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No passado dia 25 de Dezembro, isto é, no dia de Natal, a escassos minutos da hora de jantar, junto ao aconchego da família e de alguns amigos, gozávamos o calor da lareira onde crepitavam algumas achas de azinho. Entretanto, no remanso descontraído da conversa, escutámos de um dos presentes (adulto) uma curiosa confidência: "Nunca fui capaz de concretizar os meus projectos de vida, porque não consigo deixar as pessoas de quem gosto."...
Escusado será dizer que conhecemos muitas pessoas que enfermam deste mesmo mal e que, no dia-a-dia, não fazem mais do que se tentar enganar. É que, na prática, esta gente não gosta de ninguém nem muito menos de si própria. Trata-se da vulgar síndroma da imaturidade que consegue vencer décadas e, na maioria dos casos, acompanha estas pobres almas desamparadas até à cova.
Já aqui escrevemos sobre o amadurecimento do indivíduo, que não acompanha necessariamente o devir cronológico (este é inexorável), nem a evolução mental, fisiológica ou afectiva. Qualquer criatura para crescer harmonicamente não pode ser absorvida pelos pais devido aos seus pavores inconscientes, às suas angústias debilitantes e deprimentes, o mesmo vale por dizer, ao seu infantilismo redutor e castrante. É este exactamente o caso da pessoa que nos fez a atrás aludida confidência.
Atrevemo-nos a dizer, depois de termos opinado, há tempos, sobre as famílias numerosas, que há famílias que não merecem os filhos que tiveram. Reparem: o grau de harmonia do casal, que muito legitimamente pretende deixar descendência, é fulcral no quadro dos afectos de atracção (Adler). É, essencialmente neste âmbito que se vai gerando o clima familiar, sempre alicerçado pela interacção inconsciente do pai e da mãe e de todo o tipo de experiências que vão protagonizando entre si, quer ao nível sexual, como familiar, social ou de outro tipo.
Uma individuação bem definida; uma identidade harmoniosamente estruturada; uma autonomia perfeitamente construída, no sentido da emancipação segura e responsável; um self consciente e orientador podem, afinal, constituir mais-valias gratificantes que garantam às crianças nascidas de pais adultos, dotados desse tipo de caracterologia, uma educação em liberdade, evitando que as sensibilidades mórbidas dos adultos mal formados possam intoxicar a vulnerabilidade infantil.