sexta-feira, 3 de julho de 2015

O DESVARIO DA 1ª REPÚBLICA

        
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         Ao longo da 1.ª República, a população portuguesa viu-se confrontada com imensos desacertos de alguns dos políticos envolvidos na causa republicana, de perseguições, vinganças e assassinatos; ainda de pequenas escaramuças contra a reiterada teimosia monárquica de Paiva Couceiro.

       Quer as várias sensibilidades políticas, quer os diversos sectores de opinião consideravam de primordial importância a manutenção das colónias portuguesas de África, e temiam as consequências da enorme e descarada cobiça e inveja que a Alemanha e a Inglaterra, principalmente, votavam a Angola e Moçambique; tal facto, no entanto, não justificava, por si só, a muito mal explicada participação portuguesa no primeiro grande conflito mundial (1914-1918), na Flandres, em França, onde morreram milhares dos nossos combatentes, nomeadamente por falta de sentido de corpo, de camaradagem, e de apoio por parte do contingente inglês. Sempre os ingleses; desde a aliança de 1375; para o bem e para o mal. Desta vez, para além das vidas perdidas e dos doentes regressados, seria o descalabro das nossas contas públicas. O esforço de guerra precipita de novo o país na banca rôta, conforme situação de 1892, deitando por terra o hábil protagonismo de Afonso Costa, à frente da pasta das Finanças.

         Por via do sucedido e de muitos outros fracassos imputados ao regime republicano, no dia 5 de Dezembro de 1917, verifica-se um golpe de Estado ao qual o povo adere massivamente. A 1.ª República tentava agora implementar o presidencialismo, através da mão firme do major Sidónio Pais, que, para o efeito, forma um governo conciliador das várias facções e classes sociais. Não duraria muito a sua liderança: logo no dia 14 de Dezembro de 1918, Sidónio Pais foi atingido a tiro, na estação do Rossio, em Lisboa, por um ex-sargento do Exército, que viria a ser considerado demente.

        Na noite de 19 de Outubro de 1921, ocorre um dos mais escandalosos e terríveis episódios que viria a ser designado pela noite sangrenta ou noite da camioneta fantasma: esta, a mando, talvez, de outras facções replublicanas nunca identificadas por quem de direito, percorreu Lisboa e foi arrebanhando eminentes figuras da República, para serem friamente executadas, numa carnificina sem paralelo. Uma das primeiras foi António Granjo, ex-primeiro-ministro; Cunha Leal, político de direita, que viria a recuperar dos ferimentos provocados pelas balas; Carlos Maia, antigo ministro de Sidónio; o almirante Machado dos Santos; Pais Gomes, ministro da Marinha; o intelectual Carlos Gentil; entre outros ainda, aquele que viria a ser o grande industrial Alfredo da Silva, já que a bala o não tinha ferido de morte.
         E o desvario prosseguiu, ao mesmo ritmo, com as mesmas nuances, até 1926.

         No dia 28 de Maio desse ano, ocorreria um movimento, no âmbito do qual o General Gomes da Costa, partindo de Braga, com o concurso de várias guarnições militares, afirmava proceder à libertação de Portugal, visando dotá-lo de um governo estável, não sujeito a interesses partidários. O executivo democrático, vigente até essa altura, é, então, vencido e substituído, não obstante a revolta dos marinheiros que contestavam, desde logo, o facto do poder ter sido tomado de assalto pelos militares. Estava lançada a semente de uma das mais duras e longas ditaduras da História de Portugal.

        Em 27 de Abril de 1928, Salazar, a leccionar a cadeira de Ciências Económicas e Financeiras, em Coimbra, volta a ser chamado à pasta das Finanças pela Ditadura Militar, e agora diz “saber muito bem o quer e para onde vai”, embora “a política não lhe interesse nada”, exigindo direito de veto sobre todas e quaisquer despesas públicas. Dois anos antes nada exigira e, ao fim de cinco dias, abandonara a pasta das Finanças. Em 24 de Agosto de 1929, tem as contas públicas equilibradas e anuncia até um superavit orçamental.

    Em 1930, faz publicar o “Acto Colonial”, onde repudia vivamente a descentralização administrativa das colónias. É neste clima de ambição centralizadora, de manifesta atitude monolítica, e eivado de um espírito de umbilical individualismo que cria um “Estado Novo”, em 1932. Em 1933, tem pronta a nova Carta Constitucional que implementa de seguida. A “União Nacional” é o partido do regime.