segunda-feira, 18 de junho de 2018

DESEJO, AFIRMAÇÃO E PODER



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     Na vida de qualquer ser humano, quando socialmente inserido (bem ou mal), tudo gira em torno dos mesmos pressupostos, a saber: identidade e pertença, sempre pautados pelo desejo que nos liga ao outro – o desejo é o desejo do outro, quer se queira, quer não –, já que, tal como viu Jacques Lacan (1900-1981), antes de aceder à ordem da linguagem, o sujeito se encontra rendido ao corpo da mãe e aos objectos parciais desta, através do desejo indeterminado e de significância polivalente, à luz do imaginário nascente.

     Mas também, diferenciação, individuação e afirmação, potenciados, estes, pela obstrução do desejo do sujeito, quando, no âmbito da ordem da linguagem, se depara com a interdição do Outro (o pai) face ao objecto (incestuoso?!). Estes três últimos pressupostos passarão a ser fortemente moldados pela metaforização do simbolismo crescente, levando o sujeito a ser sujeito do seu desejo logo que passa pela respectiva ordem da linguagem.
É, portanto, este estado de coisas que equilibra um coerente e harmonioso sentido emocional sobre o self (quando tal acontece), preparando o sujeito para a gestão familiar das devidas distâncias psicológicas, num quadro de permanente intersubjectividade relacional emocional (salutar ou doentia) tendente a “renegociar a dependência psicológica face aos outros membros da família” (Sabatelli & Mazor, 1985).

     Curiosamente, sempre que reflectimos sobre este tipo de conceitos (Desejo, Afirmação e Poder), recordamos a posição divergente de Alfred Adler (1870-1937), relativamente a este assunto, já que contestou a tese do seu professor (Freud (1856-1939), ignorando o princípio de prazer e os impulsos da líbido, ao relevar a necessidade de afirmação de poder do indivíduo. Esta, no seu entender, integra o psíquico e manifesta-se, de forma compensatória, para combater a neurose que radica no sentimento de inferioridade e insegurança generalizada das criaturas.

     Adler, nesta sua leitura da problemática vertente, inclui também os doentes, os acidentados e os diminuídos físicos (congénitos ou não) no rol dos sedentos de poder, chamando a atenção para o papel da educação ligada à psicologia individual, procurando, assim, evitar o crescimento de carácteres parasitas sempre prontos a explorar o outro e a atropelar a sua dignidade pessoal e social. Mas esta energia negativa, diz Adler, pode ser convertida, pela educação, em sensibilidade responsável e solidária, quando dirigida à interiorização da apercepção do sentido da realidade.



O ISOLAMENTO DEPRESSIVO

    
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     É deveras preocupante a imagem com que se fica, depois de uma visita a um lar da terceira idade. É tocante o abandono psicológico que se pode ler nos rostos estáticos dos velhos aí colocados; nos seus olhares de uma humidade coalhada e triste; nas posturas de abandono que os seus corpos esparramados nos gritam do interior dos seus silêncios... Por que razão teremos de continuar a admitir que uma das causas mais significativas de depressão se prende, necessariamente, com o isolamento da velhice?! As famílias não estão, seguramente, a assumir as suas responsabilidades, nem tão pouco o Estado está disposto a fazê-lo.

     Mas, quando se fala em isolamento, lembramo-nos particularmente do que se passa aquando do falecimento de um dos membros do casal, que é o que leva, por norma, o outro ao ambiente depressivo de um lar de velhos. Quanto mais avançam o progresso e as novas tecnologias, mais se trabalha no sentido da solidão e do embrutecimento das massas, dado que o ser humano vai sendo secundarizado no âmbito dos seus papéis sociais e laborais de intervenção, tornando-se mais dependente e condicionado, mais neurosado e passivo. Como a viuvez potencia todos estes factores, o isolamento pode determinar patologias depressivas graves, a necessitar de acompanhamento clínico.

     Já aqui tecemos algumas considerações sobre a perda de familiares directos – “LUTA DE LUTOS” –, sublinhando a maior ou menor dificuldade das pessoas ao longo do processo dos seus lutos respectivos. Trata-se de situações profundamente críticas, algumas das quais não dispensando mesmo aconselhamento e acompanhamento adequados. Uma coisa é certa, contudo: às pessoas não deve ser permitido que mergulhem no buraco negro do seu abismo interior, numa espécie de autocondenação com carácter masoquista e culpabilizante. Aqui, o papel do psicólogo ou do psiquiatra é fulcral. O peso terrível dos sentimentos emocionais dos enlutados (pânicos, obsessões, fixações, compulsões, prostrações) deve ser partilhado com aqueles especialistas.

     É mais ou menos consensual que o luto provoca sempre um sofrimento de angústia difícil de suportar; este tem duração variável, que pode estender-se ao longo de semanas ou mesmo meses, tornando-se, portanto, em um foco prolongado de vulnerabilidade, caso a perda não seja resolvida no seu devido tempo, no sentido de restaurar o equilíbrio emocional perdido. Há mesmo quem caia em estados de apatia, melancolia, hipocondria ou histeria, e se imagine invadido pela patologia do falecido; outros exacerbam comportamentos de negação da morte ou renovam crises de culpabilidade no aniversário do nascimento ou do falecimento do ente querido... ou até em outras datas marcantes; outros ainda não tocam nunca mais nas coisas do falecido, mantendo as suas gavetas, armários e mesmo o quarto como se de relíquias se tratasse.


domingo, 17 de junho de 2018