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Todo
o tipo de perturbações de hiperactividade com défice de atenção a ele
associado, do género predominantemente hiperactivo-impulsivo, arrasta consigo,
como é fácil de perceber, uma enorme dificuldade de focalização da atenção em
qualquer tarefa ou actividade, conforme observamos no dia-a-dia lectivo. Nesta
medida, passam despercebidos, não só os grandes, mas também, e, principalmente,
os pequenos pormenores inerentes aos trabalhos que as crianças devem
desenvolver, cometendo, consequentemente, todo um conjunto de erros por
descuido, desleixo ou mesmo negligenciando a apresentação minimamente cuidada
do trabalho em questão.
A retenção da atenção, já de si de
concretização difícil, é desviada por outro tipo de estímulos, de carácter
“perverso”, porque desviante, mas, de qualquer forma, impeditivo da predisposição
essencial que deve orientar a criança para o discurso directo do professor,
quando a ela se dirige em contexto de sala de aula.
O frenesi(m) excessivo dos membros
superiores e inferiores e a agitação a ele associada, ainda que a criança se
encontre sentada, ou mesmo o constante deambular pela sala de aula (“dando água
sem caneco”), cria situações inadequadas e problemáticas para o clima normal de
leccionação, em prejuízo da própria criança e dos colegas que com ela integram
a turma em apreço. Este tipo de situação ou situações verifica-se, tanto quanto
sabemos, também em casa de cada criança, onde os sintomas atrás aludidos se
manifestam, quer em termos de frequência, quer no que diz respeito à sua
prevalência, no tal quadro de hiperactividade a que temos estado a dedicar o
presente escrito. Importante seria que também os pais pudessem procurar os
serviços de pedopsiquiatria, públicos ou privados, para que a situação destas
crianças fosse despistada e, uma vez relevado o problema, fosse possível a monitorização
da evolução deste tipo de perturbações.
Evidentemente que a possibilidade de
adequar medidas de intervenção ao nível escolar e familiar, tem que ver com a
disponibilidade física e material dos contextos respectivos e da forma mais ou
menos plausível de aliar a flexibilidade curricular e a diferenciação
pedagógica, por um lado, no que à escola concerne, e, por outro lado, à
disposição e tempo livre dos encarregados de educação destas crianças.
Concretizando, então, consideramos ser da maior importância que estas crianças
sejam enquadradas no âmbito da equipa dos apoios sócio-educativos do
agrupamento de escolas, verificando-se, em consequência de tal decisão, o
acompanhamento diário, ao nível do treino do controlo da impulsividade, do
treino do relaxamento, quer em contexto de sala de aula, quer em situação de
recriação, estimulando-se o aumento gradual do autocontrolo do próprio aluno,
no sentido da constatação dos seus próprios limites e das consequências que as
suas acções motoras possam ter nos outros e na sua aprendizagem.
Importa ainda dedicar a estes alunos
um maior apoio pedagógico acrescido, principalmente nas áreas da
psicomotricidade, do desenvolvimento das grafias, da aquisição de vocabulário,
bem como no campo da exercitação do cálculo mental. Impõe-se ainda o incremento
de programas de estimulação em diferentes domínios do seu desenvolvimento, a
saber no que respeita ao cálculo matemático; aqui, deve ser estabelecido um
certo relacionamento de elementos das situações problemáticas a nível da
oralidade, revendo-se os cálculos (tarimbando) antes da resposta ser finalmente
escutada; deve proceder-se a exercícios de relaxamento e controlo da
impulsividade, aumentando a reflexibilidade e a moderação da impulsividade e da
agitação motora perante as actividades mais ou menos complexas; no âmbito da
oralidade, realizar-se-ão exercícios que recorram a imagens de situações do
quotidiano, apoiadas por explanações detalhadas, visando o enriquecimento
gradual do discurso infantil; insistir-se-á na melhoria dos processos de
leitura, através do estímulo da auto-estima das crianças, por exemplo, criando
um clube de leitura, onde todos possam ler e ouvir ler, realizando também
outras actividades diversificadas de segmentação, de construção e desconstrução
silábica e fonética e de compreensão de palavras e de frases; incrementar-se-á
o treino caligráfico no âmbito da melhoria dos respectivos processos de
escrita, através de muitas cópias e ditados que incluam a auto e a
heterocorrecção.
No que diz respeito aos pais e
encarregados de educação, torna-se urgente que os mesmos vão adquirindo
consciência do conceito genérico que reveste a hiperactividade e das
características e disfuncionalidades a ele inerentes, quando se deparam com uma
criança hiperactiva, mormente a necessidade de assumir um modelo parental em
conformidade, ou seja, atento, reflexivo, democrático, evitando atitudes
impulsivas ou, pelo contrário, branqueadoras da realidade em presença, de forma
a levar a criança a imitar o comportamento mais próprio e ajustado dos
progenitores; caso não compreendam ou desconheçam o que se passa à sua volta,
devem informar-se junto do professor sobre esta perturbação, passando de
seguida a agir a contento.
No que diz respeito à escola, os
pais e encarregados de educação devem ganhar consciência de que as dificuldades
têm a sua razão de ser, nomeadamente no que toca à deficiente ou ausente
retenção da atenção em determinada situação específica de ensino/aprendizagem,
face ao pequeno ou grande grupo ou mesmo isoladamente, e ao conjunto dos
múltiplos estímulos distractivos que proliferam na sala de aula.
É
fundamental também que os pais e encarregados de educação retenham que, mais do
que qualquer outra criança, a energia dispendida por estas na realização de uma
qualquer tarefa escolar será sempre muito superior, em comparação com a das
outras crianças, pelo que o cansaço, a fadiga e o desinteresse irá surgir mais
facilmente, isto é, nestas crianças a curva de aprendizagem é muito mais
fechada e curta. Nesta conformidade, o(a) aluno(a) adoptará comportamentos de
oposição perante tarefas mais complexas e/ou continuadas face às suas
capacidades e possibilidades de motivação.