Nas
semanas mais próximas-passadas, ocupámo-nos com
leituras que dão sempre que pensar, até porque
versa(va)m temáticas, as mais das vezes, polémicas,
tendo em conta, não só a inevitável
subjectividade involuntário-inconsciente, através da
qual o sujeito que escreve se deixa levar, inapelavelmente, portanto,
mas também porque não nos encontramos nunca no interior
da cabeça dos outros, pelo que por mais boa-vontade que
demonstremos, tudo se processa por meio de equações
susceptíveis de redundar, para mais ou para menos, em
resultados enganadores, distorcidos, que nos acabam por
decepcionar... ou não!
Claro!
De que temáticas se tratava, não o dissemos ainda, tem
o leitor razão!
Referímo-nos
às tão difíceis e complexas independências
ocorridas no continente africano, uns anos após o términus
da catastrófica 2.ª Guerra Mundial (1939-1945). Uma das
consequências deste gigantesco e abominável conflito
planetário foi a divisão do mundo em dois blocos
oponentes (o Ocidental e o de Leste), geo-estratégica,
idiológica, cultural, económica e socialmente definidos
e que viriam a formatar o contexto, a vários níveis, em
que aquelas independências se viriam a verificar.
Como
é de todos sabido, o bloco Ocidental tinha à cabeça
os Estados Unidos da América, liberais e capitalistas e o
bloco de Leste tinha na liderança a União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas, colectivista e
comunista. Bom, aprendemos na Psicologia que toda a dinâmica
idiossincrática do indivíduo, isolado ou em grupo,
radica em móbiles e/ou em motivos.
Os primeiros envolvem afectos ou têm origem no inconsciente; os
segundos têm a ver com a racionalidade, muito embora sempre que
um móbil seja
dominado pela razão possa assumir foros de
motivo.
Este
último raciocínio serve apenas para clarificar o quão
ténue se nos apresenta (quando tal acontece) a linha que
delimita ou confunde a emoção da razão, ainda
que possamos dar de barato que determinados interesses possam
envolver legitimidade, mesmo que não se vislumbre se os mesmos
têm origem no capricho de certos afectos ou na urgência
de certas necessidades plausíveis. Mas falámos atrás
em idiossincrasia e, esta, no ser humano, é motivada por
factores físicos ou químicos variáveis,
portanto, mas sempre determinantes do temperamento e da
susceptibilidade de cada um, e, sendo assim, a nota dominante no ser
humano é a imprevisibilidade no âmbito da multiplicidade
dos contextos (situações) e das criaturas (quem) que só
a Educação pode, de
certo modo,
contornar, corrigir, integrar ou sublimar.
Por último (não
permitiremos que a emoção nos tolha a razão),
resta-nos deplorar o estado actual de efervescência de todo o
continente africano, pautado pela fome, a subnutrição,
o analfabetismo, o tráfico, o terrorismo, a corrupção,
as assimetrias regionais, o tráfico de pessoas e
matérias-primas, a escravatura sexual e laboral, a usurpação
do poder, a perpetuação do tribalismo hegemónico,
etc., etc., etc., exactamente igual a tudo o que se tinha começado
a esboçar na segunda metade do século XV. Só que
agora o homem recorre a mais sofisticação, tecnologia e
letalidade.
E
diziam os entendidos, no início da década de 1970, não
sabemos se levados por móbiles
ou se por motivos,
que
a transição para a independência dos vários
mosaicos (ratificados pela Conferência de Berlim, em 1884-85) em que o colonialismo europeu retalhou a África
resultaria de “um
esforço consciente da maioria do povo, no sentido de modificar
as suas próprias ideias, crenças, suposições
e atitudes sociais,”
(...) “mobilizando
as multidões rurais, em prol de novos métodos de
produção, em contexto de novas relações
de produção”
(Davidson, 1972: 416, 418). Nada disso resultou. O que constatamos é
que não há teorias que regenerem cinco séculos
de reiteradas violações!
Bibliografia:
Davidson, B. 1972. Angola
– No Centro do Furacão, Lisboa,
Edições
Delfos.