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Ao longo da 1.ª
República, a população portuguesa viu-se confrontada com imensos desacertos de
alguns dos políticos envolvidos na causa republicana, de perseguições,
vinganças e assassinatos; ainda de pequenas escaramuças contra a reiterada
teimosia monárquica de Paiva Couceiro.
Quer as várias sensibilidades
políticas, quer os diversos sectores de opinião consideravam de primordial importância
a manutenção das colónias portuguesas de África, e temiam as consequências da
enorme e descarada cobiça e inveja que a Alemanha e a Inglaterra,
principalmente, votavam a Angola e Moçambique; tal facto, no entanto, não
justificava, por si só, a muito mal explicada participação portuguesa no
primeiro grande conflito mundial (1914-1918), na Flandres, em França, onde
morreram milhares dos nossos combatentes, nomeadamente por falta de sentido de
corpo, de camaradagem, e de apoio por parte do contingente inglês. Sempre os
ingleses; desde a aliança de 1375; para o bem e para o mal. Desta vez, para
além das vidas perdidas e dos doentes regressados, seria o descalabro das
nossas contas públicas. O esforço de guerra precipita de novo o país na banca
rôta, conforme situação de 1892, deitando por terra o hábil protagonismo de
Afonso Costa, à frente da pasta das Finanças.
Por via do sucedido e de muitos
outros fracassos imputados ao regime republicano, no dia 5 de Dezembro de 1917,
verifica-se um golpe de Estado ao qual o povo adere massivamente. A 1.ª
República tentava agora implementar o presidencialismo, através da mão firme do
major Sidónio Pais, que, para o efeito, forma um governo conciliador das várias
facções e classes sociais. Não duraria muito a sua liderança: logo no dia 14 de
Dezembro de 1918, Sidónio Pais foi atingido a tiro, na estação do Rossio, em
Lisboa, por um ex-sargento do Exército, que viria a ser considerado demente.
Na noite de 19 de Outubro de 1921,
ocorre um dos mais escandalosos e terríveis episódios que viria a ser designado
pela noite sangrenta ou noite da camioneta fantasma: esta, a
mando, talvez, de outras facções replublicanas nunca identificadas por quem de
direito, percorreu Lisboa e foi arrebanhando eminentes figuras da República,
para serem friamente executadas, numa carnificina sem paralelo. Uma das
primeiras foi António Granjo, ex-primeiro-ministro; Cunha Leal, político de
direita, que viria a recuperar dos ferimentos provocados pelas balas; Carlos
Maia, antigo ministro de Sidónio; o almirante Machado dos Santos; Pais Gomes,
ministro da Marinha; o intelectual Carlos Gentil; entre outros ainda, aquele
que viria a ser o grande industrial Alfredo da Silva, já que a bala o não tinha
ferido de morte.
E o desvario prosseguiu, ao mesmo
ritmo, com as mesmas nuances, até 1926.
No dia 28 de Maio desse ano,
ocorreria um movimento, no âmbito do qual o General Gomes da Costa, partindo de
Braga, com o concurso de várias guarnições militares, afirmava proceder à
libertação de Portugal, visando dotá-lo de um governo estável, não sujeito a
interesses partidários. O executivo democrático, vigente até essa altura, é,
então, vencido e substituído, não obstante a revolta dos marinheiros que
contestavam, desde logo, o facto do poder ter sido tomado de assalto pelos
militares. Estava lançada a semente de uma das mais duras e longas ditaduras da
História de Portugal.
Em 27 de Abril de 1928, Salazar, a
leccionar a cadeira de Ciências Económicas e Financeiras, em Coimbra, volta a
ser chamado à pasta das Finanças pela Ditadura Militar, e agora diz “saber
muito bem o quer e para onde vai”, embora “a política não lhe interesse
nada”, exigindo direito de veto sobre todas e quaisquer despesas públicas.
Dois anos antes nada exigira e, ao fim de cinco dias, abandonara a pasta das
Finanças. Em 24 de Agosto de 1929, tem as contas públicas equilibradas e
anuncia até um superavit orçamental.
Em 1930, faz publicar o
“Acto Colonial”, onde repudia vivamente a descentralização
administrativa das colónias. É neste clima de ambição centralizadora, de
manifesta atitude monolítica, e eivado de um espírito de umbilical
individualismo que cria um “Estado Novo”, em 1932. Em 1933, tem pronta a
nova Carta Constitucional que implementa de seguida. A “União
Nacional” é o partido do regime.