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Em Novembro
de 2016, referimos aqui a obra “Fundamentação da Metafísica dos Costumes”,
de Immanuel Kant (1724-1804), para sublinhar a legitimidade que este
filósofo subscreve, sempre que as interacções humanas que visam a concretização
dos projectos de vida e dos interesses de cada indivíduo respeitem os direitos
dos outros e a sua dignidade humana. Em Março de 2017, e face a esta matéria, apontámos
um conjunto de contradições inerentes ao comportamento humano, no âmbito
social, tendo recorrido aos ensinamentos de Goleman (2006), Hell (2009),
Damásio (2013) e Mlodinow (2014), nomeadamente quando estes cientistas falam do mesencéfalo
do homem, na zona média cerebral, com diencéfalo (tálamo e
hipotálamo) – cérebro reptílico, regulador das funções vitais
básicas, como nos répteis –; e córtex cingulado no
topo envolvente – sistema límbico, onde se alocam os sentimentos ou
afectos primários dos primeiros mamíferos. Fixemos isto!
Mais recentemente, e segundo os
mesmos autores, constituiu-se o neo-córtex – sede das funções
cognitivo-afectivas superiores complexas, capazes de pensamento e linguagem e
de diferenciar emoções. Correcto! O facto é que não deixámos de possuir
cérebro reptílico com tudo o que isso implica de carga ancestral dinâmica, a
determinar em cada um de nós uma matização caracterológica tripartida, a dar
corpo à ambição, à territorialidade e à agressividade...
tal como nos répteis! Mas, para disciplinar o instinto e promover a cultura,
impõe-se a Educação a partir do berço, que deve ser, de resto, a
principal e a mais empenhada tarefa familiar e sóciocultural?! Pois é! Tem vindo
a ser descurada.
Para Pires, Fernandes
e Formosinho (1991), docentes na Universidade do Minho,
“(...) Cultura é tudo aquilo que não é instintivo”. Já Almada Negreiros (1893-1970),
a este respeito, tinha afirmado que “Cultura é tudo quanto permanece depois de
tudo ter sido esquecido” (Sarmento, 1994: 68). Tudo isto significa,
portanto, que o homem tenderá a viver nesta dilemática situação: ou, por um
lado, dá mais importância à Educação e às aprendizagens com sentido,
para poder respeitar a dignidade do seu semelhante, tirando partido das
capacidades hominizadoras do neo-córtex, ou, por outro lado, continuará a se
deixar levar pela sua caracterologia meramente reptílica.
Porém, como toda esta problemática
não reveste nenhum tipo de linearidade, nem a montante nem a jusante,
encontrámos sempre no passado, em termos histórico-filosóficos, e deparamos
também hoje, e quiçá no futuro, não só quem se preocupou, preocupa ou
preocupará com os direitos dos outros, mas também quem tirou, tira ou tirará
partido da ingenuidade, fragilidade ou ignorância dos deserdados, indigentes,
vulneráveis, tecnologicamente deficitários, económico-financeiramente falidos
(países ou pessoas), para granjear vantagens (ilícitas) de todo o tipo. No
primeiro caso, os bem-(in)formados; no segundo, os mal-(in)formados. Poderão,
no entanto, ocorrer regenerações ou deslizes; mais estes do que aqueles, mas
nada nos faz crer que o princípio da realidade possa dispensar a Educação
Sistémica dos seres humanos.
Bibliografia:
Damásio, A. (2013). O Sentimento de Si – Corpo, Emoção E Consciência.
Temas e Debates. Círculo de Leitores. Lisboa.
Goleman, D. (2006).
Inteligência Emocional. Espanha: RevistaSábado.
Hell D. (2009). Depressão –
Que sentido faz? Sete Caminhos. Lisboa.
Mlodinow L. (2014). Subliminar –
Como o Inconsciente Controla o Nosso Comportamento. Lisboa: Marcador
Editora.
Sarmento, M. J. (1994).
A Vez e a Voz dos Professores – Contributo para o Estudo da Cultura
Organizacional da Escola Primária. Porto Editora. Porto.