segunda-feira, 31 de agosto de 2015

SÓ DE PENSAR

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E se depois de te pensar
a distância se agudiza 
concepção abstracção devaneio
verdade intangível 
rota forjada de emoções

Fulgurante frémito de pensar
meu vivido subjectivo 
dissonância metafísica 
representação metafórica 
deslumbrante apelo o da palavra

E se depois de te pensar
eu pudesse ver no poema 
a complexa evidência do ser
outorgaria à consciência
a firmeza pendular identitária
que oscila entre dispersão e integração

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

O PONTO DA SITUAÇÃO

    

        Estamos praticamente no fim das presentes férias de Verão de 2015 e, se por um lado tivemos oportunidade de descansar um pouco do ano laboral – vamos chamar-lhe assim – que ora termina e que percorremos até à mais desfigurada exaustão, por outro lado, não deixámos de estar atentos à catadupa de acontecimentos, episódios, factos e contratempos de que tem sido pródigo o mundinho em que todos vivemos, nomeada e precisamente, quando tudo aquilo que se tem passado, não tem sido mais do que a exaustiva repetição dos já habituais destemperos da humanidade, sem que vislumbremos uma centelha apenas, por mais minúscula que seja, ou fosse, de arrependimento, de recuo, de aprendizagem da lição pelas ilações inerentes, de busca de novos rumos para a paz, para a felicidade, para a harmonização dos interesses globais, numa linha de sistémico respeito pela liberdade do outro, porque está a levar em conta a minha própria liberdade.

     Enfim, é por demais evidente que estamos a falar principalmente das malditas guerras que uns fazem mais do que outros e que outros acabam por pagar muito mais do que os primeiros, não só em vidas – esse precioso e irrepetível bem na pessoa de cada um, mas também materialmente, para já não falar dos custos psicológicos, que são sempre indefiníveis.
           
         O mundo gira de forma extremamente estranha, nunca suspeitando o vulgar e inocente cidadão, das voltas tortuosas que lhe imprimem, nem como amanhecerá o novo dia. Também a este respeito, cada cabeça, cada sentença, tudo dependendo das ideologias e cultos que se bebem a partir da infância, da adolescência, da educação, dos princípios e dos valores que vão acompanhando o nosso desenvolvimento pessoal e social, e da forma como vamos sendo capazes de interpretar aquilo que sempre chega filtrado, pelas agências de informação, através dos vários “mass-media”, a nossas casas, reproduzido pelo aparelho de televisão ou pela rádio ou mesmo pela omnipresente  “internet”.

     Quando atrás dissemos que fomos acompanhando o desenrolar de tudo aquilo que foi ocorrendo no mundo (em Portugal também, por maioria de razão), fizemo-lo, no entanto, sem termos tomado uma nota que fosse – estamos em férias, caramba –, pelo que, certos episódios, não obstante a sua relativa importância, não permanecem já na nossa memória, em toda a sua complexidade e diversidade de vertentes, para que os comentemos com o à-vontade com que sempre os tratámos nestes nossos escritos de opinião. Sendo assim, não abordaremos as trapalhadas, da responsabilidade do poder, ocorridas aqui e ali... Tentem recordar-se... os lesados dos “BES”; o “IVA” da restauração; a anunciada redução dos cortes dos legítimos rendimentos disponíveis dos cidadãos – abstrusamente apelidada de “devolução”; a fúria demencial dos incendiários, cada vez mais activos; a estafada letargia do IC 35, etc..

     Mas vamos a incongruências mais ligeiras, para não maçar ninguém: aqui, não podemos deixar de referir a imagem de certos palradores mediáticos, a registar gafes de Língua Portuguesa, como, de resto, o fazem com a maior das descontracções jornalistas, políticos, comentadores (muitos deles professores universitários). Esta, então, é uma das mais recorrentes: “(...) portanto, faz-nos um ponto de situação”, dizem. É que, em qualquer enquadramento específico, o que se define é o ponto concreto da situação em análise, naquele momento; logo, não se pode nem deve utilizar o artigo indefinido “um”, que nada define, portanto; assim como a utilização da preposição simples “de” nada diz do que se pretende, pelo que se deve utilizar “de” mais “a”, ou seja, “da” – contracção da preposição simples “de”, a que se junta o artigo definido “a”, porque de uma definição precisa se trata, sempre que se faz o ponto da situação... seja qual for o facto a reportar.


         Ah, para terminar... não coloquem molhos de lenha na comida – é indigesto. Quanto a sequestros, podem submeter a letra “u” a isso mesmo; na nossa terra é muda. Já o nosso douto Bagão Félix é mesmo Félix (feliz) e não “Féliks”. É curioso, sem deixar de ser estranho, que este vírus “Féliks” tenha surgido há não menos de dois anos no linguajar mediático! Que se passa, afinal?! As várias sonoridades do “X” devem ser apre(e)ndidas e consolidadas no 1.º Ciclo do Ensino Básico.
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sexta-feira, 7 de agosto de 2015

NA CORDA BAMBA


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             De volta ao assunto (Alienação Parental), para, talvez, tentar concluir o conjunto de ideias avançado, em 22/06/2015, na primeira parte de tão melindrosa matéria, cujo título não nos satisfaz, enfim..., mas foi este: “O teu pai (ou mãe) não presta”. Aí, procurámos chamar a atenção do leitor para a importância da temática, quanto mais não fosse, pela gravidade que em si encerra e pelas marcas profundas que deixa, nomeadamente nas crianças envolvidas. Hoje, encetaremos a improvável conclusão deste escrito, e isto porque a mesma só não é definitiva e manter-se-á sempre em aberto, devido à preversidade (in)consciente levada a efeito por quem alimenta a teia relacional, cuja interacção triangular disfuncional prejudica, acima de tudo, os menores, por tempo indeterminado.
           
     Modernamente, Wilfred Bion (discípulo de Klein) chamou-nos a atenção para o papel do pensamento na criança e da sua capacidade de pensar, no sentido de decidir e agir sobre o real envolvente, sendo que esta “significa ou pressupõe, precisamente, a tolerância às emoções perante a distância que nos separa da verdade” (Dias e Fleming, 1998: p. 168). Chomsky, Bruner e Vygotsky – e Lacan, acrescente-se, tinham percebido a interacção tecida entre o pensamento e a linguagem no âmbito da organização do conhecimento, conforme lembra Aguilar (2006); ora, é nessa mesma medida que o progenitor custódio, segundo o mesmo autor, condiciona e formata o psiquismo do filho alienado; e a seguir elucida, falando de “Transtornos Dissociativos”: estes constam de “uma alteração das funções integradoras da consciência, da identidade, da memória, da percepção do meio circundante” (Aguilar, 2006: p. 78).

         Seja como for, quanto pior estruturada ou disruptiva se encontrar a personalidade do progenitor, pior influência o mesmo exercerá na criança deixada à sua guarda. Simplesmente neurótico ou marcadamente psicótico, esse indivíduo não descansará do objectivo de alienar o menor, através de estratégias deploráveis caracterizadas por delírios de perseguição, surgidos no período pós-divórcio; ideias delirantes induzidas (sobre a criança); psicopatia (com denegação da realidade e delírios alucinatórios), em casos mais extremos; frio calculismo manipulador e chantagem, logo, desprovidos de sentimentos emocionais; vitimização e reivindicação de papel insubstituível na guarda do menor, num quadro de subjectividade narcisista absolutamente primário; isolamento e quebra de vínculos vitais ao desenvolvimento, inserção, identidade, pertença e afirmação do menor em risco profundo.

      Evidentemente que tudo isto tem consequências, a vários níveis, no dia-a-dia das crianças: agressividade ou abulia, fastio ou excessos alimentares, flutuação de humores, problemas digestivos, insónia, perda de auto-estima, inadaptação, ansiedade, culpabilidade, dificuldade de concentração escolar, etc., e, mais tarde, quando adultos, estes indivíduos, necessariamente portadores de personalidades doentias e desestruturadas, podem repetir os mesmos erros de quem os tutelou.

   As crianças têm necessidade de modelos válidos, coerentes e equilibrados e essas figuras modelares, sempre que possível, devem ser os pais, porque são estes os melhores elementos de idenfificação. A Psicanálise, pela mão de Klein e Bion, aponta a mãe como a “rêverie”, o apaziguamento, e o pai como a “lei”, a representação dos interditos, caso as relações conjugais se mantenham estáveis e profícuas. Quanto mais a sociedade ocidental “evoluir”, afastando-se deste quadro de estabilidade familiar,  mais nos será dado perder. É que vamos assistindo à descaracterização, por défices cognitivos de base, impreparação ou inércia, das formas de educar, onde os meninos manobram os pais a seu bel-prazer, não tendo horas para as refeições, para sair da cama, para dormir, para navegar na internet, para estudar... Nos shoppings e nos hipermercados são os rebentos quem decide o que os progenitores terão de pagar e levar para casa... Depois tudo se desmorona e a culpa é sempre do outro; quem não desenvolveu competências pessoais e sociais (educacionais ?), em contexto de amadurecimento psico-afectivo, não pode educar seres responsáveis, autónomos e emancipáveis. É na ambiência salutar do grupo familiar onde impera a convergência dos afectos com sentido que é possível respirar as componentes identitárias e de afirmação que balizam o desenvolvimento sadio da criança, exactamente, num quadro de interacção integral, integrada e íntegra.

                            Em 06 de Agosto de 2015

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

RUDIMENTOS PSICANALÍTICOS


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     Depois de Freud, a História da Psicanálise é marcada pelos nomes, ou melhor, pelas obras de Mélanie Klein e Jacques Lacan; ambas se colocam a par do Freudismo. Este, vê respeitado, no âmbito do desenvolvimento das teorias de Klein e Lacan, a subjectividade do fantasma, isto é, o espaço do sujeito correspondente ao lugar do desejo e da ordem simbólica, descurando a objectivação, a moralização e a ordenação. Quer Klein quer Lacan tratam os fantasmas inconscientes como se se estruturassem na linguagem que radica no inconsciente. Para Klein, só o fantasma conta, na linha da sua subjectividade que estabelece um laço entre a pulsão e o desejo do sujeito.

       Klein considerava já que a incorporação fantasmática do "mau seio" era introjectada tornando-se num objecto destruidor que deveria ser eliminado. A criança, assim, lutaria contra os objectos fantásmicos pela projecção, rejeitando o mau. No útero materno, o feto é indissociavelmente "soma" e "psique". Segundo Bion, a criança incorpora o "seio bom" - utilizando aqui a expressão de Mélanie Klein -, sempre que recebe da mãe o leite materno, o afecto e o calor; mas, ao desejá-lo e antes de o conseguir, a necessidade do mesmo é considerada como "seio mau", devido, portanto, à sua não-posse e insatisfação; este deve, assim, ser evacuado. Ainda, segundo Bion, aquele representa os pensamentos primitivos, desprovidos de diferenciação entre vida e não-vida, sujeito e objecto, significante ou significado, continente ou conteúdo. 

     É curioso notar que Klein descreve a linha fantasmática da criança, em função da dependência desta da mãe; já Freud situa aquela ao nível da possessão da própria mãe, ao nível genital, aliado à identificação e à rivalidade com o pai. Vistas bem as coisas, Klein define um Édipo precoce em que a criança se afirma como uma espécie de perseguidor, enquanto que Freud apresenta a triangulação Edípica num quadro em que a possessão genital activa se confronta com a culpabilidade do desejo incestuoso e da representação da morte do pai.  

      Jacques Lacan, ao contrário de Freud, dá mais importância ao sujeito ao invés do ego; o sujeito é a figura central que tem a ver com a mãe, o corpo desta e os objectos parciais. O ego é uma espécie de espelho do sujeito. Este, quando pode recorrer à linguagem torna-se sujeito obstruído do desejo devido ao interdito do desejo do Outro, que também recorre à palavra. É, neste contexto de esgrima simbólica que a linguagem faz sentido e serve de aporte e suporte às formulações do imaginário de cada um. E fechamos com uma afirmação de Lacan: "O inconsciente é a primeira parte do discurso concreto enquanto transindividual, que falta à disposição do sujeito para restabelecer a continuidade do seu discurso consciente" (Sempè, et al ,1969: p. 100).