sábado, 15 de março de 2014

PROJECÇÃO SUBLIMATÓRIA

O conceito psicanalítico de “PROJECÇÃO” pode revestir várias acepções. Para o que aqui e agora importa sublinhar, ater-nos-emos à sua perspectiva mais ampla, definida por Freud – a projecção psicológica funciona como um mecanismo de desfesa que consiste em atribuir aos outros as qualidades e defeitos que se recusam ou desconhecem em nós próprios.

Todos os actos, expressões ou respostas de um qualquer indivíduo, bem como os seus gestos, percepções, sentimentos, decisões, verbalizações ou actos meramente motores, estão sempre, de certa maneira, impregnados com a marca da sua personalidade. Sendo assim, a projecção assume o papel de um acto interior que nem sempre o seu autor consegue controlar conscientemente, até porque o eu de cada um integra outras componentes que não apenas o consciente.

Perante estímulos idênticos, os vários indivíduos dão respostas diferentes que dependem das suas necessidades, desejos, sentimentos, enfim, das suas personalidades globais, intrínsecas e profundas. Se solicitarmos a alguém uma qualquer tarefa, uma acção, como por exemplo desenhar, e se lhe fornecermos um papel e um lápis, o que daí advirá será o resultado da eclosão do inconsciente na rota progressiva do traço individualizado com carácter sublimatório.

Face a esta situação concretamente contextualizada, isto é, dispondo a criatura do mínimo de material para o efeito, mas perante uma elevada expectativa, desenvolver-se-á, neste enquadramento circunstâncial, o respectivo exercício reactivo atitudinal criativo do indivíduo; uma espécie de significação de um propósito que acaba por redundar naquilo que designamos por projecção sublimatória.

O sujeito (criança), porque delas se trata afinal, a partir do universo de uma folha de papel em branco, demandará nas profundezas da alma a inspiração criativa, que pode incluir, ou não, uma ou várias personagens, uma história ou a ausência dela, seja o que for, mas tal constituirá sempre a projecção da sua própria personalidade. Mas, reparem, este tipo de fenómeno não se compadece com espartilhos, condicionalismos, restrições ou directivas temáticas. Na aplicação da técnica projectiva sublimatória, sugere-se à criança que desenhe a seu bel-prazer, porque tem mesmo de ser assim. Importa que a LIBERDADE seja completa e total.

NOTA 1: Segundo Nicolas Georgieff, “Freud considera a projecção como uma forma de defesa contra determinadas representações do desejo inconsciente, em particular no paranóico, em que um sentimento amoroso inconsciente é invertido e depois projectado, aparecendo sob a forma de uma perseguição pelo outro”.

NOTA 2: Para Nietzche, o homem estético deveria dizer não ao feio, porque este era a negação da arte, desde que significasse depauperação, pobreza, impotência, etc... Só através da arte o ser poderia atingir a perfeição e orientar-se para a plenitude.


Imagem do Google

1 comentário:

  1. Meu querido
    Um texto profundo, que desnuda certos comportamentos do ser humano.
    A alma humana é cheia de surpresas e só que muito a estuda pode, efectivamente conhecer melhor o outro.
    Parabéns pela forma sintética como apresentaste uma tão complexa questão.
    Beijinho
    Mana

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