segunda-feira, 5 de agosto de 2013

TACANHA E RISÍVEL PUBLICIDADE

     Que eu saiba, até hoje, nunca ninguém pagou um cêntimo que fosse, para publicitar ou partilhar uma graça, uma chalaça, uma piada, uma anedota, uma brincadeira, ou mesmo uma simples palavra ou expressão que, de repente, como se se tratasse de uma espécie de vírus, sem como nem porquê, passasse(m) de boca em boca, de escrita em escrita, nas redes sociais também, sendo observada(s) e usada(s) por todos e em todas as circunstâncias, em detrimento de outras que, paulatinamente, vão caindo em desuso e, portanto, no esquecimento. 

   Tanto quanto me é dado saber, "os publicitários são uns exagerados", mas tudo tem limites: todos quantos vão tendo o privilégio de estar vivos e gozam de boa saúde, vão porfiando, no dia-a-dia, com vista a palmilhar o estreito e curto, mas sempre amplo e longo carreiro da vida, devendo fazê-lo sem alardes vãos, sem exibicionismos decadentes, sem esgares patéticos, que a publicidade inadequada, desproporcional, imprópria e sempre gratuita, acaba por exacerbar, através do grosseiro pincel de comportamentos aflitivos, que escapam à fina acuidade e subtileza de um quadro harmonioso, coerente, equilibrado e edificante de valores, cuja indelével leveza de sentidos consegue plasmar, de forma sucedida, na suavidade policromática da tela do nosso quotidiano pessoal e social.

   Reparem que as instituições que visam gerar mais-valias, afanosamente, podem seguir os mais ínvios e desconchavados caminhos, mas tal não deixará de prejudicar a imagem que pretendem arvorar junto dos potenciais clientes e dos já fidelizados, pelo que se recomenda bom senso, temperança e rigor; frugalidade, bom gosto e tempero.

     Recorde-se, agora, a insensibilidade dos publicitários, o seu desfasamento da realidade, na prática, num claro confronto e oposição face ao universo factual dos consumidores que representam, afinal, num contexto real, objectivo, de facto e de direito, a razão de ser da sua problemática existência. As máquinas de "marketing" esfalfam-se, num esforço desesperadamente "esquizofrénico", de lavagem cerebral, de quem ainda perde tempo a escutá-las, grosso modo, nestes termos: "na compra de duas máquinas de lavar, leve grátis um ferro de engomar"; "adquira quatro polos e leve dois de borla"; "faça milhares de telefonemas (de valor acrescentado, claro) e este automóvel topo-de-gama é seu"; "compre o telemóvel "X", por apenas Euros 699 (seiscentos e noventa e nove Euros)"... Isto é espantoso!!!...

       Pois, mas é esta a realidade bipolar da moderna sociedade de consumo irracionalmente imponderado e imediato; assumidamente bi(multi)facetado e desviante; reconhecidamente redutor e perigoso; tragicamente manipulador e compulsivo. De um lado temos, a avaliar pelas amostras supra citadas, o publicitário pobremente redundante, ignorante e medíocre, mas sempre ruidosamente omnipresente - atente-se na blasfémia dos "apenas 699 Euros", face a um país endividado e falido, preenchido por uma população falida e endividada; na ignorância e estreiteza mental que encerra a expressão "sem palavras", quando uma qualquer reportagem questiona as pessoas; no disparate sem dimensão que constitui a proposta de "compra de quatro polos", neste caso, em pleno Inverno; a ingenuidade do engodo do automóvel, e por aí fora...

  Mas esta terrível realidade configura ainda aspectos profundamente bizarros, muito próximos de um quadro atitudinal de demência, cujos contornos extrapolam as mais elementares normas de um estado de direito democrático, onde até o próprio Estado, de forma ilegítima, ilegal e inconstitucional, aplica taxas ou impostos sobre o produto de impostos cobrados, ou implenta leis colectoras com efeitos retroactivos. Mas há mais: as empresas que gerem os sinais televisivos, compelem os seus funcionários a chagar se-ma-nal-men-te os potenciais clientes, ao longo de anos, invadindo condomínios privados, tocando às campainhas das portas, introduzindo lixo publicitário nas caixas de correio e por debaixo das portas, num inusitado e insuportável assédio sem precedentes. Tudo o que é demais é moléstia!

     Do outro lado temos os indefesos consumidores... cidadãos, melhor dizendo, olhados como potenciais clientes, impreparados, sujeitos à voracidade cultora do consumo a qualquer preço, já que no sistema educativo nacional foi, despudoradamente, arreada a vela do decoro, do rigor e da exigência, para que a deriva se efective; foram diluídos os valores, para que os instintos falem mais alto; foram empobrecidos os "curricula", para que a manipulação encontre chão onde medrar...

               M. B. S.









      

        

4 comentários:

  1. Meu querido
    Estou aqui outra vez.
    Outro belo artigo! Quanto menos preparado(com menos formação,quero dizer) estiver o povo,melhor se domina.Por isso vemos tantas pessoas a entregarem as casas que não conseguem pagar,os carros,os telemóveis,etc.. Eu fiquei pasmada,atónita,eu sei lá como,quando tomei conhecimento de que,pessoas pobres,contraíam empréstimos para comprar telemóveis!!!...
    Voltei aqui,sem saber que já tinhas outra publicação.Foi para te dizer que fui ao blog da minha amiga Anne e vi que tu só indicaste o link.Tens de dizer o nome do blog,senão,algumas pessoas podem não chegar lá.Não sei se te fizeste seguidor.Eu sei que tu sabes fazer isso,porque me segues.
    Deram-me este conselho:se publicares muito amiúde,terás poucos comentários,porque,de uma maneira geral(eu não faço isso)todas as pessoas comentam a última publicação.
    Beijinhos da
    Mana

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    1. Basta olhar para os conteúdos televisivos, para fazermos uma pequena ideia das motivações que levam a classe dominante a orquestrar esta triste e decadente sociedade do espectáculo.
      Beijos.

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  2. Olá meu amigo mais recente, fico muito feliz por me comentar e visitar as minhas parvoices, mas olhe esta foi a maneira de poder estravasar as minhas mágoas. Cada um de nós temos os nossos motivos e o meu teve um muito grande, e já lá vão sete anos para quê?
    Hoje apanhei a maior desilusão da minha vida e acho que o meu blogue já perdeu a razão de existir, mas me perdoe porque eu vim aqui para comentar a sua tão real postagem, a mais pura verdade mesmo depois de as pessoas serm vigarizadas de todas as maneiras, cada vez há mais pobres ignorantes a cair.
    Enfim isto é as pessoas terem a mania de serem o "TER" e não o "SER", mesmo sabendo que estamos todos aqui de férias! E nada levamos, a não ser as marcas do bem que fazemos ao próximo.
    Desculpe deste testamento, mas eu sou muito comunicadora e faço logo um testamento.
    Obrigado pela sua gentil visita e fico muito feliz de o ter no meu rol de amigos ...tenha um resto de um bom dia e já a seguir boa noite, um abraço de amizade e volte sempre.

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  3. Agradeço-lhe a visita e as palavras amigas que me dirige.
    Um abraço.

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