Imagem do Google |
Hoje em dia, o
comportamento do homem em situação é caracterizado mais em função da sua
capacidade de reacção motivada do que por uma espécie de intrínseca e genuína
necessidade de acção. Esta resultaria de uma etologia saudável; aquela surge do
imperativo de tentar compensar a dor mental que atormenta o quotidiano dos
indivíduos.
Este tipo de sofrimento advém da
vulgarização da omnipotência em detrimento do uso do pensamento; da negação das
aprendizagens empíricas em favor de afirmações identitárias omniscientes; da assunção
prepotente de posturas esquizóides inconsistentes, porque sonegam a dependência
e a fragilidade humanas. Tudo isto gera confusão e ambiguidade, sem deixar de
configurar estranhos mecanismos de defesa e readaptação às cada vez mais
complexas condições de existência da sociedade actual (Bion, 1991; Zimerman,
2004, cit. in Wolff, 2011).
E é esta mesma sociedade que nos
impõe, em tempo real, a omnipresença das novas
tecnologias de informação e comunicação, às quais se ligam os indivíduos de
forma viciante, dependente, ambígua, desprovida de lógica, de verdade e de
emocionalidade, porque de virtualidade se trata. Fica, por um lado, diluída a territorialidade
em nome da globalização, da mesma forma que vamos sendo invadidos por uma
espécie de uniformização dos contextos, dos cultos, das crenças, dos ritos e
das assunções, a caminho da solidão virtual, do isolamento, da formatação
padronizada geradora do pensamento único, na vacuidade do tempo e do lugar; por
outro lado, tal estado de coisas potencia a confusão mental ou mesmo a
dissociação, disfuncionando o equilíbrio do self.
A propósito das TIC
e das “redes sociais” – o conceito exige uma análise reflexiva profunda e
desmistificadora –, há quem afirme que as mesmas potenciam a paulatina diluição
da angústia existencial de quem as utiliza... Enfim, como se aquelas fossem
capazes de operar a metabolização psíquica de quem a elas se “agarra”, transformando
os conteúdos nefastos de cada um em capacidade de sentir e de pensar.
E aqui,
servimo-nos dos ensinamentos de Bion, estabelecendo um paralelismo entre o vínculo
que se desenha entre a mãe e o bebé, aquando da relação continente-conteúdo, no
sentido da resolução dos maus conteúdos infantis transformados pelo bom-seio, e
a seguir introjectados pela criança a favor da construção do aparelho de pensar
os pensamentos.
Nas redes sociais, tanto quanto nos
parece, será mais o inverso: a inoperância deste fenómeno positivo de
metabolização não digere psiquicamente as impressões sensoriais e as emoções,
sendo estas evacuadas por identificação projectiva; esta, por sua vez, pode
despoletar reacções psicossomáticas e alucinações. E terminamos com o conceito designado
por Bion de “ataques aos vínculos”, para referir que esta estranha
dependência pode, paradoxalmente, coarctar a comunicação dos indivíduos,
refreando a aptidão para pensar, a linguagem, o conhecimento e, até, a própria
simbolização (Bion, 1991b, cit. in
Wolff, 2011).
Mais um texto para pensar, amigo. E muito actual, nestes tempos em que as pessoas quase só comunicam através das tais TIC. É muito bom não perdermos o hábito de nos encontrarmos com os amigos para uma boa conversa...
ResponderEliminarUm beijo.
Querida amiga, Graça Pires,
EliminarAinda bem que os meus artigos vão conseguindo chamar a atenção das pessoas para o que se passa à nossa volta. É um prazer sabê-la leitora.
Desejo-lhe umas Santas Boas-Festas e muita Paz.
Beijinho.