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O
homem distingue-se de todos os outros animais, devido, precisamente, à extraordinária capacidade da sua mente e à
possibilidade de comunicar através da palavra, da linguagem falada. Esta,
processa-se por intermédio da composição sintagmática (sintáctica), dirigida ao
outro, isto é, ao interlocutor. Este tipo de fenómeno, que é sensibilidade
emocional e pensamento, configura, na sua génese e essência, o desejo do outro
e da resposta que ele possa ter para nos dar, seja para que efeito for, porque
o homem é um ser social (Mauco, 1967, p. 157).
A palavra é, nesta conformidade, o
trunfo poderoso e inestimável que permite ao homem aceder, pelo vigor da sua
própria mente, à consciência do seu papel, não só familiar e social, mas também
planetário, uma vez interiorizado o seu código linguístico, antes e depois de
ter percorrido as várias etapas de construção e aferição da sua personalidade.
Esta, dotada de um superego saudavelmente formado, deve ser capaz de domar as
suas pulsões animalescas, primitivas, meramente instintivas, aceitando a
representação dos interditos da vida familiar e social (Doucet, 1972, p.
205).
Não esqueçamos, porém, a
fundamentalidade do sentimento de pertença de si e do grupo contextual, cuja
continuidade e intencionalidade pautam o comportamento do indivíduo e a
linguagem utilizada, se bem que no quadro da experiência consciente do
pensamento secundário, logo, conversível e orientador (Georgieff, 1995,
p. 20).
Para que conste, tudo isto se passa
no âmbito dos afectos que, quer se queira quer não, apresentam duas vertentes,
conforme Adler: de atracção e de aversão; uma funciona sempre em
prejuízo da outra, mas podem ambas, por motivos inversos, precipitar a discórdia
e a agressão. No ano de 1930... e Hitler ali tão perto!, Freud,
na sua obra “Cultura e Suas Desvantagens” referiu-se à agressividade
como sendo “um impulso nato e autónomo do homem” (Doucet, 1972,
p. 22 e 25).
Num estado de direito democrático,
regido por leis, regras, normas, princípios e valores, como se afirma Portugal
desde 1974, os deveres e os direitos são os mesmos para ambos os géneros em
presença, para que possa haver paz, harmonia e desenvolvimento, mediados pelo
diálogo, cujas representações se substituem à coisa nomeada; na sociedade e na
família.
Aqui, nesta, a envolvência que
resulta da saudável convergência dos afectos, sempre através do diálogo franco
e aberto que fomenta a interacção positiva dos casais, consegue manter acesa a
chama que reforça o papel de cada um dos cônjuges, na persecução do projecto
de transmissão da vida... aos filhos que se desejam; seria o ideal (Santos,
2008).
Tudo isto é possível, graças à
incrível e imparável actividade do pensamento. Este, ligado aos afectos, e
conforme o registo neural linguístico de cada pessoa integrante do núcleo
conjugal, procede desde o berço uterino, também sob a
influência do inconsciente colectivo transgeracional, melhor ou pior, para, no
seio de cada família, caminhar no sentido da aceitação dos indivíduos que
constituem determinado agregado familiar; do respeito que todos devem a cada
um, e cada um a todos, porque existe, afinal, da parte dos pais, efectiva
maturidade afectiva e reciprocidade na aceitação do papel sexual activo
inerente aos respectivos membros do casal.
Se, pelo contrário, as coisas correm
mal na relação dos progenitores, multiplicam-se as tensões internas, a
ansiedade, e a criança ressentir-se-á nos planos afectivo, intelectual e
físico. Verificar-se-ão reacções abúlicas, tranferência afectiva sobre outras
pessoas, culpabilidade, angústia, insegurança, incerteza, agressividade, quebra
do rendimento escolar, alheamento, paralisia, enuresia, anorexia, tiques,
fixações regressivas, perturbações psicossomáticas várias, etc., etc. (Mauco,
1967, p. 96 e 97).
Aqui chegados, resta-nos apenas
concluir o presente escrito dentro do espírito de toda a temática versada, com
uma última e deveras curiosa alusão ao significado metafórico da linguagem, do
ponto de vista ainda da dimensão da narração dirigida ao outro e da
essencialidade salutar dos afectos com sentido. E passamos a citar, “ipsis
verbis”, para que nada se perca: “Wilfred R. Bion sublinha
o facto de a constituição e o funcionamento do aparelho psíquico dependerem
da relação precoce com o outro – a mãe. Será o aparelho psíquico materno,
construindo uma “narração” dirigida ao pai, que permitirá a transformação das
primeiras produções psíquicas do bebé em “pensamentos”. A interiorização
segunda do aparelho materno de “pensar os pensamentos” permite, em seguida, a
constituição do psiquismo” (Georgieff, 1995, p. 49). Notável!
Em
04 de Maio de 2015