domingo, 29 de dezembro de 2013

QUEM É O ALUNO?!


Independentemente das vulgares estatísticas, resultantes, na prática, do conjunto alargado dos normativos meramentes determinantes que, nos anos mais recentes têm vindo a ser publicados, no sentido da diminuição artificial do insucesso escolar, o aluno, que no dia a dia frequenta a escola portuguesa, deve ser olhado com olhos de ver. Nesta medida, a nossa sociedade deve permanecer atenta, ou melhor, deve tratar de começar a dar a máxima atenção à realidade palpável que se vive no nosso país, passando a ter opinião sobre a matéria em questão, ao invés de papaguear os clichés do senso comum, ou as simples e redutoras máximas da propaganda governamental.

A nós, pelo nosso lado, e porque sempre temos estado no hostil terreno da demolidora prática pedagógica de todos os dias, resta-nos a missão cívica de intervir de forma positiva, tentando ilucidar quem nos lê, sobre algumas especificidades que intervêm na construção da pessoa humana e no desenvolvimento integral de cada uma das suas qualidades que a tornam apta a agir nas diversas situações de(a) vida. Tendo em conta esta realidade, torna-se imprescindível partir do estudo cuidado do historial de cada um dos alunos, da sua hereditariedade, bem como do meio ambiente que o envolve (meio sócio-económico e cultural), não ignorando ainda um terceiro aspecto da questão, indissociável dos dois anteriores e, ainda, fundamentalmente essencial, para que seja possível contornar as vertentes mais problemáticas da temática em apreço. Referimo-nos, naturalmente, ao Eu” e ao seu todo comportamental, atitudinal, quando consegue correlacionar os diversos factores em presença, na base de uma linha de amadurecimento do próprio conhecimento deste tipo de relação que se vai gerando no âmbito da sua forma de estar e de agir, face ao devir dos dias lectivos.

A hereditariedade não pode ser considerada, no seu sentido restrito, invariavelmente inata, claro; deve, pelo contrário, ser vista, conforme os casos, como sendo variável, numa linha de desenvolvimento dependente do meio e do conhecimento da sua intervenção activa.

A função faz o órgão, e é bem verdade; da mesma maneira que se afirma que errar é humano, ou seja, nenhuma aprendizagem poderá estar alguma vez concluída, isto é, nenhum homem conseguirá nunca o mais total e completo nível de aperfeiçoamento – por isso mesmo é que o mundo tecnológico tenderá sempre a evoluir, de geração em geração. Só os mentecaptos estratificam. Mas, o universo estudantil português corre já hoje este risco. Urge discipliná-lo.

Voltando ao aluno, que é para isso que aqui estamos, diremos que a maioria dos seus actos aliada à suas naturais capacidades de aprendizagem, radicam na acção conjunta de factores de predisposição e níveis de personalidade diversificados. Se se verificarem défices, não demasiadamente condicionantes, num determinado plano, podem surgir compensações a outros níveis, a partir de uma escola psicologicamente pensada, pedagogicamente activa, didacticamente alicerçada, que não esta que nos tentam actualmente impingir.

Importa, no entanto, não ignorar que os alunos que se nos apresentam já com um conjunto de aprendizagens, aquisições, inculcações, hábitos, comportamentos e atitudes constantes, oferecem, por norma, uma resistência tenaz a qualquer tentativa de trabalho pedagógico. Reaprender é sempre muito mais complexo e difícil do que apenas aprender.

Por último, adiantaremos a ideia de que a capacidade de aprendizagem, quanto mais tardia, mais resistências oferece também, nomeadamente no domínio motor. Já no campo psíquico em geral, essa capacidade mantém-se até mais tarde, se o cérebro tiver sido sempre activamente estimulado, claro! 

net pic 


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

HAJA NATAL!

No Natal há fantasia
nas chaminés há calor
nos corações há magia
festa luz e muito amor

No Natal há alegria
prendas... beijos... tanto faz?!...
há também pois quem diria
a Noite Santa da Paz...

M.B.S.


sábado, 21 de dezembro de 2013

SONETO DE NATAL

Irmã gémea das rosas e da aurora
beijo de amor mui doce e virginal
como te quero alma encantadora
suavíssima flor de laranjal

Sonho de só sonhar bendita a hora
genésica rotunda tal e qual
cativo coração que se demora
no frémito de ventre triunfal

Papoila frágil tão cá dentro acesa
no meu peito de Fé iluminado
quis Deus que fosses ponto de partida

minha açucena branca de pureza
botão de rosa lindo amordaçado
tu hás-de abrir enfim ao Sol da Vida

M.B.S. in "O Rumo e o Sonho" - 2001
 Fólio Edições

net pic

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

VULTOS E CULTOS

Imagem do Google



Não há nada mais saboroso do que deixar correr na pantalha da memória, todo o filme de recordações que ficou indelevelmente gravado, aí mesmo, no âmago do mais profundo do meu ser, onde radicam os afectos, o carácter, a personalidade; a exemplo do que se passa no coração dos homens de boa vontade, onde se dão os primeiros passos no sentido das aprendizagens mais puras e sentidas, mais espontâneas e autênticas; onde ficam escritos, pela força do amor que desbrava os caminhos da paz e da concórdia, os vultos que determinaram e ainda fomentam os cultos, que nenhuma força oculta ou tendência desviante conseguirá esbater, abater ou fazer desaparecer.



O sabor delicioso que se mescla de fantasia e maravilha, e que nestes dias perpassa teimosamente a minha memória, liga-se à festa dos Reis Magos, muito mais bonita do que a festa do Natal, durante a qual toda a gente só pensa em cultivar gulas desmedidas; muito mais cristã do que as celebrações, perfeitamente patéticas e gratuitas (mas dispendiosas), de enterro do ano velho e de saudações ao ano novo (?!); ainda, muito mais simbólica do que as outras duas às quais aludo, devido ao significado de incomensurável riqueza que encerra o facto de três reis terrenos, ricos e poderosíssimos, terem sido levados, pela luz de uma estrela, a prestar homenagem, através da oferta de ouro, incenso e mirra, a um recém-nascido que, ungido de sublime bondade etérea, viria a ser rei, sacerdote e profeta.


Depois do que fica exposto, é extremamente penoso ter de constatar que, a nível oficial, em Portugal (que não em Espanha), os “Reis” foram deliberadamente desacreditados, por omissão, nomeadamente no cômputo dos dias que até aí integravam as denominadas Férias de Natal, que não mais se estenderiam até ao dia 6 de Janeiro de cada ano que passa.



Só esta alteração, aparentemente simples e inofensiva, encerra em si um poderoso e devastador alcance, que visa, está bem de ver, mentalizar as crianças, ao nível ideológico, para a indiferença, o desprezo, a ignorância a que devem ser votados os “Reis” e toda a sua maravilhosa abrangência psicológica, emocional e simbólica.



Nesta conformidade, não sei para onde caminhamos; mas sabemos todos que, isso sim, não é com o extermínio de cultos tão envolventes, harmónicos, significativamente simbólicos e saudáveis como o eram o dos “Reis” – Gaspar, Melchior e Baltasar – três dos vultos que estruturaram, adocicaram e (re)temperaram a minha infância (e que se quedam indeléveis e impolutos no meu imaginário, tecendo a harmonia saudável do meu verdadeiro self), que conseguiremos respeitar as nossas crianças ou valorizar a sua educação. Punhamos os olhos no admirável exemplo da nossa vizinha Espanha!



NOTAS: O FANTÁSTICO ocorre quando o seu realismo suscita a dúvida que a lógica não consegue explicar; a narrativa de carácter sobrenatural cria o efeito fantástico sempre que hesitamos entre causas naturais e sobrenaturais;

   
O MARAVILHOSO nunca converge no sentido do real nem do seu contrário, sendo mesmo encarado naturalmente, como acontece na cultura judaico-cristã.


quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

AINDA PAULO FREIRE...

Ainda Paulo Freire e as suas teses educacionais, no prosseguimento do escrito de há oito dias. Afirmava este grande pedagogo e ser humano: se se quer que o homem actue e seja reconhecido como sujeito; se se pretende que ele faça a história em lugar de ser levado por ela, e se se procura que ele participe de forma activa e criadora, então é importante prepará-lo para o efeito, através da Educação autêntica que conduza à liberdade não condicionante, não escravizante. Isto obriga a rever, a partir das bases, os sistemas tradicionais educativos, quer ao nível dos programas quer ao nível dos métodos.

A realidade só pode ser modificada se o homem descobrir que ela o pode ser, e que tal desiderato pode ser protagonizado por ele. É desta tomada de consciência que surge o primeiro grande objectivo da educação, traduzido, antes de mais, na necessidade de desencadear uma atitude crítica, de reflexão, de empenhamento, de acção.

A consciência crítica só pode ser despertada se se utilizar um método activo, suportado por um diálogo intenso e esclarecido, que torne participantes tanto os que querem aprender como aqueles que os querem ajudar nisso mesmo. O diálogo deve ser sempre mantido numa relação horizontal, consubstanciando uma permuta entre dois seres; uma relação que envolva amor, humildade, esperança, confiança mútua, numa linha de comunicação equilibrada e profícua, que gere por si só uma atitude crítica fecunda.

“Uma educação que não é feita pelo diálogo – no dizer de Paulo Freire – mata o poder criador, não só de quem educa mas também do educador”, na medida em que este se transforma em alguém que impõe regras e fórmulas passivamente recolhidas pelos seus alunos. Ninguém cria... nem quem impõe nem aqueles que recebem as imposições. Ambos os lados se atrofiam. É a negação do próprio processo educativo. A educação – continua Paulo Freire –, sendo um acto de amor, é, por isso mesmo, um acto de coragem. 

A educação não pode temer o debate e a análise das realidades. Não pode evitar as discussões criadoras, sob pena de ser uma farsa. Na educação tradicional não são permutadas ideias – são ditadas. Não debatemos nem discutimos temas; não trabalhamos com o educando, mas trabalhamos sobre ele. Propomos-lhe uma ordem à qual não adere, mas a que se ajusta. Não é possível com uma educação deste género preparar homens que se integrem num impulso de democratização, dificultando ou mesmo impedindo a “entrada do povo na vida pública”.

(Até para a semana!)
net pic

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

PAULO FREIRE, O PEDAGOGO

Esse grande educador e pedagogo que foi Paulo Freire (1921-1997) nasceu no Brasil, na cidade de Recife. Em 1947 começou a trabalhar com adultos analfabetos e, gradualmente, foi desenvolvendo um método de trabalho a que foi associada a palavra “conscientização”. A partir de 1962 partiu para a realização de experiências com base no seu próprio método.

Ainda na grande nação sul-americana, depois do golpe de estado ocorrido em 1964, Freire foi preso pela “Nova Ordem”, sob a alegação de que o seu método de ensino era manifestamente subversivo. Reaparece, então, no Chile, no exílio, onde consegue implementar livremente as suas teorias educacionais, realizando também vários seminários que versam as suas ideias e o seu trabalho.

Na base das concepções de Paulo Neves Freire sobre Educação, encontra-se uma primeira ideia-chave: “Para ser válida toda a educação, toda a acção educativa deve ser, necessariamente, precedida não só de uma reflexão sobre o tema em estudo, mas também de uma análise do meio vivencial onde se insere o indivíduo que se pretende apoiar, ajudar a educar.

Por um lado, na ausência de uma tal reflexão sobre o indivíduo, arriscamo-nos a adoptar métodos que o reduziriam à mera condição de objecto; por outro lado, ignorando a cuidada observação do meio envolvente, precipitamo-nos na protagonização de uma educação que não estará nunca adaptada à pessoa em causa, à qual, no fundo, se destina. Como defende, então, Paulo Freire o seu método? Vejamos:

Através da concretização de uma segunda ideia-força, o grande pedagogo Paulo Freire aposta na reflexão sobre a situação, sobre o ambiente atinente ao indivíduo, sobre a realidade que o torna sujeito. Só uma educação deste tipo liberta o homem em vez de o escravizar; de o domesticar; de o “acomodar” como até aí acontecia, na maior parte das vezes, com os princípios e métodos educacionais vigentes, tendentes a ajustar o ser humano à sociedade, em detrimento da sua legítima promoção.

Nesta conformidade, tornava-se urgente que a Educação tivesse em vista – e isso foi percebido por este brasileiro, pioneiro desta inovadora e revolucionária abordagem educativa –, na sua substância, nos seus programas, nos seus métodos, uma adaptação à sua própria essência, isto é, permitindo ao homem se tornar sujeito, se constituir como pessoa no sentido de transformar o mundo, criando com os outros novas relações de reciprocidade, na construção da sua própria cultura e da autenticidade da sua história.
(Voltarei ao assunto)