quinta-feira, 7 de maio de 2015

O VIGOR DA MENTE

       
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         O homem distingue-se de todos os outros animais, devido, precisamente, à  extraordinária capacidade da sua mente e à possibilidade de comunicar através da palavra, da linguagem falada. Esta, processa-se por intermédio da composição sintagmática (sintáctica), dirigida ao outro, isto é, ao interlocutor. Este tipo de fenómeno, que é sensibilidade emocional e pensamento, configura, na sua génese e essência, o desejo do outro e da resposta que ele possa ter para nos dar, seja para que efeito for, porque o homem é um ser social (Mauco, 1967, p. 157).

            A palavra é, nesta conformidade, o trunfo poderoso e inestimável que permite ao homem aceder, pelo vigor da sua própria mente, à consciência do seu papel, não só familiar e social, mas também planetário, uma vez interiorizado o seu código linguístico, antes e depois de ter percorrido as várias etapas de construção e aferição da sua personalidade. Esta, dotada de um superego saudavelmente formado, deve ser capaz de domar as suas pulsões animalescas, primitivas, meramente instintivas, aceitando a representação dos interditos da vida familiar e social (Doucet, 1972, p. 205).

            Não esqueçamos, porém, a fundamentalidade do sentimento de pertença de si e do grupo contextual, cuja continuidade e intencionalidade pautam o comportamento do indivíduo e a linguagem utilizada, se bem que no quadro da experiência consciente do pensamento secundário, logo, conversível e orientador (Georgieff, 1995, p. 20).

            Para que conste, tudo isto se passa no âmbito dos afectos que, quer se queira quer não, apresentam duas vertentes, conforme Adler: de atracção e de aversão; uma funciona sempre em prejuízo da outra, mas podem ambas, por motivos inversos, precipitar a discórdia e a agressão. No ano de 1930... e Hitler ali tão perto!, Freud, na sua obra “Cultura e Suas Desvantagens” referiu-se à agressividade como sendo “um impulso nato e autónomo do homem” (Doucet, 1972, p. 22 e 25).     

            Num estado de direito democrático, regido por leis, regras, normas, princípios e valores, como se afirma Portugal desde 1974, os deveres e os direitos são os mesmos para ambos os géneros em presença, para que possa haver paz, harmonia e desenvolvimento, mediados pelo diálogo, cujas representações se substituem à coisa nomeada; na sociedade e na família.

            Aqui, nesta, a envolvência que resulta da saudável convergência dos afectos, sempre através do diálogo franco e aberto que fomenta a interacção positiva dos casais, consegue manter acesa a chama que reforça o papel de cada um dos cônjuges, na persecução do projecto de transmissão da vida... aos filhos que se desejam; seria o ideal (Santos, 2008).

            Tudo isto é possível, graças à incrível e imparável actividade do pensamento. Este, ligado aos afectos, e conforme o registo neural linguístico de cada pessoa integrante do núcleo conjugal, procede desde o berço uterino, também sob a influência do inconsciente colectivo transgeracional, melhor ou pior, para, no seio de cada família, caminhar no sentido da aceitação dos indivíduos que constituem determinado agregado familiar; do respeito que todos devem a cada um, e cada um a todos, porque existe, afinal, da parte dos pais, efectiva maturidade afectiva e reciprocidade na aceitação do papel sexual activo inerente aos respectivos membros do casal.

            Se, pelo contrário, as coisas correm mal na relação dos progenitores, multiplicam-se as tensões internas, a ansiedade, e a criança ressentir-se-á nos planos afectivo, intelectual e físico. Verificar-se-ão reacções abúlicas, tranferência afectiva sobre outras pessoas, culpabilidade, angústia, insegurança, incerteza, agressividade, quebra do rendimento escolar, alheamento, paralisia, enuresia, anorexia, tiques, fixações regressivas, perturbações psicossomáticas várias, etc., etc. (Mauco, 1967, p. 96 e 97).

            Aqui chegados, resta-nos apenas concluir o presente escrito dentro do espírito de toda a temática versada, com uma última e deveras curiosa alusão ao significado metafórico da linguagem, do ponto de vista ainda da dimensão da narração dirigida ao outro e da essencialidade salutar dos afectos com sentido. E passamos a citar, “ipsis verbis”, para que nada se perca: “Wilfred R. Bion sublinha o facto de a constituição e o funcionamento do aparelho psíquico dependerem da relação precoce com o outro – a mãe. Será o aparelho psíquico materno, construindo uma “narração” dirigida ao pai, que permitirá a transformação das primeiras produções psíquicas do bebé em “pensamentos”. A interiorização segunda do aparelho materno de “pensar os pensamentos” permite, em seguida, a constituição do psiquismo” (Georgieff, 1995, p. 49). Notável!


Em 04 de Maio de 2015

1 comentário:

  1. Notável é este seu texto de reflexão filosófica, sociológica e política, para nos evidenciar que a relação precoce com a mãe faz a diferença... E "Tudo isto é possível, graças à incrível e imparável actividade do pensamento".
    Um beijo, Amigo.

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