sexta-feira, 29 de novembro de 2013

SEXUALIDADE - O CORPO E A ALMA

Considero ser chegada a altura de dar por encerrada a presente temática, não sem antes tentar discernir um pouco sobre estes dois aspectos intrínsecos da sexualidade humana – o corpo e a alma.
 
Sob o ponto de vista antropológico, o homem é visto, modernamente, segundo uma perspectiva de unidade absoluta, tendo em conta a dimensão absoluta do seu próprio ser. Nós somos o nosso próprio corpo e é através dele, enquanto impregnado de uma alma que o vivifica, que sentimos as alegrias, as frustrações, os desejos; é no corpo, e pelo estímulo da alma que concretizamos a interactividade com o universo dos outros, perseguindo a realização dos nossos sonhos.
 
Fácil, portanto, se torna concluir que, sendo embora cada um dos seres humanos um corpo animado pelo espírito, somos também seres sexuados. Nesta conformidade, não é conveniente, ou melhor, não é possível tentar desviar o sexo da unicidade corpórea e espiritual que o integra, forçando-o a trilhar caminhos que obviamente banalizam e desequilibram a função da sexualidade propriamente dita, ao serviço do ser.
 
Assim sendo, a sexualidade deve servir o homem, visando a sua dignificação, a sua realização pessoal, familiar e social, enquanto expressão profunda da afectividade dos casais, na senda da paz, da harmonia e da tranquilidade familiares, na construção de uma sociedade equilibradamente estruturada, onde o bem estar psicológico e afectivo possam gerar seres saudáveis, felizes e úteis ao próximo. Ao invés, devemos rejeitar todas as formas de violência aliadas aos distúrbios sexuais, nomeadamente as violações, o tráfico humano e a prostituição; a publicidade aberrantemente sexuada e, por último, essa indústria execrável que dá pelo nome de pornografia.
 
Nos nossos dias, a sexualidade tem sido problematizada de forma complexa e radical, através de modernas práticas técnico-científicas: congelamento de embriões, fecundação in vitro, clonagem, transsexualizações, aluguer de úteros... Tudo isto levanta inúmeras e intrincadas questões de cariz bioético, as quais não arrisco equacionar.
 
Por último, resta-me abordar um dos aspectos mais ignorados da sexualidade – a outonal, tão imprescindível afinal. A todos quantos tutelam os nossos velhos recordo: a sexualidade não se esgota apenas na genitalidade, na intimidade física que busca o orgasmo e a procriação... ou não; os nossos pais e avós, genitalmente debilitados ou mesmo inibidos de agir, por força da idade, doenças, ou fármacos, podem sempre optar por outras formas de sensualidade, entre as quais se encontra a simples carícia, o beijo, a conversa cúmplice e marota, lado a lado; um abraço, um pezinho de dança, etc., etc.. No fundo, no fundo, o importante é estar vivo e fazer sentir ao outro isso mesmo.

NOTA: net pic

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O NEXO DO SEXO

       Na sequência do que nos escritos anteriores ficou dito, impõe-se uma nova atitude face a uma realidade controversa e exigente, como o é a da educação dos afectos. E porque, quando de sexo se fala, de afectos se trata, recordo ao leitor os binómios a que atrás aludi: corpo/espírito; matéria/mente; biologia/emocionalidade.

       Sendo assim, o sexo tem de ser olhado e visto tal e qual se nos apresenta, sem medos nem simples receios; sem mentiras; sempre na exacta medida da curiosidade de quem se ensina, conforme já alertei também. Hoje, deve existir total abertura, segurança e informação fundamentadas, em contraponto com qualquer ética apoiada em hipocrisias, em qualquer jurisdição ultrapassada, em qualquer prática cultural desenquadrada, em qualquer contexto social de lesa personalidade.

      O sexo deve ser tratado como algo que nos diz directamente respeito, porque constitui uma incomensurável riqueza pessoal, no âmbito da multiplicidade dos vários aspectos segundo os quais a Natureza permitiu ao ser humano se expressar, em plenitude, enquanto tal. Mas... quando se fala em política educacional, este assunto deve ser tratado por quem e em que moldes?!

      Evidentemente que, sobre um tipo de matéria tão candente como a que respeita à temática vertente, ou se têm ideias e conhecimentos precisos sobre a questão, que o mesmo vale por dizer, ou sabemos o que queremos, para e por onde vamos, ou então mais vale ficarmos quietos e calados e não andar a desperdiçar o precioso tempo de estudo (o nosso e o dos outros), através de falaciosas acções de motivação gratuita e desviante.

     Por um lado, sempre achei fundamentais a informação e o conhecimento, em detrimento do silêncio e da ignorância que, de resto, não aproveitam a ninguém. Por outro lado, considerei sempre que, deve estar fora de cogitação o regresso ao autoritarismo regulador da conduta das nossas crianças e jovens, mormente quando se trata da sexualidade, pelo que a seguir se expõe:

    Importa a implementação de orientações e esclarecimentos cabais, que consigam, por si só, fomentar o desenvolvimento de personalidades autónomas e esclarecidas; desprovidas de traumas e culpabilizações (como no passado recente). Desta maneira, através de princípios e atitudes apoiados em comportamentos e acções educacionais arejados, lavados e inovadores, assentes em valores perfeitamente inteligíveis, seria possível operar na pessoa de cada cidadão escolarizado a natural autodeterminação que visaria a realização de cada um no seio da sociedade que se quer interactiva e progressista. Esta forma de estar e de sentir, tendo sempre presente a preocupação de respeitar o outro e nós próprios, tem, necessariamente, de partir do interior de cada um com convicção e justeza absolutas.

        Falando, de novo, dos mitos que sacralizaram a sexualidade na antiguidade, chamo a atenção do leitor para o cuidado a ter com o seu regresso. Os mitos continuam hoje a funcionar, num outro contexto, arrastando tudo o que ao sexo diz respeito para a esfera da animalidade ou do mero entretenimento lúdico. Acaso conhecem, a respeito do que acabo de afirmar, aquela anedota, graça ou chalaça que designa a zona genital como “área de lazer”?! O sexo e a sexualidade não podem continuar a ser difundidos enquanto problemática, a um tempo, grosseiramente empolada e mal gerida.


      Nas grandes superfícies (também vendem livros), estes, grosso modo, em papel de luxo e profusamente ilustrados, abordam a sexualidade, por norma, de maneira puramente anatómica, biológica, sem nenhuma preocupação de ordem psicológica, emocional ou afectiva. Caminha-se, assim, para um beco sem saída, onde a repetição exaustiva e viciante do sexo, por parte de quem tem sido ludibriado com “ensinamentos” deste jaez, só pode levar à degradação moral e às perversões, numa linha de frustrante obsessão de algo doentiamente vago, vazio e escravizante.

(CONTINUA)            
                                           Nota: net pic

                               

domingo, 10 de novembro de 2013

A POLÉMICA PERSPECTIVA DO SEXO

        O polémico psiquiatra e neurologista, Wilhelm Reich (1897-1957) defendia as suas muito próprias teorias de combate à moral sexual burguesa, apontando os possíveis caminhos da felicidade humana, através da queda de todas as barreiras repressivas, idealizando uma sociedade sem traumas, na medida em que a líbido pudesse ser canalizada livremente e sem tabus, proporcionando a pacificação psicológica dos indivíduos. Só que o sexo constitui apenas um dos aspectos da vida humana, e as coisas não podem nem devem gravitar unicamente em torno dessa realidade.

         Se olharmos à nossa volta, não obstante a liberdade dos tempos que vão correndo, rápida e facilmente constataremos o quão enganados estavam os especialistas que, na linha de Reich, defendiam uma espécie de anarquia sexual. Basta que escutemos os telejornais e acompanhemos os diários deste nosso Portugal, também neste campo, imensa e incrivelmente martirizado. O sexo desenfreado, de feição puramente animal, ao invés de libertar e realizar o ser humano, tem tido o condão de o viciar e seviciar, de o tornar dependente, de o agrilhoar sem dó nem piedade.

        No nosso tacanho rectângulozinho, onde se confrontam várias classes sempre eivadas de mesquinhas e inconfessáveis motivações, o fenómeno da sexualidade tem desendadeado uma enorme controvérsia, já de si inconsequente, porque cíclica ou gratuita, sempre que, uma vez por outra, ousa esgrimir argumentos balofos, meramente lúdicos, sem deixarem de se insinuar pintalgados de um certo narcisismo doentio, tão típico, afinal, do desfile mediático do insuportável cortejo a que fazem gáudio em pertencer e participar os políticos da nossa praça.

         
        Não nos podemos dar ao luxo de falar de sexualidade só por falar, ou porque se trata de uma problemática que hoje assume foros de moda. Quão efémera é a moda, no fundo, todos sabemos e, por isso mesmo, importa encarar este assunto com frontalidade e sentido da sua real implantação nas modernas sociedades ocidentalizadas, das quais Portugal não pode nem deve constituir excepção. Não nos quedemos, então, reféns de preconceitos, complexos, hipocrisias, excessos, falsas morais ou seguidismos miméticos. Discernimento, consciência moral, racionalidade, pragmatismo e clarividência procuram-se...

Nota: net pic

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O CHÃO DOS SENTIDOS - LINK PARA A PÁGINA DO LIVRO NO FACEBOOK


- HOSPITAL MILITAR DE LUANDA -

VÍTIMA DA GUERRA COLONIAL, PEDRO CARTAXO TEM DE 

FICAR INTERNADO...



in "O CHÃO DOS SENTIDOS"

Romance Histórico

de

Manuel Bragança dos Santos

https://www.facebook.com/ochaodossentidos?ref=hl

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

SEXO E SEXUALIDADE – NOTAS CONEXAS

        A sexualidade foi sempre mais ou menos olhada como algo estranho, misterioso e passível de causar embaraços. Que o digam aqueles que pouca ou nenhuma informação receberam, ao longo das várias etapas do seu desenvolvimento. Quer se queira quer não, a sexualidade faz parte integrante do indivíduo, enquanto ser sexuado, não podendo nem devendo ser ignorada, principalmente pelos pais, educadores e professores. É conveniente que se encontrem bem preparados e devidamente informados, possuindo também a suficiente capacidade pedagógica. Assim, na equilibrada medida das necessidades dos filhos respectivos e dos educandos sob a sua responsabilidade, de forma pertinente, contextualizada e oportuna, poderão estar aptos a prestar os esclarecimentos necessários em cada momento, sem adiantar, seja o que for, para lá do estritamente requerido. Nada deve ser oculto, portanto, na medida da curiosidade manifestada por quem pergunta, porque quer saber.

       A sexualidade marca o homem desde a Antiguidade. Recorde-se a filosofia dos estóicos: esta advogava a fundamentalidade das vivências humanas, sempre estribada, pautada pelas exigências da razão, pelo que o prazer resultante da satisfação dos desejos carnais se converteria em inimigo desse tipo de ideal. Em termos éticos, o homem deveria reunir todas as forças possíveis e impossíveis, no sentido de, sistemática e permanentemente, aniquilar as paixões, libertando-se dos impulsos desregrados, embora instintivos, até ao mais completo paroxismo apático.

         Sobre esta matéria, as tendências e as doutrinas, através dos séculos, sucederam-se sem grandes variações entre si. Tratando-se da sexualidade, todas elas defendiam o mesmo tipo de desconfianças e de medos, sempre associados ao pecado, à culpabilidade e até ao desprezo pelas várias vertentes de um assunto tão assaz comprometedor.

        Mas, o sexo nem sempre foi tabu na generalidade dos contextos histórico-filosóficos: a sexualidade chegou a ser sacralizada pelo mito, o que tornaria o sexo como algo outorgado pelos deuses, visando práticas sagradas.

      Curiosamente, nos nossos dias, a sexualidade encontra-se acentuadamente desconstruída, enquanto função intimamente ligada ao binómio corpo/espírito, matéria/mente, biologia/emocionalidade. Hoje, a sexualidade é olhada, em regra, como algo puramente animal, numa linha de total desprezo pelos valores da afectividade e da vida.          M.B.S. (CONTINUA)
Nota: net pics