, necessariamente, precedida não só de uma reflexão sobre o tema em estudo, mas também de uma análise do meio vivencial onde se insere o indivíduo que se pretende apoiar, ajudar a educar.

Por um lado, na ausência de uma tal reflexão sobre o indivíduo, arriscamo-nos a adoptar métodos que o reduziriam à mera condição de objecto; por outro lado, ignorando a cuidada observação do meio envolvente, precipitamo-nos na protagonização de uma educação que não estará nunca adaptada à pessoa em causa, à qual, no fundo, se destina. Como defende, então, Paulo Freire o seu método? Vejamos:

Através da concretização de uma segunda ideia-força, o grande pedagogo Paulo Freire aposta na reflexão sobre a situação, sobre o ambiente atinente ao indivíduo, sobre a realidade que o torna sujeito. Só uma educação deste tipo liberta o homem em vez de o escravizar; de o domesticar; de o “acomodar” como até aí acontecia, na maior parte das vezes, com os princípios e métodos educacionais vigentes, tendentes a ajustar o ser humano à sociedade, em detrimento da sua legítima promoção.

Nesta conformidade, tornava-se urgente que a Educação tivesse em vista – e isso foi percebido por este brasileiro, pioneiro desta inovadora e revolucionária abordagem educativa –, na sua substância, nos seus programas, nos seus métodos, uma adaptação à sua própria essência, isto é, permitindo ao homem se tornar sujeito, se constituir como pessoa no sentido de transformar o mundo, criando com os outros novas relações de reciprocidade, na construção da sua própria cultura e da autenticidade da sua história.
(Voltarei ao assunto)







sexta-feira, 29 de novembro de 2013

SEXUALIDADE - O CORPO E A ALMA

Considero ser chegada a altura de dar por encerrada a presente temática, não sem antes tentar discernir um pouco sobre estes dois aspectos intrínsecos da sexualidade humana – o corpo e a alma.
 
Sob o ponto de vista antropológico, o homem é visto, modernamente, segundo uma perspectiva de unidade absoluta, tendo em conta a dimensão absoluta do seu próprio ser. Nós somos o nosso próprio corpo e é através dele, enquanto impregnado de uma alma que o vivifica, que sentimos as alegrias, as frustrações, os desejos; é no corpo, e pelo estímulo da alma que concretizamos a interactividade com o universo dos outros, perseguindo a realização dos nossos sonhos.
 
Fácil, portanto, se torna concluir que, sendo embora cada um dos seres humanos um corpo animado pelo espírito, somos também seres sexuados. Nesta conformidade, não é conveniente, ou melhor, não é possível tentar desviar o sexo da unicidade corpórea e espiritual que o integra, forçando-o a trilhar caminhos que obviamente banalizam e desequilibram a função da sexualidade propriamente dita, ao serviço do ser.
 
Assim sendo, a sexualidade deve servir o homem, visando a sua dignificação, a sua realização pessoal, familiar e social, enquanto expressão profunda da afectividade dos casais, na senda da paz, da harmonia e da tranquilidade familiares, na construção de uma sociedade equilibradamente estruturada, onde o bem estar psicológico e afectivo possam gerar seres saudáveis, felizes e úteis ao próximo. Ao invés, devemos rejeitar todas as formas de violência aliadas aos distúrbios sexuais, nomeadamente as violações, o tráfico humano e a prostituição; a publicidade aberrantemente sexuada e, por último, essa indústria execrável que dá pelo nome de pornografia.
 
Nos nossos dias, a sexualidade tem sido problematizada de forma complexa e radical, através de modernas práticas técnico-científicas: congelamento de embriões, fecundação in vitro, clonagem, transsexualizações, aluguer de úteros... Tudo isto levanta inúmeras e intrincadas questões de cariz bioético, as quais não arrisco equacionar.
 
Por último, resta-me abordar um dos aspectos mais ignorados da sexualidade – a outonal, tão imprescindível afinal. A todos quantos tutelam os nossos velhos recordo: a sexualidade não se esgota apenas na genitalidade, na intimidade física que busca o orgasmo e a procriação... ou não; os nossos pais e avós, genitalmente debilitados ou mesmo inibidos de agir, por força da idade, doenças, ou fármacos, podem sempre optar por outras formas de sensualidade, entre as quais se encontra a simples carícia, o beijo, a conversa cúmplice e marota, lado a lado; um abraço, um pezinho de dança, etc., etc.. No fundo, no fundo, o importante é estar vivo e fazer sentir ao outro isso mesmo.

NOTA: net pic

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O NEXO DO SEXO

       Na sequência do que nos escritos anteriores ficou dito, impõe-se uma nova atitude face a uma realidade controversa e exigente, como o é a da educação dos afectos. E porque, quando de sexo se fala, de afectos se trata, recordo ao leitor os binómios a que atrás aludi: corpo/espírito; matéria/mente; biologia/emocionalidade.

       Sendo assim, o sexo tem de ser olhado e visto tal e qual se nos apresenta, sem medos nem simples receios; sem mentiras; sempre na exacta medida da curiosidade de quem se ensina, conforme já alertei também. Hoje, deve existir total abertura, segurança e informação fundamentadas, em contraponto com qualquer ética apoiada em hipocrisias, em qualquer jurisdição ultrapassada, em qualquer prática cultural desenquadrada, em qualquer contexto social de lesa personalidade.

      O sexo deve ser tratado como algo que nos diz directamente respeito, porque constitui uma incomensurável riqueza pessoal, no âmbito da multiplicidade dos vários aspectos segundo os quais a Natureza permitiu ao ser humano se expressar, em plenitude, enquanto tal. Mas... quando se fala em política educacional, este assunto deve ser tratado por quem e em que moldes?!

      Evidentemente que, sobre um tipo de matéria tão candente como a que respeita à temática vertente, ou se têm ideias e conhecimentos precisos sobre a questão, que o mesmo vale por dizer, ou sabemos o que queremos, para e por onde vamos, ou então mais vale ficarmos quietos e calados e não andar a desperdiçar o precioso tempo de estudo (o nosso e o dos outros), através de falaciosas acções de motivação gratuita e desviante.

     Por um lado, sempre achei fundamentais a informação e o conhecimento, em detrimento do silêncio e da ignorância que, de resto, não aproveitam a ninguém. Por outro lado, considerei sempre que, deve estar fora de cogitação o regresso ao autoritarismo regulador da conduta das nossas crianças e jovens, mormente quando se trata da sexualidade, pelo que a seguir se expõe:

    Importa a implementação de orientações e esclarecimentos cabais, que consigam, por si só, fomentar o desenvolvimento de personalidades autónomas e esclarecidas; desprovidas de traumas e culpabilizações (como no passado recente). Desta maneira, através de princípios e atitudes apoiados em comportamentos e acções educacionais arejados, lavados e inovadores, assentes em valores perfeitamente inteligíveis, seria possível operar na pessoa de cada cidadão escolarizado a natural autodeterminação que visaria a realização de cada um no seio da sociedade que se quer interactiva e progressista. Esta forma de estar e de sentir, tendo sempre presente a preocupação de respeitar o outro e nós próprios, tem, necessariamente, de partir do interior de cada um com convicção e justeza absolutas.

        Falando, de novo, dos mitos que sacralizaram a sexualidade na antiguidade, chamo a atenção do leitor para o cuidado a ter com o seu regresso. Os mitos continuam hoje a funcionar, num outro contexto, arrastando tudo o que ao sexo diz respeito para a esfera da animalidade ou do mero entretenimento lúdico. Acaso conhecem, a respeito do que acabo de afirmar, aquela anedota, graça ou chalaça que designa a zona genital como “área de lazer”?! O sexo e a sexualidade não podem continuar a ser difundidos enquanto problemática, a um tempo, grosseiramente empolada e mal gerida.


      Nas grandes superfícies (também vendem livros), estes, grosso modo, em papel de luxo e profusamente ilustrados, abordam a sexualidade, por norma, de maneira puramente anatómica, biológica, sem nenhuma preocupação de ordem psicológica, emocional ou afectiva. Caminha-se, assim, para um beco sem saída, onde a repetição exaustiva e viciante do sexo, por parte de quem tem sido ludibriado com “ensinamentos” deste jaez, só pode levar à degradação moral e às perversões, numa linha de frustrante obsessão de algo doentiamente vago, vazio e escravizante.

(CONTINUA)            
                                           Nota: net pic

                               

domingo, 10 de novembro de 2013

A POLÉMICA PERSPECTIVA DO SEXO

        O polémico psiquiatra e neurologista, Wilhelm Reich (1897-1957) defendia as suas muito próprias teorias de combate à moral sexual burguesa, apontando os possíveis caminhos da felicidade humana, através da queda de todas as barreiras repressivas, idealizando uma sociedade sem traumas, na medida em que a líbido pudesse ser canalizada livremente e sem tabus, proporcionando a pacificação psicológica dos indivíduos. Só que o sexo constitui apenas um dos aspectos da vida humana, e as coisas não podem nem devem gravitar unicamente em torno dessa realidade.

         Se olharmos à nossa volta, não obstante a liberdade dos tempos que vão correndo, rápida e facilmente constataremos o quão enganados estavam os especialistas que, na linha de Reich, defendiam uma espécie de anarquia sexual. Basta que escutemos os telejornais e acompanhemos os diários deste nosso Portugal, também neste campo, imensa e incrivelmente martirizado. O sexo desenfreado, de feição puramente animal, ao invés de libertar e realizar o ser humano, tem tido o condão de o viciar e seviciar, de o tornar dependente, de o agrilhoar sem dó nem piedade.

        No nosso tacanho rectângulozinho, onde se confrontam várias classes sempre eivadas de mesquinhas e inconfessáveis motivações, o fenómeno da sexualidade tem desendadeado uma enorme controvérsia, já de si inconsequente, porque cíclica ou gratuita, sempre que, uma vez por outra, ousa esgrimir argumentos balofos, meramente lúdicos, sem deixarem de se insinuar pintalgados de um certo narcisismo doentio, tão típico, afinal, do desfile mediático do insuportável cortejo a que fazem gáudio em pertencer e participar os políticos da nossa praça.

         
        Não nos podemos dar ao luxo de falar de sexualidade só por falar, ou porque se trata de uma problemática que hoje assume foros de moda. Quão efémera é a moda, no fundo, todos sabemos e, por isso mesmo, importa encarar este assunto com frontalidade e sentido da sua real implantação nas modernas sociedades ocidentalizadas, das quais Portugal não pode nem deve constituir excepção. Não nos quedemos, então, reféns de preconceitos, complexos, hipocrisias, excessos, falsas morais ou seguidismos miméticos. Discernimento, consciência moral, racionalidade, pragmatismo e clarividência procuram-se...

Nota: net pic

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O CHÃO DOS SENTIDOS - LINK PARA A PÁGINA DO LIVRO NO FACEBOOK


- HOSPITAL MILITAR DE LUANDA -

VÍTIMA DA GUERRA COLONIAL, PEDRO CARTAXO TEM DE 

FICAR INTERNADO...



in "O CHÃO DOS SENTIDOS"

Romance Histórico

de

Manuel Bragança dos Santos

https://www.facebook.com/ochaodossentidos?ref=hl

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

SEXO E SEXUALIDADE – NOTAS CONEXAS

        A sexualidade foi sempre mais ou menos olhada como algo estranho, misterioso e passível de causar embaraços. Que o digam aqueles que pouca ou nenhuma informação receberam, ao longo das várias etapas do seu desenvolvimento. Quer se queira quer não, a sexualidade faz parte integrante do indivíduo, enquanto ser sexuado, não podendo nem devendo ser ignorada, principalmente pelos pais, educadores e professores. É conveniente que se encontrem bem preparados e devidamente informados, possuindo também a suficiente capacidade pedagógica. Assim, na equilibrada medida das necessidades dos filhos respectivos e dos educandos sob a sua responsabilidade, de forma pertinente, contextualizada e oportuna, poderão estar aptos a prestar os esclarecimentos necessários em cada momento, sem adiantar, seja o que for, para lá do estritamente requerido. Nada deve ser oculto, portanto, na medida da curiosidade manifestada por quem pergunta, porque quer saber.

       A sexualidade marca o homem desde a Antiguidade. Recorde-se a filosofia dos estóicos: esta advogava a fundamentalidade das vivências humanas, sempre estribada, pautada pelas exigências da razão, pelo que o prazer resultante da satisfação dos desejos carnais se converteria em inimigo desse tipo de ideal. Em termos éticos, o homem deveria reunir todas as forças possíveis e impossíveis, no sentido de, sistemática e permanentemente, aniquilar as paixões, libertando-se dos impulsos desregrados, embora instintivos, até ao mais completo paroxismo apático.

         Sobre esta matéria, as tendências e as doutrinas, através dos séculos, sucederam-se sem grandes variações entre si. Tratando-se da sexualidade, todas elas defendiam o mesmo tipo de desconfianças e de medos, sempre associados ao pecado, à culpabilidade e até ao desprezo pelas várias vertentes de um assunto tão assaz comprometedor.

        Mas, o sexo nem sempre foi tabu na generalidade dos contextos histórico-filosóficos: a sexualidade chegou a ser sacralizada pelo mito, o que tornaria o sexo como algo outorgado pelos deuses, visando práticas sagradas.

      Curiosamente, nos nossos dias, a sexualidade encontra-se acentuadamente desconstruída, enquanto função intimamente ligada ao binómio corpo/espírito, matéria/mente, biologia/emocionalidade. Hoje, a sexualidade é olhada, em regra, como algo puramente animal, numa linha de total desprezo pelos valores da afectividade e da vida.          M.B.S. (CONTINUA)
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sábado, 26 de outubro de 2013

METRO MAL MEDIDO OU... COMEDIDO (HÁ 5 ANOS E 4 MESES)

      Nos últimos dias, o Metro do Porto tem sido, algumas vezes, falado na comunicação social, ainda que nem sempre pelas melhores razões. Vamos começar pela principal, que se prende, como já devem ter adivinhado, com a atribuição do “Light Rail Award/2008”, galardão entregue pela União Internacional de Transportes Públicos (UITP), conforme titulava o "O Primeiro de Janeiro", na sua edição do passado dia 20 de Junho, “para distinguir a criatividade e o design dos sistemas de metro ligeiro no mundo”.

      Não restam dúvidas de que o Metro do Porto é hoje uma realidade, pese embora os fastidiosos anos de espera; evidentemente que a obra em apreço tem constituído uma inestimável mais-valia para as populações do grande Porto, a todos servindo de forma prática, rápida, limpa e sadia; é claro que este meio de transporte veio imprimir um novo ritmo e uma nova imagem ao sistema de apoio logístico integrado à vida das pessoas da capital do Norte e arredores; é indiscutível que o meio físico envolvente das linhas do Metro foi esteticamente alindado, ajardinado, relvado e arborizado, numa nota de desenvolvimento civilizacional digna de registo.

     Tudo isto é positivo, tudo isto nos enche de orgulho, não só a nós, Norte, em particular, mas também a todo o resto do país, em geral, como não pode deixar de ser. De resto, e a talho de foice, recordem-se aqui e agora os prémios arrecadados também por uma outra obra grandiosa, complexa, morosa, mas, altaneira e funcional: falamos do alargamento das instalações do aeroporto de Francisco Sá Carneiro, reconhecidamente um dos melhores da Europa.

     Falávamos, no entanto, do Metro do Porto e das vezes que tem sido referido nos media. Ainda hoje, dia 26 de Junho, data em que redigimos este pequena crónica, lemos num jornal diário que um grupo constituído por quatro jovens se vinha entregando, com a ajuda de várias ferramentas e barras de ferro, ao assalto e roubo dos cofres onde se alojam as notas e moedas, depois de introduzidas na ranhuras das máquinas de venda de bilhetes.

     Se no primeiro parágrafo do presente texto se aponta uma boa razão para que o Metro do Porto seja falado, já aqui o motivo pelo qual o M.P. vem à liça, só nos pode deixar a todos bastante apreensivos. Será que nada escapa à ululante marginalidade que hoje a todos consome e atemoriza?!

     Uma vez aqui chegados, importa agora justificar, ou tão só explicar o porquê do título do presente escrito – Metro mal medido: nem tudo são rosas, principalmente no que diz respeito à componente de comunicação, quando se trata da resolução de pequenos (?!)... Serão mesmo?!... Incidentes, contratempos, verificados no dia a dia da utilização deste meio de transporte. Falamos concretamente do imenso rol de queixas dos utentes, sempre que de forma incompreensível, inopinada e irreversível o andante deixa de funcionar electronicamente. Quando a máquina, pura e simplesmente não entrega o troco ao utilizador que fica mesmo sem ele, porque é impossível provar o facto. Sempre que a mesma máquina engole o preço da viagem e, muda e queda, nada regista no andante nem restitui a quantia paga. Quando se assiste a cenas de pancadaria (alteração da ordem pública) em pleno transporte e não se vislumbra ninguém da segurança e da autoridade para pôr cobro aos desacatos.


     Importa, portanto, medir melhor este metro que, de resto, e não obstante estas notas finais, tem constituído uma importante e decisiva inovação na vida de todos nós.

Nota 1: Texto com 5 anos e 4 meses.
Nota 2: net pics

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

DIALOGISMO EMPÁTICO

      Neste breve texto, direi apenas da necessidade urgente de voltarmos todos ao diálogo, com carácter francamente comunicacional. Por isso mesmo, o ser humano é dotado da capacidade de utilização da linguagem que bebeu com o leite materno. Mas, não adianta falar, falar, falar, se não formos ouvidos e compreendidos; pois, caso contrário, estaremos a falar para as paredes.

     A comunicação só tem razão de ser, se buscar o consenso, se procurar a harmonia, se porfiar na paz, na concórdia, na interacção construtiva, edificante e democrática. Não me alongarei muito.

   Se o homem comunica através da linguagem – falada ou escrita –, conforme comecei por adiantar no início desta curta reflexão, utilizando o código linguístico inerente ao país que o viu nascer, ou outro ainda, de acordo com os hábitos culturais que melhor se coadunam com determinadas práticas interactivas, nomeadamente no campo dos negócios, das relações políticas nacionais e internacionais, da mediação solidária ou das parcerias científicas de cariz investigatório, para além de outras ainda, fácil se torna perceber que o diálogo que se tem estabelecido no sentido da persecução de todo este conjunto de desideratos, tem vindo a enfermar, aflitivamente, de uma síndroma preocupante, que se traduz numa multiplicidade de estapafúrdios sinais aos quais devemos prestar a máxima atenção. Estes têm a ver com uma clara tendência para uma espécie de narcisismo absoluto primário, por parte das pessoas ou, por outras palavras, para uma cada vez maior umbilical deriva, redutora do são convívio familiar, comunitário, institucional, fazendo perigar mesmo a coesão social e a própria democracia.

    O Dr. Jacques Lacan (1901-1981), nos últimos cinquenta anos da sua vida, viria a trazer um contributo fundamental à análise dos distúrbios de dominação egocêntrica da humanidade, ao definir o inconsciente como algo assente num quadro simbólico semelhante ao da linguagem. Para este cientista, a palavra, enquanto símbolo linguístico, só tem razão de ser a partir do momento em que diz algo ao outro e é aceite socialmente de forma tácita. Sem o outro, a quem se dirige num ping-pong construtivo, não há comunicação nem subjectividade, uma vez que existe uma convenção explícita, assente na simbologia adoptada e que é comum aos falantes dessa mesma linguagem.

   A partir dos vinte e quatro meses, mais ou menos, as necessidades de sobrevivência da criança começarão gradualmente a ser satisfeitas, já não por meio de automatismos instintivos que o egocentrismo absoluto primário garantia através da ligação materna (fase oral e sádico-anal), mas através da representação simbólica em objectos da realidade. Este fenómeno, apenas apanágio do ser humano, conduzirá o desejo da criança ao encontro do desejo do outro, sem choques aparentes, porque no seio de um ambiente familiar ideal: psicologicamente equilibrado, afectivamente harmonioso, emocionalmente participado, a palavra mediará o encontro dos desejos, com carácter de racionalidade ponderada e de viabilidade devidamente ajustada, ao contrário do que se passa no mundo selvagem.   Afastemo-nos deste, enquanto é tempo... 



Nota: net pics

domingo, 29 de setembro de 2013

“O CHÃO DOS SENTIDOS”


   O Romance Histórico O CHÃO DOS SENTIDOS, de Manuel Bragança dos Santos, versa, diegeticamente, a história da Resistência ao regime de Salazar, num enquadramento estrutural da acção narrativa com início em Paris, no ano de 1890, estendendo-se a mesma pelas atribuladas décadas seguintes, já no nosso país, e depois em Angola (guerra colonial), até finais de 1976, enquanto a Democracia se ia consolidando em Portugal...

     Assiste-se, nomeadamente: às estratégias salazaristas de manutenção do poder; à persistente luta da Resistência anti-fascista; à propaganda de Ferro; à acção da polícia política (PIDE); ao espectro doTarrafal; à fuga de Cunhal da prisão de Peniche; à saga de Humberto Delgado; ao labor de Mário Soares e à génese do Partido Socialista; à Primavera Marcelista; ao 25 de Abril.

    O Romance O CHÃO DOS SENTIDOS revisita também o sucesso (entre as duas Grandes Guerras) dos minifúndios agrícolas do Norte (quintas), em Castelo de Paiva, onde, apenas a troco do “terço” das colheitas, famílias enormes de feitores e caseiros, de pés descalços, trabalhavam a terra de sol a sol, com pouco mais do que as enxadas;

  Ademais, revela o curioso embrião de um certo empreendedorismo proletário ou como se iniciou a exploração de inertes, na margem esquerda do rio Douro, na década de 1950, até ao colapso da ponte Hintze Ribeiro, em 04 de Março de 2001;

      Projecta ainda o singular filme das memórias intactas, das férias grandes (anteriores às décadas da consolidada indústria do turismo nacional), vividas em Pardilhó, no Furadouro e na Torreira; a travessia da lancha entre a Bestida e o cais da Torreira, a contemplação da arte Xávega, a apanha do moliço na Ria, e a gastronomia típica das enguias...

      Entre muitos outros referentes, cujo significado narrativo dá corpo conceptual, cor e ritmo à linha discursiva formal (significante) da obra, o romance histórico O CHÃO DOS SENTIDOS desvenda ainda, desde a sua génese, os projectos inovadores dos Colégio da Estrela (meninas), adquirido em 1916, e rebaptizado pelos Pardilhoenses Padres Albano Resende e Germano Pinto, depois da sua aquisição, em 1928, de Colégio de João de Deus (rapazes), no Porto, até ser comprado pelo Ministério da Educação, de Veiga Simão, em 1973.

      Por último, uma alusão a dois dos heróis Resistentes, Luís e seu filho Ricardo, que, incapazes de acompanhar a História do tempo que é o deles, soçobram frustrados através do tempo da história.

Em 29 de Setembro de 2013

Manuel Bragança dos Santos




quinta-feira, 26 de setembro de 2013

POMBA E LEOA


Imagem do Google
Sinto no rosto o suave vento
das tuas asas de ave branca

Tu és pomba imaculada
sem deixares de ser leoa
tão felina como o odor
com que me envolves
tão maligna como o amor
com que me dilaceras

Tu és a leoa que inventei
sem deixares de ser a pomba
que cruza a atmosfera do sonho
ao encontro da perplexa rota da ventura

Pomba e leoa leoa ou pomba
quero que permaneças poema
por seres luz e sangue e dor
um suave vento no meu rosto
o selvagem cheiro do amor

25/12/1998

Manuel Bragança dos Santos
          in O Rumo e o Sonho 
              Fólio Edições 2001





segunda-feira, 23 de setembro de 2013

NADA MUDOU EM DOIS ANOS!

      Na segunda sexta-feira do décimo mês do transacto ano de 2011, a RTP entrevistou o grande António Lobo Antunes. Que prazer, meu Deus, ouvir falar homens como ele! A entrevistadora eclipsou-se, enfim... A estação pública não conta com grande elenco jornalístico, de resto, mas, neste caso, ainda bem, porque pudemos todos (?!) assistir a uma espécie de monólogo de confidências avisadas e sábias, entre outras coisas, sobre a cultura que o poder despreza; a escrita original, inventiva e criteriosa que a educação persegue... Mellhor dizendo – hostiliza; a criatividade e o talento que a comunicação social ignora ou combate.

         Nesse mesmo dia, 14 de Outubro de 2011, os três canais generalistas nacionais de televisão dedicaram os seus tempos noticiosos à divulgação de mais uma bomba fragmentária da economia nacional; outro tanto fizeram os respectivos canais noticiosos, tendo para o efeito chamado os vários oráculos nacionais, para comentários meramente flutuantes, condicionados, contidos e medíocres, sempre desinseridos do real contexto global em que tudo isto se plasma.

      Ainda nesse dia, sexta-feira - 14... Que sorte 13 ter sido na véspera!... A RTP2 iniciou um conjunto de episódios sobre os bárbaros acontecimentos ocorridos durante o gigantesco conflito armado despoletado por Hitler e Estaline, essa dupla macabra que, em meia dúzia de anos, viria a mudar drasticamente o rumo da História, ao nível planetário.

        No dia seguinte, sábado - 15, pude observar, nos jornais televisivos das 20 horas, as dramáticas marchas, ditas de indignação, em praticamente todo o mundo, onde os que nelas participam, e muitos outros, por certo, ainda que ausentes, protestam contra os sórdidos e brutais ataques dos mercados – “Goldman Sachs”, “Deutsch Bank” e outros megabancos –, visando as indefesas economias dos países mais vulneráveis, sem apelo nem agravo.

     A hipocrisia comburente do turbo-capitalismo-selvagem prossegue inexorável, cínica, corrosiva, aniquilando tudo e todos, de forma inicialmente lenta e gradual; desdobrando-se numa multiplicidade de acções cada vez mais progressivas e rápidas com o correr do tempo, diferindo apenas dos métodos e estratégias nazis, no que diz respeito ao subreptício, gradativo, subtil e difuso engenho de que se serve para operar.

       Hitler e Estaline eram broncos, brutos, crueis, grosseiros, sádicos, criminosos, abomináveis, rápidos e letais, mas, no fundo, pretendiam o mesmo que os mercados hoje buscam, porque, salvaguardadas as distâncias temporais e ideológicas, aqueles queriam dominar o mundo através da usurpação de coisas tão simples e fundamentais como a liberdade, a coesão social, a independência e autonomia pessoais e económicas de cidadãos e países, fossem eles quais fossem; estes têm vindo a espoliar esses mesmos países e cidadãos exactamente do mesmo, através, como já disse, de processos diferenciados, mas que desembocam na mesma fétida e repetida cloaca do execrável “déjà vu”, agora reinventado, de um renovado e decadente esclavagismo, civilizacionalmente deplorável e retrógrado.

NOTA 1: Estaline viria a juntar-se aos Aliados, precocemente, para o bem e para o mal, depois de traído por Hitler.

NOTA 2: net pic.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

E AS CRIANÇAS?!...

       Para quem hoje tenta, de forma séria e honesta, olhar a escola, procurando analisá-la, percebê-la e interpretá-la, visando inferir conclusões, a partir das quais possa legitimamente apresentar um conjunto de soluções alternativas àquelas a que a tutela tem, precipitada e inconsequentemente recorrido, não pode nunca ignorar a complexa e emaranhada realidade que envolve toda a sociedade portuguesa em geral, já de si, cativa do todo universal, e, ainda, em particular, as especificidades do nosso sistema educativo, tão sistematicamente desprezadas.

     Portugal encontra-se, cada vez mais, refém do inexorável avanço da globalização onde pontificam os “media”, a invasão das novas tecnologias e a avassaladora influência de ambos; e escrevemos “refém”, porque tem sido através deles que a nossa mal preparada sociedade tem absorvido, paulatinamente, a dissipação dos valores; tem renunciado aos princípios; tem rubricado atropelos à ética e à moral, no âmbito de uma escola massificada, que ainda não conseguiu tirar partido da multiculturalidade em presença e da diversidade étnica deficientemente “integrada”, por razões, neste particular, meramente políticas.

    A laicização do estado (cá dentro) e a teocratização (lá fora) de certas sociedades, alimentadas estas pelo fundamentalismo exagerado, hostil ao ocidente e à sua cultura, são outras tantas achas para a fogueira da complexidade empedernida da vida dos nossos dias. Se, por um lado, se vão diluindo os brandos e ingénuos costumes alicerçados na trilogia Deus, Pátria e Família, por outro lado vai ficando aberto o caminho ao facilitismo, à irresponsabilidade, à incompetência, à dissolução do significado dos vários papéis sociais que impendem sobre os cidadãos, quer da sociedade civil, quer daquela que a complementa. No meio é que está a virtude, convenhamos!

       Desmantelada essa escola de vida que era a tropa (não a guerra), reduzido o simbolismo da bandeira e do hino à mais ínfima espécie (futebol e pouco mais), descaracterizada a família e a sua orientação modelar, transformada a escola num campo de rivalidades e trabalhos forçados, onde o professor perdeu toda a individualidade e autoridade, pouco mais resta às crianças de ontem, aos jovens de hoje e aos homens de amanhã, absolutamente traídos nas suas mais legítimas expectativas, do que a busca desenfreada do prazer versus solidariedade e dever, na tentativa de combater a frustrante desilução de uma vida sem sentido.

        A escola não consegue sozinha arcar com a responsbilidade de inverter semelhante estado de coisas: importa definir os vários territórios de pertença onde se movimentam os elos da comunidade educativa (estafado conceito este), atribuir-lhes os papéis adequados, bem como ter a capacidade de saber e conseguir estabelecer as áreas de abrangência comuns.

       Torna-se urgente dar o tiro de partida para a renovação da escola; fomentar nos jovens o exercício da cidadania como valor integrador; diminuir o fosso físico-afectivo entre pais e filhos; moralizar as instituições; respeitar e considerar os professores, dialogando e negociando, efectivamente, com esse baluarte fundamental da sociedade.


       E encerramos com uma última nota, veementemente crítica, relativamente ao anunciado esbanjamento de recursos, à revelia das reais necessidades do nosso país, como forma de “combater a crise”. Ao desperdício anacrónico de dinheiros públicos aplicados nas salas construídas nos recreios, diminuindo anacronicamente os já reduzidos espaços arborizados de lazer e distensão para as crianças. Cada vez mais, as áreas onde se inserem os estabelecimentos de ensino, passaram a ser antros comprimidos sem nenhum espaço de terra, de ar livre, de jardins, onde, de forma absurda, são inscritas mais e mais crianças. A Educação e o Ensino, em Portugal, estão transformados en autênticas aberrações institucionalizadas... para mal das nossas crianças; para descrédito dos nossos jovens; para desconchavo da sociedade futura.

Nota: net pic