Para
quem hoje tenta, de forma séria e honesta, olhar a escola,
procurando analisá-la, percebê-la e interpretá-la,
visando inferir conclusões, a partir das quais possa
legitimamente apresentar um conjunto de soluções
alternativas àquelas a que a tutela tem, precipitada e
inconsequentemente recorrido, não pode nunca ignorar a
complexa e emaranhada realidade que envolve toda a sociedade
portuguesa em geral, já de si, cativa do todo universal, e,
ainda, em particular, as especificidades do nosso sistema educativo,
tão sistematicamente desprezadas.
Portugal
encontra-se, cada vez mais, refém do inexorável avanço
da globalização onde pontificam os “media”, a
invasão das novas tecnologias e a avassaladora influência
de ambos; e escrevemos “refém”, porque tem sido através
deles que a nossa mal preparada sociedade tem absorvido,
paulatinamente, a dissipação dos valores; tem
renunciado aos princípios; tem rubricado atropelos à
ética e à moral, no âmbito de uma escola
massificada, que ainda não conseguiu tirar partido da
multiculturalidade em presença e da diversidade étnica
deficientemente “integrada”, por razões, neste particular,
meramente políticas.
A
laicização do estado (cá dentro) e a
teocratização (lá fora) de certas sociedades,
alimentadas estas pelo fundamentalismo exagerado, hostil ao ocidente
e à sua cultura, são outras tantas achas para a
fogueira da complexidade empedernida da vida dos nossos dias. Se, por
um lado, se vão diluindo os brandos e ingénuos
costumes alicerçados na trilogia Deus, Pátria e
Família, por outro lado vai ficando aberto o caminho ao
facilitismo, à irresponsabilidade, à incompetência,
à dissolução do significado dos vários
papéis sociais que impendem sobre os cidadãos, quer da
sociedade civil, quer daquela que a complementa. No meio é que
está a virtude, convenhamos!
Desmantelada
essa escola de vida que era a tropa (não a guerra), reduzido o
simbolismo da bandeira e do hino à mais ínfima espécie
(futebol e pouco mais), descaracterizada a família e a sua
orientação modelar, transformada a escola num campo de
rivalidades e trabalhos forçados, onde o professor perdeu toda
a individualidade e autoridade, pouco mais resta às crianças
de ontem, aos jovens de hoje e aos homens de amanhã,
absolutamente traídos nas suas mais legítimas
expectativas, do que a busca desenfreada do prazer versus
solidariedade e dever, na tentativa de combater a frustrante
desilução de uma vida sem sentido.
A
escola não consegue sozinha arcar com a responsbilidade de
inverter semelhante estado de coisas: importa definir os vários
territórios de pertença onde se movimentam os elos da
comunidade educativa (estafado conceito este), atribuir-lhes os
papéis adequados, bem como ter a capacidade de saber e
conseguir estabelecer as áreas de abrangência comuns.
Torna-se
urgente dar o tiro de partida para a renovação da
escola; fomentar nos jovens o exercício da cidadania como
valor integrador; diminuir o fosso físico-afectivo entre pais
e filhos; moralizar as instituições; respeitar e
considerar os professores, dialogando e negociando, efectivamente,
com esse baluarte fundamental da sociedade.
E
encerramos com uma última nota, veementemente crítica,
relativamente ao anunciado esbanjamento de recursos, à revelia
das reais necessidades do nosso país, como forma de “combater
a crise”. Ao desperdício anacrónico de dinheiros
públicos aplicados nas salas construídas nos recreios,
diminuindo anacronicamente os já reduzidos espaços
arborizados de lazer e distensão para as crianças. Cada
vez mais, as áreas onde se inserem os estabelecimentos de
ensino, passaram a ser antros comprimidos sem nenhum espaço de
terra, de ar livre, de jardins, onde, de forma absurda, são
inscritas mais e mais crianças. A Educação e o
Ensino, em Portugal, estão transformados en autênticas
aberrações institucionalizadas... para mal das nossas
crianças; para descrédito dos nossos jovens; para
desconchavo da sociedade futura.
Nota: net pic
Nota: net pic