sexta-feira, 30 de agosto de 2013

E AS CRIANÇAS?!...

       Para quem hoje tenta, de forma séria e honesta, olhar a escola, procurando analisá-la, percebê-la e interpretá-la, visando inferir conclusões, a partir das quais possa legitimamente apresentar um conjunto de soluções alternativas àquelas a que a tutela tem, precipitada e inconsequentemente recorrido, não pode nunca ignorar a complexa e emaranhada realidade que envolve toda a sociedade portuguesa em geral, já de si, cativa do todo universal, e, ainda, em particular, as especificidades do nosso sistema educativo, tão sistematicamente desprezadas.

     Portugal encontra-se, cada vez mais, refém do inexorável avanço da globalização onde pontificam os “media”, a invasão das novas tecnologias e a avassaladora influência de ambos; e escrevemos “refém”, porque tem sido através deles que a nossa mal preparada sociedade tem absorvido, paulatinamente, a dissipação dos valores; tem renunciado aos princípios; tem rubricado atropelos à ética e à moral, no âmbito de uma escola massificada, que ainda não conseguiu tirar partido da multiculturalidade em presença e da diversidade étnica deficientemente “integrada”, por razões, neste particular, meramente políticas.

    A laicização do estado (cá dentro) e a teocratização (lá fora) de certas sociedades, alimentadas estas pelo fundamentalismo exagerado, hostil ao ocidente e à sua cultura, são outras tantas achas para a fogueira da complexidade empedernida da vida dos nossos dias. Se, por um lado, se vão diluindo os brandos e ingénuos costumes alicerçados na trilogia Deus, Pátria e Família, por outro lado vai ficando aberto o caminho ao facilitismo, à irresponsabilidade, à incompetência, à dissolução do significado dos vários papéis sociais que impendem sobre os cidadãos, quer da sociedade civil, quer daquela que a complementa. No meio é que está a virtude, convenhamos!

       Desmantelada essa escola de vida que era a tropa (não a guerra), reduzido o simbolismo da bandeira e do hino à mais ínfima espécie (futebol e pouco mais), descaracterizada a família e a sua orientação modelar, transformada a escola num campo de rivalidades e trabalhos forçados, onde o professor perdeu toda a individualidade e autoridade, pouco mais resta às crianças de ontem, aos jovens de hoje e aos homens de amanhã, absolutamente traídos nas suas mais legítimas expectativas, do que a busca desenfreada do prazer versus solidariedade e dever, na tentativa de combater a frustrante desilução de uma vida sem sentido.

        A escola não consegue sozinha arcar com a responsbilidade de inverter semelhante estado de coisas: importa definir os vários territórios de pertença onde se movimentam os elos da comunidade educativa (estafado conceito este), atribuir-lhes os papéis adequados, bem como ter a capacidade de saber e conseguir estabelecer as áreas de abrangência comuns.

       Torna-se urgente dar o tiro de partida para a renovação da escola; fomentar nos jovens o exercício da cidadania como valor integrador; diminuir o fosso físico-afectivo entre pais e filhos; moralizar as instituições; respeitar e considerar os professores, dialogando e negociando, efectivamente, com esse baluarte fundamental da sociedade.


       E encerramos com uma última nota, veementemente crítica, relativamente ao anunciado esbanjamento de recursos, à revelia das reais necessidades do nosso país, como forma de “combater a crise”. Ao desperdício anacrónico de dinheiros públicos aplicados nas salas construídas nos recreios, diminuindo anacronicamente os já reduzidos espaços arborizados de lazer e distensão para as crianças. Cada vez mais, as áreas onde se inserem os estabelecimentos de ensino, passaram a ser antros comprimidos sem nenhum espaço de terra, de ar livre, de jardins, onde, de forma absurda, são inscritas mais e mais crianças. A Educação e o Ensino, em Portugal, estão transformados en autênticas aberrações institucionalizadas... para mal das nossas crianças; para descrédito dos nossos jovens; para desconchavo da sociedade futura.

Nota: net pic

2 comentários:

  1. Olá meu querido amigo!
    E quem fala assim sabe o que quer transmitir, sabe por onde se devia ir. Mas é demasiado pesada toda a herança como aquela matéria "inerte" que só serve a alguns...
    Grande abraço

    ResponderEliminar
  2. Meu querido
    Este texto devia ser uma Carta Aberta enviada aos (ir)responsáveis pelo ensino no nosso país. Para quando a reabertura das Escolas Industriais e Comerciais?!!! Somos todos iguais,mas todos diferentes:que história é essa do Ensino Unificado?!!!
    É preciso não se entender nada sobre o assunto para se transformar o ensino naquilo em que ele está agora.
    Muitos parabéns pelo teu magnífico artigo.
    Beijinhos da
    Mana

    ResponderEliminar