Com
a tomada de posse, em Portugal, do 21.º Governo, há escassas semanas, e o
consequente início do respectivo exercício de poder, começaram a desenhar-se
algumas alterações de fundo, nomeadamente, ao nível do Sistema Educativo Nacional. Estamos
a falar do cancelamento (abolição) de situações de exame a que eram submetidos
os alunos do 4.º ano de escolaridade. Provavelmente, outros cancelamentos se
lhe seguirão, pelos mesmos motivos (?!), no que diz respeito aos 6.º e 9.º anos
de escolaridade e, quem sabe, no que concerne ao 12.º.
Há quem afirme tratar-se de razões
de cariz ideológico; há quem aponte motivos educacionais; há mesmo quem diga
que os exames constituem situações pouco saudáveis, passíveis de gerar traumas
e sofrimento depressivo; e há quem advogue, pelo contrário, que as crianças
saem robustecidas e mais preparadas para os desafios e para as dificuldades da
vida.
Evidentemente que tudo isto se
passa, com maior ou menor expressão, tudo dependendo da pessoa em causa e dos
múltiplos contextos situacionais onde a mesma se insere, e, sendo assim, resta
agora colocar nos pratos da balança os prós e os contras e chegar a uma
conclusão producente e edificante.
É que os especialistas em educação
infantil e juvenil são de opinião de que não é possível o crescimento e o
desenvolvimento sem a vivência, na altura própria, de experiências
significativas, devidamente enquadradas. Só assim a criança vai adquirindo,
gradualmente, capacidade de autonomia e individuação, e sentido de responsabilidade;
só dessa maneira consegue amadurecer e construir a sua identidade estruturada
numa personalidade sadia e afirmativa.
A criança nasceu dos pais, e, a
partir destes, com apoio sério, descomprometido e oblativo – não captativo
–, vai poder distanciar-se primeiro dos
progenitores que a souberam preparar para o efeito, e depois afirmar-se no seio
dos seus pares, no sentido de uma dinâmica exterior, responsável, rendendo,
assim, no devido tempo, a geração anterior.
Hoje em dia são imensas e exaustivas
as manobras de diversão e de dispersão dos estudantes: as TIC, os canais
televisivos de programação abstrusa, as rocalhadas ao vivo, o
álcool, os jogos de vídeo, entre outras, e, a juntar a tudo isto, a total
ausência de rigor e exigência na preparação das suas vidas em contexto
familiar, de sala de aula e institucional.
O resultado é uma praticamente nula
capacidade de concentração da atenção e de aceitação de regras; hiperactividade
e nervosismo patogénico; interesses selectivos infantilizados (padronizados –
condicionantes e condicionados); comportamentos caóticos facilitados pelos pais
incapazes e ignorantes; inexistência de capacidade analítico-sintética e
reflexiva, na prática, porque vão sendo vítimas de pedagogias que visam o
facilitismo, a mediocridade e a improvisação, ao invés de fomentarem a
criatividade e o sentido crítico.
Não cultivam hábitos de leitura
(bons autores literários, filosóficos, e outros, inseridos no vasto campo da
antropologia cultural, por exemplo); não investigam nem procuram saber; não
sabem falar direito nem escrever com um mínimo de coerência sintagmática, logo,
a comunicação e a simbolização vão enfermando de défices redutores que
primitivizam os indivíduos.
Enfim, num mundo difícil e complexo,
repleto de desafios a exigir bem alicerçadas competências pessoais e sociais;
numa sociedade estruturada em normas, códigos, estatutos, leis, directivas,
princípios, para além de muitas outras imposições, os exames (avaliações
convenientemente tipificadas e enquadradas), enquanto fenómenos ritualizados de
preparação para a vida, só favorecem o fortalecimento e a integração, a
estabilização de competências e saberes e a auto-estima, a estruturação da
personalidade, o reforço do estímulo para a consagração da dinâmica da
identificação, e a consolidação do nível de excelência de cada uma das crianças
ou de cada um dos jovens que se dispõem a encarar o futuro com alegria e
orgulho de ser. Saibam os paizinhos... e os governos estar à altura!
Imagem do Google
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