quinta-feira, 29 de maio de 2014

SOL DE DESEJO

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Com a mão férrea da vontade eu sei
as construções erguidas de ilusão
que a realidade mistifica em vão
castelos onde mais ninguém é rei

Fizemos do sonho rumo na lei
que Deus mostrou por pedra na missão
que fluida persevera de intenção
no regato da lua que te dei

Entre Céus e Terra permanecemos
ainda que no céu que já não temos
possa brilhar um astro de mil cores

Que só é se não for o que tu fores
esse Sol de energia fulgurante
que na Terra persigo anelante

in "O Rumo e o Sonho" - 2001
Fólio Edições

segunda-feira, 26 de maio de 2014

DISSERAM SOCIEDADE EDUCATIVA?!

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Muito se tem dito e escrito sobre a moderna sociedade educativa (?!) e, como não podia deixar de ser, sobre o papel do professor, enquanto foco primeiro de todo o sistema educativo; figura de proa do quadro referencial, não só alargado, mas também específico da dita sociedade educativa, devendo, ao mesmo, ser reconhecido o papel de principal autoridade na matéria, através da revalorização urgente do seu estatuto profissional (tem sido feito o contrário), para que seja possível tanger o desiderato do real progresso social e da compreensão atilada a respirar entre os diversos sectores da sociedade dos povos, na persecução do atenuar das estratificações e injustiças que frustram as gentes.

Evidentemente que tal objectivo não pode ser alcançado sem os meios de trabalho que, da forma mais correcta, propiciem a pertinência de um projecto com características tão particulares e envolventes. A escola não dispõe desses meios no momento actual, nem poderá contar com eles nos anos mais próximos. A situação, a este nível, tem sempre assumido, vá-se lá saber porquê, contornos de aviltante fatalidade.

No fundo, a ideia que hoje paira no ar, no sentido de inverter o rumo dos acontecimentos, e que dificilmente se tenta implementar, porque exige vontade política e verbas astronómicas, é a ideia reflectida por aquela já velhinha expressão popular de que todos ouvimos falar - "aprender até morrer" -, e que desemboca no conceito bem actual, e tão gostosamente importado dos países europeus civilizados, da chamada sociedade educativa, no seio da qual é previsível vir a tirar partido, de feição pedagógica, dos vários espaços da vida do quotidiano, sejam eles de cariz social, cultural ou económico.

Nesta medida, tem sido tentado, por meio da legitimação de tais conceitos, exaustivamente agitados, e de alguma legislação atinente, nem sempre devidamente enquadrada, firmar convénios, contratos e parcerias com associações culturais, empresas e outras agremiações, para que a escola seja financeiramente apoiada pela sociedade que, afinal, serve.

Longe de nós negar o alcance ideal de tais projectos, aliados, de resto, à incontestada necessidade, sempre acrescida, de actualização de saberes e competências da classe docente, mas, para isso, e no interesse integrado da sociedade educativa, devem ser criadas condições de frequência dos respectivos cursos de formação e de enriquecimento de conhecimentos, sem que se verifiquem choques com as horas normais de leccionação, ou prejuízo dos períodos úteis, humanamente imprescindíveis, de distensão dos profissionais do sector.

Pensamos também que o actual e tão propalado afã de colectivizar o desempenho docente, não traz benefícios palpáveis ao sistema educativo, nem às aprendizagens dos alunos, dado que a investigação, o estudo e até mesmo a leccionação são demonstrada e manifestamente tarefas que devem ser individualizadas, embora se possa, por vezes, trabalhar em equipa, apenas para que a troca de impressões e o relato posto em comum, de experiências de carácter pedagógico, possam ser aproveitados para o desenvolvimento de atitudes alternativas ou complementares, em contexto de sala de aula.

Vistas bem as coisas, no âmbito de toda esta importante problemática, e de acordo com aquilo que se passa hoje ao nível da produção legislativa, também em função dos registos daquilo que se vai (ou não) passando no terreno, para além de tudo o que a experiência nos tem demonstrado e aconselhado, depois da formação turbulenta, mas economicamente estratégica (falta saber se a longo prazo o será) dos mega-agrupamentos, tudo se configura para que tudo pudesse vir a funcionar menos mal, no âmbito ideal da aludida sociedade educativa.

Assim pensaram os teóricos e, se calhar, fizeram figas, depois de terem depositado no banco das intenções, tamanho capital de expectativas.

De nada vale, no entanto, a magia das representações de políticos pouco hábeis e nada atentos ou empenhados; vistas bem as coisas, repetimos, na prática, multiplicam-se a complexa confusão da salada etária, com os consequentes e irreversíveis transtornos de ordem psico-afectiva de todas as crianças envolvidas; a labiríntica e esmagadora miscelânea de docentes, discentes, assistentes operacionais e funcionários administrativos; ao professor ainda não lhe foi conferida a tal autoridade, autonomia e individualidade que o estatuto deveria assegurar e reforçar; os meios ao dispor da classe não são os mais adequados e, relativamente às parcerias, convénios, tratos e contratos com as diversas pessoas colectivas e instituições diversas, aqueles tornam-se extremamente difíceis, senão mesmo impossíveis, numa sociedade que, cada vez mais, tem pautado os seus comportamentos, atitudes e reacções pelo egoísmo feroz de interesses umbilicais que apenas visam lucros imediatos e sempre crescentes, doa a quem doer; pela indiferença diletante dos mais ricos (também em ignorância, por vezes); pelo cinismo e hipocrisia de alguns políticos, pela total ausência de espírito de solidariedade e empatia e de cultura de valores altruístas no seio da grande família lusitana.

Disseram Sociedade Educativa?! Pois é!... Só que o civismo, a educação e a civilidade de uma imensa franja da população portuguesa, deixa muito a desejar; deixa-nos ficar mal, perante nós próprios e ainda face ao desenvolvimento sócio-económico-político-cultural dos países europeus ditos civilizados.
NOTA IMPORTANTE: ARTIGO ESCRITO EM SETEMBRO DE 2003. SERÁ QUE EVOLUÍMOS?!

sexta-feira, 23 de maio de 2014

TIMOR, MEU SOL NASCENTE

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Oh Timor da minha infância
ilusão de pergaminho
estendido sol distante
mar de fantasia e Pátria e orgulho
Minho Cova Lima Portugalidade infinita
cadinho de culturas ou palavras
afectos que se fundem no devir

Oh Timor dos cravos de sangue
espiralado desejo de verde mar
aconchego amniótico salutar

A lava rubra de vulcão impiedoso
a queimar as frágeis pétalas
das sublimes almas mauberes
Liurais merah putih aturdidas
varridas pelo vento agreste
que tolheu a fútil rosa
desmaiada
pelo visceral sopro de peste

Oh injustiçado Timor
abandonado ao terror
dos dragões da hipocrisia
grudados ao crude jazente
no fundo negro desse teu mar reluzente
até um dia... até ser dia...

Loro Sae Timor meu Sol Nascente
abandonado ao vil torpe e decadente
transgressor
de precária segurança assassina
ilumina o frémito da Fé
no destino do teu Povo
e caminha firme no fito
de visar além o mito
segurando hoje e já o rito
de seres o que és por sermos
homens todos iguais
na busca fulgurante da paz
nas horas de uma lúcida construção

Oh Timor da minha infância
oh iluminado Timor
Loro Sae Timor meu Sol Nascente

Em 30 de Setembro de 1999

quinta-feira, 22 de maio de 2014

A TUA ESSÊNCIA

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O teu rosto flui surpreendente
na superfície líquida do sonho
pujante de acordes e timbres incendiados
na pauta imaculada da paixão

Os teus olhos verdes anos
cintilam de esperança
oceanos
e tormentos de emoção
reprimida a lua na toada solitária
de silêncio frágil ou rígido
tenso pulverizado

Os teus cabelos
revolta arquitectura projectada
arte
esfíngica escultura intemporal
suspiro subtil poema vivo
no rosto dos meus dias

O teu sorriso apaga as intempéries
bonança iluminada melódica doce fresca
magneto de magia vegetal e luar
o teu sorriso...

O teu corpo pedaço de terra
vermelha
é o espaço de loucura
de alma escravizada sem reverso
dependente do perfume dos teus seios
dois cachos de brancas glicínias
ou de uvas azuladas
pejados de seiva e glória
que sorvo anelante nos bagos dos mamilos
pérolas nacaradas de vitória
aveludadas pétalas de memória
a tua pele...

Uma chuva miudinha
beija o teu ventre gracioso
de ninfa e cheiro a fruta
no esteiro secreto de confluência
onde navega um barco de lágrimas
e sémen e cristal e luz
metamorfose
por dentro do sacrário do teu corpo
útero coração bênção divina
fulgor giesta em flor
ilha de redenção no arquipélago dos órgãos
esplendor o teu útero mais que perfeito
gineceu de vida que a Fé embala
ao ritmo dos teus passos
puros firmes musicados pelo vento
num bailado de ramagens e abraços
soltos livres sem idade
como pássaros de cor
no limiar da Primavera
ao encontro das flores
do tempo que é só teu...
que é só teu
como se fosse o espaço...

in "O Rumo e o Sonho" - 2001
Fólio Edições

domingo, 18 de maio de 2014

A PALAVRA POR DIZER

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Que dizer da palavra por dizer?
Aquela que em nós guardámos latente
no cofre do silêncio reticente
de sentido sufocado por ser

nuvem no sol do contacto e suster
no peito que pulsa impaciente
a tal melodia que não desmente
a luz multicolor de te viver

Fá-la palavra por tão bem sabermos
ser feita da clausura que tecermos
pra que viva feroz e decidida

indelével no sulco que nos dita
ser o rumo do sonho ou da desdita
a senda da vitória nesta vida

In "O Rumo e o Sonho" - 2001
Fólio Edições

EDUCAÇÃO OBJECTIVA E CULTURA CIGANA

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Há cerca de um quarto de século, tive oportunidade de frequentar um seminário, iniciado em regime de internamento, no ApartHotel da Curia ( 2 semanas teóricas e duas semanas de prática pedagógico-didáctica), financiado pelo Fundo Social Europeu, subordinado ao tema genérico - "A Cultura Cigana". A vertente prática (segunda quinzena) teve lugar na Escola Básica Integrada (?!) do Bairro de S. João de Deus, no Porto, em contacto directo com crianças ciganas aí domiciliadas.

Logo após o seminário, lembro-me perfeitamente de ter efectuado vários trabalhos escritos onde registei, com o máximo cuidado de sistematização, alguns dos aspectos basilares relativos às ideias fundamentais então interiorizadas. Um desses trabalhos versava a essencialidade da tolerância que sempre se deve manifestar face aos hábitos, costumes, práticas, cultos, valores, crenças, ritos, expectativas e vivências das minorias étnicas.

Na altura, recordo-me perfeitamente, fiz notar o quão rudimentares, titubeantes, indiferentes ou omissas podia significar esse tipo de comportamentos atitudinais desviantes, porque quem apenas tolera limita-se a admitir, a concordar, a aceitar, mas, nada faz no sentido de considerar, de respeitar (?), de encarar com manifesta curiosidade intelectual saudável a diversidade cultural e étnica que cada vez mais nos rodeia.

Vem tudo isto a propósito da postura que, tanto o Ministério da Educação e os docentes em particular, como a população em geral devem assumir relativamente à problemática em apreço. A EDUCAÇÃO, quando perspectivada de forma decididamente objectiva, pode constituir um precioso auxiliar, senão mesmo o principal alicerce do desenvolvimento sustentável, uma vez que, quando os curricula contemplam e equacionam as múltiplas vertentes da realidade social envolvente, devem, necessária e previamente, formar o seu corpo docente para o efeito, não escamoteando, portanto, a existência das várias etnias que fazem parte do nosso tecido social; não ignorando a diversidade dos seus hábitos e cultos; não atropelando a importância das potencialidades que as minorias em si encerram, mas antes procurando perceber o alcance da multiplicidade dos valores universais de identificação e integração sócio-afectiva dos grupos sócio-culturais diferenciados.

Não basta, está bem de ver, como acontece nos outros países não sujeitos a ditaduras, que a EDUCAÇÃO siga, pura e simplesmente, o rumo despreocupado e normal do ensino das coisas básicas, desinseridas daquela estruturação integrada e integrante que se deve ligar à vida e à sua realidade palpável, no sentido do desenvolvimento das populações. A escola deve procurar a implementação de uma EDUCAÇÃO OBJECTIVA, necessariamente atenta aos problemas do dia-a-dia que, como se sabe, podem e devem ser resolvidos com recurso a estratégias de aprendizagem alicerçadas em programas que possam ser  previamente objecto de estudos e aturadas investigações, da responsabilidade dos gabinetes de investigação e estudo das Universidades credenciadas para o efeito.

Hoje, Portugal parece estar perdido no meio do imenso, agitado e atribulado oceano da União Europeia, navegando à deriva na sua estranha e rectangular casquinha de noz, sem remos nem Norte. É que nesta nossa terra, teimamos em continuar a não cultivar princípios tão simples como os do rigor, do respeito pelo próximo e pelo trabalho e, no campo particular da EDUCAÇÃO e do ENSINO, tem sido sistematicamente colocada à frente de qualquer outra prioridade, certos interesses sempre apelidados de transitórios, ligados a cortes, subtracções e poupanças mais que duvidosos, para além de outros esquemas de impensável implementação, ligados ao aparente voluntarismo bacoco e decadente da maioria. Por estranho que pareça, ou talvez não, esse tipo de motivações tem vindo a minar a democracia e os seus pressupostos, porque, sem deixarem de ser alegadamente inconstitucionais, ilegais, ilegítimos, inconsequentes, incongruentes e irresponsáveis, têm demonstrado constituir, seguramente, incompreensíveis derivas parciais e fraccionárias, cuja cansativa tautologia se me afigura prejudicial e decrépita, ainda que a baptizem de politicamente correcta.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

MERCADOS, POLÍTICAS E PESSOAS

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Num ritmo cada vez mais firme e decepcionante, vai caminhando a vida das sociedades ocidentais, no sentido da mais completa e irreversível decadência; numa toada cada vez mais monocórdica e decrépita, vai soando o dia-a-dia dos povos das nações ditas democráticas, em contextos da mais terrível ambiguidade indecifrável... lá fora; cá dentro, escuta-se a toada que advém da pauta rectangular de malabarismos inconfessáveis, cujo canto de sereia, da nossa politicazinha de algibeira, e que teima em se fazer ouvir porque, afinal, continua a haver quem lhe dê atenção, mesmo que não consiga atribuir-lhe percepção – é a população que temos... Enfim, prossegue esta insuportável, ensurdecedora sinfonia arrítmica, sem deixar de soar a falso, regida por pseudo-maestros, cuja batuta fazem gáudio em exibir, numa pose desconcertante de umbilical clave sem sol, sempre à espera dos aplausos ingénuos ou pouco esclarecidos, daqueles que, sem sentido, pouco ou nenhum uso fazem dos sentidos, para já não falar da inteligência, embotada por tanto açoite certeiro.

Parece-me ter sido este o cenário, mais ou menos inalterável, que me tem sido dado apreciar – depreciar – a partir do auditório institucional da política nacional, já lá vão décadas (!!!), sem que a população portuguesa consiga acordar da terrível modorra anestésica, em que se encontra mergulhada – os brandos costumes não explicam tudo – podendo tomar em mãos – já que de democracia se trata – o seu próprio destino, como o fez algumas vezes, com sucesso, ao longo da nossa meritória História-Pátria.

Reparem que, durante as mais recentes campanhas eleitorais, fomos comprovadamente enganados, porque nada nos foi informado, esclarecido ou elucidado, por quem o deveria ter feito, relativamente ao colapso das contas dos vários ministérios, compartimentadamente; do deve e do haver das contas públicas; da dívida externa; do montante escandaloso dos juros a pagar a quem do exterior nos financia; da barbárie dos impostos; da quebra abrupta do consumo, do comportamento das exportações; da gigantesca e avassaladora onda dos desempregados; do endividamento galopante das famílias; da fome, da miséria, da parasitagem social, política e institucional “legalmente” (?!) assistidas, etc., etc., etc..

Já repararam que, não obstante todas estas omissões, ou melhor, precisamente devido a todas estas falhas, alegadamente premeditadas (?), somos diariamente insultados, ao nível da nossa inteligência, por um bem treinado exército de jornalistas, comentadores, ex-políticos, ou seja, os já habituais colunáveis residentes da comunicação social, que teimam em nada dizer, falando sempre as mesmas atoardas, banalidades, num registo medíocre, previamente formatado, de incompetente protagonismo?! Por que razão não é banido de vez este aflitivo coro de avençados, ao serviço deste pântano putrefacto?!

Já agora, e a talho de foice, assinalemos aqui a ignorância gramatical de muitos deles: nunca acertam nas concordâncias entre os vários elementos sintagmáticos da frase; omitem por sistema o uso das formas verbais no conjuntivo; ignoram a posição do “se” quando empregam verbos reflexos; trocam a sonoridade de certas palavras no plural; abstraem-se da própria realidade quando referem “um ponto de situação”, ao invés de O ponto DA situação; quando alguém corre perigo de morte, eles referem, abstrusamente, que corre perigo de vida (?!!!), entre muitas outras coisas. Bolas, isto é demais!

sábado, 3 de maio de 2014

ÁFRICA

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Quero guardar o cheiro a savana no teu corpo
sentir o subtil afago do capim pela manhã
beber o orvalho na folhagem dos teus gestos
vibrar no tropel dos corações em delírio

Por entre acácias verdejando
na densidade das fendas ressequidas
pelo sol crepuscular dos batuques
tão presas ainda à terra dos sentidos
quero guardar o cheiro a savana no teu corpo

Plácida terra que sempre soube de cor
envolve-me no hálito fresco do teu ventre
perfumado

na latência cerrada do teu bosque
nos tons e sons da tua seiva
que bebo insaciável
à boca da madrugada

e vem amanhecer na manta morta
do meu corpo

in "O Rumo e o Sonho" - 2001
Fólio Edições