sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

SONHO MÁGICO

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Sonho pejado de cores sem fim
anelando íris no céu que meço
plástica sinfonia do regresso
perfumada quimera de cetim

Afinal eu não sei se no jardim
do sonho mágico que hoje teço
manténs viçosa a flor que só te peço
por ser de pedra o som do clarim

Sonho por nós fechado no lamento
de não sonhar na senda do tormento
apunhalando a dor na madrugada

da servidão mais triste que negada
na afirmação dos actos que se escondem
nos medos que sem fala me respondem 

in "O Rumo e o Sonho" - M.B.S. - 2001
Fólio Edições


 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

PSICOLOGIA E PEDAGOGIA

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  Sempre que se reflecte sobre o acto educativo, quem quiser ser minimamente honesto consigo próprio e também com os outros, não pode deixar de, antes de mais nada e perante a multiplicidade das várias vertentes que se ligam com este tipo de problemática, procurar perscrutar o tipo de relações que, sem deixarem de ser aparentemente contraditórias ou não tanto, se estabelecem naturalmente entre PSICOLOGIA e PEDAGOGIA, para poder concluir que entre ambas existem, não só simples pontos de contacto, mas também uma profunda conexão.



    A perspectiva psicológica que apoia, quer se queira quer não, a actividade pedagógica significativa, ainda que aquela raramente tenha sido formulada numa linha de conhecimento científico, expressa-se na mediata observação das pessoas e na maneira como com elas se lida. Se olharmos a Pedagogia como a "teoria da acção", utilizando-a, portanto, de forma prática, logo, evitando tentações especulativas, somos levados a não ignorar a realidade psíquica em toda a sua especificidade particular, bem como a sua diferenciação gradativa. Embora possam divergir as opiniões dos vários entendidos sobre este tipo de matéria(s), tal facto não anula a verdade das relações existentes entre PSICOLOGIA e PEDAGOGIA, nem tão pouco as torna mais fáceis de descortinar.

   Atentemos na frase de Herbart (1776-1841), quando este afirma: "A Pedagogia, como ciência, depende da Filosofia e da Psicologia práticas, mostrando aquela o objectivo da educação e esta as vias, os meios e os obstáculos". Na prática, as palavras de Herbart pretendem demonstrar que tanto a Psicologia como a Ética devem fundamentar cientificamente a Pedagogia, para que a mesma possa ser vista como ciência.

 Posteriormente, Meumann (1905-1960) apresentou-nos uma nova forma de alicerçar a Pedagogia científica, a partir dos fundamentos da Psicologia experimental. Segundo Meumann, o que até aí tinha estado ausente da Pedagogia, tinha que ver com as bases empíricas do conhecimento das situações, dos contextos, da realidade, daquilo que hoje se define como sendo "o terreno", relativamente ao qual todos os princípios, normas, comportamentos e atitudes pedagógicos devem ser elaborados, determinados e levados a efeito. Estaria assim constituída a tarefa da Pedagogia experimental.

  Lay nivelou, inclusivamente, a Pedagogia experimental pela Pedagogia científica. Hoje em dia, no entanto, as coisas não são vistas exactamente assim, pelo que, consideram os entendidos, nem a Psicologia pode determinar os objectivos e o conteúdo da tarefa pedagógica, nem consegue, de forma isolada, fixar os métodos da Educação e do Ensino.

     A Psicologia, pela sua própria natureza, continua a ser considerada uma ciência do ser e da experiência, ao passo que a especificidade do pensamento pedagógico assenta na abrangência do ser e do dever, num acto mental apenas. Não sendo, portanto, a Psicologia uma ciência de Fundamentos, logo, não é possível encarar a problemática da Psicologia pedagógica como se de Psicologia aplicada se tratasse. (CONTINUA)







sábado, 25 de janeiro de 2014

DE SAUDADE EM SAUDADE

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É na dor que de saudade em saudade
vou tecendo as malhas do sofrimento
sem querer sucumbir ao vil tormento 
de te saber perto da tempestade

Sacudo como posso esta ansiedade
teu coração é meu de estar sedento
por um minuto teu eu tudo tento
já que por ti jurei não ter idade

Assim vou seguindo a tua imagem
livre caudal meu doce rio selvagem
construindo mil castelo no ar

Enquanto triste minha alma chora
só me resta o afago da flora
o verde tropical do teu olhar



terça-feira, 21 de janeiro de 2014

ANSEIO

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No sonho desespero de desejo
é que beber só quero dessa fonte
plasmada a mesma cor no horizonte
flui em mim doce paz que tanto almejo

Com amor já dissipaste meus males
vem daí hei-de levar-te ao mar alto
tu e eu corações em sobressalto
já por serras por montes e por vales

Depois naquela imensa vastidão
ninguém impedirá tanta paixão
feliz remanso afecto mil loucuras

Com o tempo desbotam os papéis
então livres nossas almas fiéis
fundir-se-ão nas mais ternas venturas



segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

MAGIA DE AMOR

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Dá-me o Sol ouro verde desse olhar
meu farol aceso na madrugada
vem pura como a neve imaculada
na minha alma pra sempre vais morar

És campo de milho pomar frescura
és rio mar meu anjo redentor
galáctico por ti é meu amor
cadinho incandescente de ternura

São de dor os hiatos temporais
ausências tenebrosas por demais
não vens falta-me o ar por que respiro

Se chegas apagas a luz do dia
envolto em doce manto de magia
solta meu coração louco suspiro




domingo, 19 de janeiro de 2014

DOCE CONVITE

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Vem naquela duna fazer amor
vamos harmonizar na Natureza
duas almas que buscam com presteza
a plácida quietude da flor

Arranca do meu peito o mal da dor
beija-me doce brisa com leveza
e partilha a confusão da certeza
de que tens como eu a mesma cor

Ao chamar-te brisa sinto-te paz
como sempre faço se nos apraz
ir mergulhar nas ondas dos teus seios

Prender-me para sempre nos teus braços
comungar a frescura dos abraços
buscando teus meigos ternos enleios


quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O MEU AMADO JORGE



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Este pequeno e despretensioso texto visa, tão só, homenagear esse vulto enorme da língua de Camões, que tantas e tão excelentes obras nos legou durante os seus 89 anos de vida. Falo, naturalmente, do meu Amado Jorge, isto é, de um dos meus autores favoritos – JORGE AMADO.

Este estraordinário escritor e ser humano nasceu no dia 10 de Agosto de 1912, no Estado da Bahia, em Itabuna, na grande nação sul-americana de expressão lusófona, que é o Brasil. O pai de Jorge tudo fez para que o rapaz estudasse Engenharia, Direito ou Medicina. Jorge Amado optou pelo curso de Direito, a par de uma participativa militância cultural e política, no âmbito de uma corajosa actividade cívica. No ano de 1935 consegue a licenciatura, mas não procura o diploma nem chega a exercer advocacia.

No ano de 1930, com 18 anos apenas, portanto, assina o seu primeiro romance – O País do Carnaval, ao qual se seguiram Cacau; Suor; Jubiabá. Em 1941 vê-se obrigado a optar pelo exílio, na Argentina e no Uruguai, depois do seu excelente livro Capitães da Areia ter sido queimado pelo regime brasileiro, em 1937.

A partir do terminus da Segunda Grande Guerra, em 1945, Zélia Gattai passa a fazer parte da vida de Jorge Amado até ao fim dos dias do escritor. É da responsabilidade de Amado, também enquanto deputado federal pelo Estado de São Paulo, a lei que assegura a liberdade religiosa no Brasil, embora tenha vindo depois, em 1947, a perder os seus direitos políticos, devido à ilegalização do Partido Comunista Brasileiro, ao qual pertencia desde muito jovem.
 
Manipulado mas não maniatado, Jorge Amado exila-se de novo, desta feita na França e na Checoslováquia onde permanece até 1952, na companhia de Pablo Neruda, de Pablo Picasso, de Louis Aragon e de Nicolás Guillen, não deixando nunca de escrever e de lutar pela paz e pela democracia.

1961 será um ano cheio de sucessos para Jorge Amado: é eleito para a Academia Brasileira de Letras; Academia de Letras da Bahia; Academia de Letras da República Democrática Alemã; Academia de Ciências de Lisboa.
 
No ano de 1958, Gabriela, Cravo e Canela torna-se um estrondoso êxito literário, e a Metro Goldwyn Mayer paga ao escritor chorudos e merecidos direitos cinematográficos pela obra. Em 1963 Jorge Amado muda-se definitivamente para a Rua Alagoinhas, em Salvador, para a casa adquirida, em 1958.

Jorge Amado, ao longo da sua vida, recebeu vários prémios internacionais, dos quais destaco os seguintes: Prémio da Latinidade (França, 1971); Prémio Pabo Neruda (Rússia, 1989); Prémio Mediterrâneo (Itália, 1989); Prémio Luís de Camões (Brasil-Portugal, (1995).

São dele, também, entre muitos outros, os seguintes títulos: Comendador da Ordem das Artes e das Letras (França, 1979); Grande Oficial da Ordem de Santiago da Espada (Portugal, 1980); Comendador da Ordem do Infante Dom Henrique (Portugal, 1986); Grande Oficial da Ordem do Rio Branco (Brasil, 1987); Ordem Carlos Manuel Céspedes (Cuba, 1988), etc..

Jorge Amado deixou-nos, na Bahia, no dia 6 de Agosto de 2001. 

 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

CENAS E CENÁRIOS

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A cosmética escontra-se intimamente ligada ao teatro, por força da necessidade de caracterização dos actores. Mas isso eu entendo. Já não percebo a cosmética incrível que vive paredes meias com a política. A não ser que esta não passe também de mera encenação. Falo, claro está, dos recentes números do desemprego, alegadamente em fase decrescente, enfim...

Mas nada disto altera grandemente todo o pano de fundo que se desenrola face às imposições reformistas a que nos obrigam os senhores do capitalismo selvagem, arbitrário e redutor; estes escolhem ou rejeitam, a seu bel-prazer, os cidadãos e as cidadãs, de acordo com o mais errático mercado de trabalho que lhes é dado promover ou aniquilar; mercado que se tem tornado, de dia para dia, cada vez mais fantasmagórico, mais diluído na imaginação de quem com ele ainda sonha, porque dele dependem as suas vidas, cada vez mais vegetativas; é que os contratos não surgem, principalmente para os jovens, esvaziados de esperança, degradados pela ausência de emprego, logo, nem sequer susceptíveis de ser explorados; por isso, resta-lhes a inutilidade de ser e de estar, olhados como prejudiciais... porque existem! Que fazer, então, se só se adquire alguma co(no)tação, de quatro em quatro anos, enquanto clientela eleitoral?!...

E depois “é a população que está envelhecida...”. Nada disso! É, pelo contrário, a população que não é renovada, isso sim! Basta de propaganda insidiosa!

Mas, como dizia, a democracia tem destas coisas, e, periodicamente, leva os seus mentores a uma agitação forjada em torno dos problemas laborais, da empregabilidade, numa reacção encenada, que procura manter esquemas estafados, visando estender no tempo (eleitoral) joguinhos de poder e de hierarquias por demais obsoletos. Tudo isto, embora possa adquirir, aparentemente, uma certa feição ilusória de um comportamento inocente, repleto de humanismo, legalmente balizado, não deixa, no entanto, de constituir uma séria ameaça à segurança vivencial das massas trabalhadoras. Já imaginaram se não estivéssemos em democracia?!!

Pois é, nem é bom pensar! É que, nesse caso, nem sequer o direito a estarmos vivos seria respeitado, se tivermos em conta tudo quanto se passou já – o tempo é ainda curto, mas a memória também –, aquando do regime nazi, do bolchevismo, do Maoismo, do Castrismo, do Bushismo, do Mugabismo e de outras ditaduras tristemente autoritárias.

A territorialidade, a agressividade e a ambiciosa ganância pelo lucro têm desencadeado no homem comportamentos e atitudes de deplorável barbárie. A humanidade só se regenera pela educação e pela socialização sistemicamente enquadradas. Torna-se urgente travar, quanto antes, o presente retrocesso civilizacional.



terça-feira, 7 de janeiro de 2014

ALUCINAÇÃO

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Sinto-te sem nunca ter a certeza
e fico noite e dia à tua espera
bebo esse corpo fluido de quimera
alento que mantém a chama acesa

Invades feita sombra de tristeza
o Éden desprezado que só era
lembrança cativa doutra esfera
sem penumbras subtis nem tibieza

Não posso confundir a solidão
nem consigo soltar a ilusão
de te ter só por ser o que te invejo

Desperto e permaneces sempre pura
inerte e inebriado de loucura
no sonho desespero de desejo

M.B.S. in "O Rumo e o Sonho" - 2001
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sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

O FERO FOGO

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A madrugada já vai alta. Serão talvez umas cinco horas. Não tarda muito o sol virá beijar a paisagem, de mansinho no início; depois, com a intensidade gradual característica do mês de Agosto, neste Portugal tão lindo e tão imerecidamente maltratado.

A viatura que conduzo prossegue cautelosamente, não vá o diabo tecê-las; o diabo e os automobilistas descuidados, que os há por aí aos pontapés. Subitamente, depois de desfeita uma curva mais, bem no topo da serra, por entre a densidade fresca e verdejante do arvoredo, descortino uma sumida e anémica fumaça, em espiral, subindo na atmosfera em direcção à minha raiva mal contida; contra os esforços dos soldados da paz; à revelia dos legítimos e genuínos interesses das pessoas civilizadas e da saúde já periclitante do próprio planeta.

Liguei para os bombeiros. Num ápice, a fantasmagórica criatura transformou-se num estranho rolo de formas bizarras; engrossou, tornou-se compacta e foi pairando no ar por sobre um extenso manto de labaredas impiedosas. Escassos cem metros à frente avisto mais fumaça e mais e mais, como se estivesse perante uma operação concertada por um qualquer exército de ódio, de decadência, de demência, de anarquia, de total destruição da “ditosa Pátria, minha amada”, vá-se lá saber porquê...

Tem sido este o “espectáculo” que mais vezes se tem vindo a repetir ao longo das últimas décadas, não só e principalmente no Verão mas também em qualquer outra altura do ano desde que deixe de chover. No entanto, quando chove, no Inverno, são as lamas, as pedras e os detritos das áreas ardidas que invadem as zonas habitadas e provocam o caos. Que diabo! Quando se argumenta que os incendiários são meia dúzia de mentecaptos reincidentes, será que devemos cruzar os braços e permitir que Portugal continue à mercê de atrasados mentais?! Não seria melhor, quer nesta matéria quer em tantas outras que nos têm tolhido os passos e desfeiteado a honra, que o País agisse em conformidade, de forma a obstar a tão decepcionantes e nefastos registos?!

Pois é, meus caros amigos, não me compete a mim aventar receitas, propostas, pareceres ou soluções. Os governos que comecem a governar, de uma vez por todas, que é para isso que foram eleitos...