domingo, 17 de abril de 2016

HIPERACTIVIDADE INFANTIL: PERTURBAÇÕES E REMEDIAÇÕES CONTEXTUALIZADAS


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        Todo o tipo de perturbações de hiperactividade com défice de atenção a ele associado, do género predominantemente hiperactivo-impulsivo, arrasta consigo, como é fácil de perceber, uma enorme dificuldade de focalização da atenção em qualquer tarefa ou actividade, conforme observamos no dia-a-dia lectivo. Nesta medida, passam despercebidos, não só os grandes, mas também, e, principalmente, os pequenos pormenores inerentes aos trabalhos que as crianças devem desenvolver, cometendo, consequentemente, todo um conjunto de erros por descuido, desleixo ou mesmo negligenciando a apresentação minimamente cuidada do trabalho em questão.

            A retenção da atenção, já de si de concretização difícil, é desviada por outro tipo de estímulos, de carácter “perverso”, porque desviante, mas, de qualquer forma, impeditivo da predisposição essencial que deve orientar a criança para o discurso directo do professor, quando a ela se dirige em contexto de sala de aula.

            O frenesi(m) excessivo dos membros superiores e inferiores e a agitação a ele associada, ainda que a criança se encontre sentada, ou mesmo o constante deambular pela sala de aula (“dando água sem caneco”), cria situações inadequadas e problemáticas para o clima normal de leccionação, em prejuízo da própria criança e dos colegas que com ela integram a turma em apreço. Este tipo de situação ou situações verifica-se, tanto quanto sabemos, também em casa de cada criança, onde os sintomas atrás aludidos se manifestam, quer em termos de frequência, quer no que diz respeito à sua prevalência, no tal quadro de hiperactividade a que temos estado a dedicar o presente escrito. Importante seria que também os pais pudessem procurar os serviços de pedopsiquiatria, públicos ou privados, para que a situação destas crianças fosse despistada e, uma vez relevado o problema, fosse possível a monitorização da evolução deste tipo de perturbações.

            Evidentemente que a possibilidade de adequar medidas de intervenção ao nível escolar e familiar, tem que ver com a disponibilidade física e material dos contextos respectivos e da forma mais ou menos plausível de aliar a flexibilidade curricular e a diferenciação pedagógica, por um lado, no que à escola concerne, e, por outro lado, à disposição e tempo livre dos encarregados de educação destas crianças. Concretizando, então, consideramos ser da maior importância que estas crianças sejam enquadradas no âmbito da equipa dos apoios sócio-educativos do agrupamento de escolas, verificando-se, em consequência de tal decisão, o acompanhamento diário, ao nível do treino do controlo da impulsividade, do treino do relaxamento, quer em contexto de sala de aula, quer em situação de recriação, estimulando-se o aumento gradual do autocontrolo do próprio aluno, no sentido da constatação dos seus próprios limites e das consequências que as suas acções motoras possam ter nos outros e na sua aprendizagem.

            Importa ainda dedicar a estes alunos um maior apoio pedagógico acrescido, principalmente nas áreas da psicomotricidade, do desenvolvimento das grafias, da aquisição de vocabulário, bem como no campo da exercitação do cálculo mental. Impõe-se ainda o incremento de programas de estimulação em diferentes domínios do seu desenvolvimento, a saber no que respeita ao cálculo matemático; aqui, deve ser estabelecido um certo relacionamento de elementos das situações problemáticas a nível da oralidade, revendo-se os cálculos (tarimbando) antes da resposta ser finalmente escutada; deve proceder-se a exercícios de relaxamento e controlo da impulsividade, aumentando a reflexibilidade e a moderação da impulsividade e da agitação motora perante as actividades mais ou menos complexas; no âmbito da oralidade, realizar-se-ão exercícios que recorram a imagens de situações do quotidiano, apoiadas por explanações detalhadas, visando o enriquecimento gradual do discurso infantil; insistir-se-á na melhoria dos processos de leitura, através do estímulo da auto-estima das crianças, por exemplo, criando um clube de leitura, onde todos possam ler e ouvir ler, realizando também outras actividades diversificadas de segmentação, de construção e desconstrução silábica e fonética e de compreensão de palavras e de frases; incrementar-se-á o treino caligráfico no âmbito da melhoria dos respectivos processos de escrita, através de muitas cópias e ditados que incluam a auto e a heterocorrecção.

            No que diz respeito aos pais e encarregados de educação, torna-se urgente que os mesmos vão adquirindo consciência do conceito genérico que reveste a hiperactividade e das características e disfuncionalidades a ele inerentes, quando se deparam com uma criança hiperactiva, mormente a necessidade de assumir um modelo parental em conformidade, ou seja, atento, reflexivo, democrático, evitando atitudes impulsivas ou, pelo contrário, branqueadoras da realidade em presença, de forma a levar a criança a imitar o comportamento mais próprio e ajustado dos progenitores; caso não compreendam ou desconheçam o que se passa à sua volta, devem informar-se junto do professor sobre esta perturbação, passando de seguida a agir a contento.

            No que diz respeito à escola, os pais e encarregados de educação devem ganhar consciência de que as dificuldades têm a sua razão de ser, nomeadamente no que toca à deficiente ou ausente retenção da atenção em determinada situação específica de ensino/aprendizagem, face ao pequeno ou grande grupo ou mesmo isoladamente, e ao conjunto dos múltiplos estímulos distractivos que proliferam na sala de aula.

            É fundamental também que os pais e encarregados de educação retenham que, mais do que qualquer outra criança, a energia dispendida por estas na realização de uma qualquer tarefa escolar será sempre muito superior, em comparação com a das outras crianças, pelo que o cansaço, a fadiga e o desinteresse irá surgir mais facilmente, isto é, nestas crianças a curva de aprendizagem é muito mais fechada e curta. Nesta conformidade, o(a) aluno(a) adoptará comportamentos de oposição perante tarefas mais complexas e/ou continuadas face às suas capacidades e possibilidades de motivação.