quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

AINDA PAULO FREIRE...

Ainda Paulo Freire e as suas teses educacionais, no prosseguimento do escrito de há oito dias. Afirmava este grande pedagogo e ser humano: se se quer que o homem actue e seja reconhecido como sujeito; se se pretende que ele faça a história em lugar de ser levado por ela, e se se procura que ele participe de forma activa e criadora, então é importante prepará-lo para o efeito, através da Educação autêntica que conduza à liberdade não condicionante, não escravizante. Isto obriga a rever, a partir das bases, os sistemas tradicionais educativos, quer ao nível dos programas quer ao nível dos métodos.

A realidade só pode ser modificada se o homem descobrir que ela o pode ser, e que tal desiderato pode ser protagonizado por ele. É desta tomada de consciência que surge o primeiro grande objectivo da educação, traduzido, antes de mais, na necessidade de desencadear uma atitude crítica, de reflexão, de empenhamento, de acção.

A consciência crítica só pode ser despertada se se utilizar um método activo, suportado por um diálogo intenso e esclarecido, que torne participantes tanto os que querem aprender como aqueles que os querem ajudar nisso mesmo. O diálogo deve ser sempre mantido numa relação horizontal, consubstanciando uma permuta entre dois seres; uma relação que envolva amor, humildade, esperança, confiança mútua, numa linha de comunicação equilibrada e profícua, que gere por si só uma atitude crítica fecunda.

“Uma educação que não é feita pelo diálogo – no dizer de Paulo Freire – mata o poder criador, não só de quem educa mas também do educador”, na medida em que este se transforma em alguém que impõe regras e fórmulas passivamente recolhidas pelos seus alunos. Ninguém cria... nem quem impõe nem aqueles que recebem as imposições. Ambos os lados se atrofiam. É a negação do próprio processo educativo. A educação – continua Paulo Freire –, sendo um acto de amor, é, por isso mesmo, um acto de coragem. 

A educação não pode temer o debate e a análise das realidades. Não pode evitar as discussões criadoras, sob pena de ser uma farsa. Na educação tradicional não são permutadas ideias – são ditadas. Não debatemos nem discutimos temas; não trabalhamos com o educando, mas trabalhamos sobre ele. Propomos-lhe uma ordem à qual não adere, mas a que se ajusta. Não é possível com uma educação deste género preparar homens que se integrem num impulso de democratização, dificultando ou mesmo impedindo a “entrada do povo na vida pública”.

(Até para a semana!)
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3 comentários:

  1. Olá Manel, meu querido amigo,
    Gosto de te "ouvir" nestas cogitações pedagógicas que tão bem sabes explanar.
    Claro que só teme o diálogo, a participação, o debate quem não é capaz de dirigir e aceitar conceitos de outrem por variados motivos. Aqui fizeste-me reviver as minhas aulas de português em que na descodificação de textos, sobretudo na poesia, os debates eram tão "acesos". criava um belo ambiente, o tempo passava e tudo saía a discutir as ideias de cada um...
    Bom Natal
    Aquele abraço

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  2. Concordo. Quando se participa da criação, somos mais parte dela e crescemos melhor a partir daí. Diálogo, envolvimento e emoção pela causa fará com que os resultados sejam melhores e a consciência mais objetiva e canalizada. A imposição, não cativa de forma alguma para a criação. Se fosse possível… assim, seria deveras maravilhoso. Talvez não interesse a quem decide, perder o controlo sobre as partes.
    bji

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  3. Querido Mano
    A legenda da fotografia de Paulo Freire diz tudo o que eu gostaria de exprimir.
    A Educação chegou ao ponto em que está,porque não interessa às cúpulas que o Povo saiba discernir.
    Fazes bem em escrever sobre o assunto,até porque,quem te lê,reflecte sobre o PROBLEMA,que eu considero incomensurável.
    Felicito-te por isso.
    Beijinhos
    Nininha

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