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Alinharemos apenas algumas ideias subsidiárias, sobre a matéria em epígrafe, na tentativa de clarificar tão ingrata temática -- os lutos a que o ser humano está sujeito, na sequência de certas circunstâncias inevitáveis do quotidiano: a orfandade inopinada de uma criança; os efeitos de um divórcio; a perda do ser amado; o falecimento de um ente querido, entre outras situações.
John Bowlby (1907-1990) desenvolveu um importante estudo sobre o vínculo, extraordinariamente subtil, mas simultaneamente profundo, que liga, desde o útero, mãe e filho. Se algo os separar, abrupta e demoradamente, aquando do reencontro a criança encarará a mãe como se de uma desconhecida se tratasse; Bowlby, face ao exposto, afirma que a dor mental provocada acaba por determinar a restrição e apagamento do comportamento inato de vinculação. A criança reagirá, rigidamente, ostentando auto-suficiência e autonomia.
Embora a criança, caso venha a beneficiar dos cuidados coerentes da mãe, possa reabilitar o vínculo pré-existente, com os adultos as coisas são muito mais complexas. Aqui, o processo de luto inicia-se por uma espécie de atordoamento, isto é, a pessoa não se dá por achada e reage como se nada fosse, reagindo doentiamente como se o luto não tivesse acontecido.
O segundo passo reactivo prende-se com a saudade, corrosiva, associada a uma tristeza deprimente e a uma cólera exasperada. O indivíduo vítima do luto alimenta uma postura ambivalente, ou seja, tão depressa aceita a perda como se agarra à representação mágica-omnipotente do regresso do falecido, explicado por meros indícios ou sinais interpretados pateticamente.
Esta saudade dilacerante, mesclada de revolta, segundo Bowlby, assume a forma de perturbação crónica com tendência depressiva, uma vez que que a pessoa se encontra a braços com uma total desorientação, caracterizada pela constatação da irreversibilidade da perda, sem deixar de procurar quem já não é.
Por fim, o enlutado sente-se completamente perdido, vazio, abandonado. Se a depressão for superada, o luto tem lugar e processa-se no sentido da reorganização da vida do indivíduo, da aceitação do factos ocorridos; reformulam-se as representações internas, ultrapassa-se paulatinamente a tristeza e enceta-se, na medida do possível, a vida de todos os dias. Quando a depressão prevalece, o luto pode ser seriamente impedido.