Não sei por que te despenhas
na ravina da indiferença
no barranco do abandono
nas falésias do desprezo
num espartilho de penumbra
que o tempo dilacera
Comigo viajas sempre
na linha dos sentidos
percorrendo o torvelinho agreste
que o silêncio me grita
Sinto o desespero gelado
nas mãos vazias
sempre que agarro o medo
ou faço sucumbir a solidão
mitigando imagens fugidias
por entre os dedos trémulos
Sinto que me acenas
do fundo do flagelo
tentando pôr fim a tão trágica derrota
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Nem mesmo no poema
direi de ti todos os segredos
Mesmo aqueles que ribombam
ecos sem sentido
na transparência da palavra
cruelmente ofuscada
à mesa de sombrios delírios
serão búzios de silêncio
pavor e desespero
Já subi todas as colinas
serras e montanhas
promontórios e ravinas
para te dar o Sol de cada dia
na alma que procuravas
Resta-me triturar nos lábios
o abandono destes dias
a dor
o queixume
a fantasia de quem bebeu o rio
verde da quietude
e hoje entardece
no mar do desassossego
Nem mesmo assim
direi de ti todos os segredos