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(Em 04/04/2011)
O
passado dia primeiro de Abril foi o dia dos enganos; esse dia foi, também, o
único dia do ano em que ninguém enganou ninguém, porque a comemoração legitima,
afinal, todos os logros expectáveis e forjados e, para além do mais, reveste
carácter meramente lúdico, meteórico, logo, passageiro, porque confinado às 24
horas desse dia. O pior de tudo é o logro magistral, no seio do qual vamos
todos vivendo (?!), nos restantes dias do ano, há já demasiado tempo, num mundo
comandado pela ambição demolidora do bicho-homem, cuja cobiça e soberba,
corrosivas, tendem a perpetuar políticas artificiais, em nome de objectivos que
devastam e aniquilam, em todo o mundo, milhões de vidas, na sua caminhada
inexorável, em favor de lucros sempre crescentes, que passam pela destruição
sistemática de outros tantos postos de trabalho.
Tudo
se passa exactamente como descrevi no parágrafo anterior; no entanto, tudo se
anuncia como se aquilo que efectivamente se verifica, fosse apenas cíclico, e
pudesse ser contrariado ou invertido, através de políticas reformistas,
configuradas por estratégias vigorosas, tendentes a perpetuar a ilusão
fantasmagórica do tótem dos nossos dias: a visão fugaz e holográmica do
trabalho remunerado.
Karl
Marx, ao longo da sua obra “O Capital”, ignorou, não sei se propositadamente,
três das característica fundamentais do ser humano: a ambição, a
territorialidade e a agressividade. Ou não ignorou e, então, por isso mesmo,
terá achado que a sua receita pudesse ser aplicada, no sentido de atenuar todas
essas nuances da alma humana, visando posteriores resultados de moderação e
equilíbrio, no âmbito da distribuição regrada, justa e igualitária da riqueza
produzida... Mas o homem aspira, acima de tudo, à liberdade, e a experiência
(as várias experiências) colectivista(s), onde as elites dirigentes
protagonizam, a seu bel-prazer, ambição, expansionismo e belicismo, redundaria
num total fracasso, frustrando o povo, oprimido pelos déspotas, ainda que se
possa admitir a rejeição de uma visão maniqueísta do fenómeno em questão.
O
conceito de trabalho, tal como hoje o concebemos, foi há muito ultrapassado,
pelo que a ideia de emprego a ele associado, não passa de uma alucinação
quixotesca. Não adianta tentar agarrar, desesperadamente, as sombras de um
mundo que não chega sequer a ser alegoria, uma vez que o vazio está aí, porque
a realidade a que alude, pura e simplesmente não existe.
A
crise internacional, a crise europeia, a crise portuguesa são episódios de uma
novela mal contada, com que nos entretêm, procurando tão somente enganar-nos. Não
existe crise nenhuma, caros leitores; estamos todos perante uma
alteração brutal, isso sim, do figurino civilizacional à escala global; estamos
todos já, perante uma nova era, sem termos percebido que a anterior desapareceu
já. Se não agirmos em função da nova realidade e continuarmos agarrados a
fantasmas virtuais, não conseguiremos nunca encetar um novo caminho.
E,
perante a realidade sensível que políticos insensíveis deturpam, Portugal
tombou já no abismo do descalabro, numa demonstração de insuportável
incapacidade, de escandalosa impreparação, de despudorada falta de sentido
patriótico. Altere-se a Constituição, já!
O
Presidente da República, com os conhecimentos que tem, com a idade que somou e
a experiência que adquiriu – falta apenas rever a Constituição –, já devia ter
percebido que a única solução ponderada, objectiva e pragmática estaria na
formação de um governo de iniciativa presidencial... Mas não, não se quer
comprometer, preferindo a eventualidade do desastre à lucidez de uma atitude
imediata... Que a Constituição adequada contextualizaria!... Não esta! É que
vamos continuar à deriva, no mínimo, por mais dois meses e tal, condicionados pela
fraude que são os partidos... Sr. Presidente, como me entristece esse seu
receio, apagamento, cinzentismo e letargia!
Ao primeiro-ministro
demissionário, sobre quem não perderei um segundo sequer a dizer seja o que
for, pois já deu provas mais do que suficientes da seu fulgurante
artificialismo, através de uma sistemática e enfadonha propaganda, ao longo dos
últimos seis anos, durante os quais hipotecou o país de forma suicida, sugiro
apenas que nos deixe, definitivamente, em paz. A sua presença tornou-se, desde os tempos de Guterres,
absolutamente insuportável.