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Por razões óbvias, nos dias que correm, importa dar o devido destaque ao significado e alcance da formação da personalidade das nossas crianças e jovens. Hoje, mais do que nunca, deve ser esse o papel pedagógico fundamental da Educação, com vista à harmoniosa e equilibrada formação do carácter dos futuros cidadãos.
Depois de ter sido nómada, a Humanidade, no decorrer do século XX, transformou-se, rapidamente, em sedentária, por força do desenvolvimento industrial, o que, por si só, viria a imprimir significativas alterações e mudanças na estrutura social, principalmente nos países ocidentais. Os valores, as tradições, os costumes e a ética apresentam-se-nos agora segundo novos contornos. A economia, a política e a cultura dominam as instituições, de forma praticamente omnipotente e omnipresente, onde o ser humano vai perdendo gradualmente a sua identidade.
Já no presente século XXI, por força das novas Tecnologias de Informação e Comunicação – assustadoramente virtuais e linguisticamente dessimbolizadoras, a desregulamentação e volatilidade dos mercados – esmagadora e dilacerantemente angustiantes, o trabalhador (o que ainda consegue trabalho) tem sido transformado num “organon”, isto é, num mero instrumento coadjuvante da robótica ditatorial, implacável, que coarcta toda a sua dinâmica criativa, a sua espontaneidade, independência, autonomia e responsabilidade. Os objectos de elaboração interior são mesmo esmagados pela avassaladora invasão dos objectos que do exterior se insinuam.
Também a educação funcional, dirigida aos interesses das crianças, tem vindo a substituir a educação intencional, comprometendo a solidez estrutural das personalidades em formação... embora, segundo a moderna pedagogia, a educação funcional tenha o condão positivo de apelar para uma certa dinâmica mental espontânea. Não restam dúvidas, no entanto, de que o progresso é sempre castigador, logo o homem tem de ser capaz, em democracia, de se saber situar e, conforme a realidade contextual, estar apto a avaliar e decidir responsavelmente, buscando a sua felicidade sem atropelar a dos outros.
Por tudo isto, e em conclusão, diremos que a Escola deve estar atenta aos antecedentes familiares das crianças, e aos seus territórios de inserção e pertença, já que deve ser fomentada a coesão entre os vários elementos da turma: os alunos alegres, bem
arranjados, descomplexados e cordatos interagem com agrado e de forma pacífica, em princípio; estes respiram objectividade, energia criativa e expressividade, o que não é mais do que uma manifestação saudável de personalidades bem estruturadas. No entanto, as crianças encapsuladas, nervosas, inseguras, tímidas ou apáticas (“nEAS” [não-Emotivo-Activo-Secundárias], conforme Heymans e Le Senne)*, afastar-se-ão daquelas.
Os primeiros (a minoria) pertencem ao grupo dos que beneficiam do progresso; os segundos (a maioria) fazem parte da “massa anónima” dos que são vítimas desse mesmo progresso. A juntar à análise que o reputado cientista James Lovelock (1919-....) tem feito sobre o catastrófico progresso (Santos, 2013: p. 18), citamos agora Francesco Alberoni (1929-2018): “(...) sobretudo”, o progresso, “compromete os valores consolidados, os modos de viver tradicionais e tranquilizadores sem que outros lhes tenham tomado o lugar. Por isso difunde-se um obscuro mal-estar social e o futuro apresenta-se ameaçador e incerto” (Alberoni, 2000: p. 121).
Desta maneira, importa, em contexto de sala de aula e em nome da estruturação das personalidades, dosear as tendências, refrear os ânimos, atenuar os temores, diluir angústias e integrar as crianças da(s) turma(s) para vantagem de todos, recorrendo, para tanto, a equipas multidisciplinares; evitar-se-ão, deste modo, não só estrelatos narcisistas, mas também bodes expiatórios, devido à relativização operada pelo impacto caracterológico dos grupos em presença.
*Nota: C. Heymans (1892-1968); Le Senne (1882-1954