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Muito se tem dito e escrito sobre a moderna sociedade educativa (?!) e, como não podia deixar de ser, sobre o papel do professor, enquanto foco primeiro de todo o sistema educativo; figura de proa do quadro referencial, não só alargado, mas também específico da dita sociedade educativa, devendo, ao mesmo, ser reconhecido o papel de principal autoridade na matéria, através da revalorização urgente do seu estatuto profissional (tem sido feito o contrário), para que seja possível tanger o desiderato do real progresso social e da compreensão atilada a respirar entre os diversos sectores da sociedade dos povos, na persecução do atenuar das estratificações e injustiças que frustram as gentes.
Evidentemente que tal objectivo não pode ser alcançado sem os meios de trabalho que, da forma mais correcta, propiciem a pertinência de um projecto com características tão particulares e envolventes. A escola não dispõe desses meios no momento actual, nem poderá contar com eles nos anos mais próximos. A situação, a este nível, tem sempre assumido, vá-se lá saber porquê, contornos de aviltante fatalidade.
No fundo, a ideia que hoje paira no ar, no sentido de inverter o rumo dos acontecimentos, e que dificilmente se tenta implementar, porque exige vontade política e verbas astronómicas, é a ideia reflectida por aquela já velhinha expressão popular de que todos ouvimos falar - "aprender até morrer" -, e que desemboca no conceito bem actual, e tão gostosamente importado dos países europeus civilizados, da chamada sociedade educativa, no seio da qual é previsível vir a tirar partido, de feição pedagógica, dos vários espaços da vida do quotidiano, sejam eles de cariz social, cultural ou económico.
Nesta medida, tem sido tentado, por meio da legitimação de tais conceitos, exaustivamente agitados, e de alguma legislação atinente, nem sempre devidamente enquadrada, firmar convénios, contratos e parcerias com associações culturais, empresas e outras agremiações, para que a escola seja financeiramente apoiada pela sociedade que, afinal, serve.
Longe de nós negar o alcance ideal de tais projectos, aliados, de resto, à incontestada necessidade, sempre acrescida, de actualização de saberes e competências da classe docente, mas, para isso, e no interesse integrado da sociedade educativa, devem ser criadas condições de frequência dos respectivos cursos de formação e de enriquecimento de conhecimentos, sem que se verifiquem choques com as horas normais de leccionação, ou prejuízo dos períodos úteis, humanamente imprescindíveis, de distensão dos profissionais do sector.
Pensamos também que o actual e tão propalado afã de colectivizar o desempenho docente, não traz benefícios palpáveis ao sistema educativo, nem às aprendizagens dos alunos, dado que a investigação, o estudo e até mesmo a leccionação são demonstrada e manifestamente tarefas que devem ser individualizadas, embora se possa, por vezes, trabalhar em equipa, apenas para que a troca de impressões e o relato posto em comum, de experiências de carácter pedagógico, possam ser aproveitados para o desenvolvimento de atitudes alternativas ou complementares, em contexto de sala de aula.
Vistas bem as coisas, no âmbito de toda esta importante problemática, e de acordo com aquilo que se passa hoje ao nível da produção legislativa, também em função dos registos daquilo que se vai (ou não) passando no terreno, para além de tudo o que a experiência nos tem demonstrado e aconselhado, depois da formação turbulenta, mas economicamente estratégica (falta saber se a longo prazo o será) dos mega-agrupamentos, tudo se configura para que tudo pudesse vir a funcionar menos mal, no âmbito ideal da aludida sociedade educativa.
Assim pensaram os teóricos e, se calhar, fizeram figas, depois de terem depositado no banco das intenções, tamanho capital de expectativas.
De nada vale, no entanto, a magia das representações de políticos pouco hábeis e nada atentos ou empenhados; vistas bem as coisas, repetimos, na prática, multiplicam-se a complexa confusão da salada etária, com os consequentes e irreversíveis transtornos de ordem psico-afectiva de todas as crianças envolvidas; a labiríntica e esmagadora miscelânea de docentes, discentes, assistentes operacionais e funcionários administrativos; ao professor ainda não lhe foi conferida a tal autoridade, autonomia e individualidade que o estatuto deveria assegurar e reforçar; os meios ao dispor da classe não são os mais adequados e, relativamente às parcerias, convénios, tratos e contratos com as diversas pessoas colectivas e instituições diversas, aqueles tornam-se extremamente difíceis, senão mesmo impossíveis, numa sociedade que, cada vez mais, tem pautado os seus comportamentos, atitudes e reacções pelo egoísmo feroz de interesses umbilicais que apenas visam lucros imediatos e sempre crescentes, doa a quem doer; pela indiferença diletante dos mais ricos (também em ignorância, por vezes); pelo cinismo e hipocrisia de alguns políticos, pela total ausência de espírito de solidariedade e empatia e de cultura de valores altruístas no seio da grande família lusitana.
Disseram Sociedade Educativa?! Pois é!... Só que o civismo, a educação e a civilidade de uma imensa franja da população portuguesa, deixa muito a desejar; deixa-nos ficar mal, perante nós próprios e ainda face ao desenvolvimento sócio-económico-político-cultural dos países europeus ditos civilizados.
NOTA IMPORTANTE: ARTIGO ESCRITO EM SETEMBRO DE 2003. SERÁ QUE EVOLUÍMOS?!