Imagem do Google |
Nota Prévia: No dia 28 de Maio de 1926, ocorreu, em
Portugal, um dos factos mais marcantes e definidores do rumo pelo qual
enveredaria, depois dessa data, a História do nosso país: o golpe militar que
pôs fim à Primeira Repúbilca (1910-1926). Noventa anos volvidos,
recordemos, através de oito capítulos cuja publicação se estenderá, respectivamente,
pelos próximos oito Domingos, como surgiu e se foi consolidado o regime
conhecido pela designação de “Estado Novo”.
Capítulo
I
Apesar de ter ficado para a História
como tendo sido um regime corporativo e ultra conservador, não se pense que a governação
do Dr. António de Oliveira Salazar teve a vida facilitada. O Estado Novo, como
então lhe chamou o seu principal mentor e protagonista, teve, desde a sua
génese, a oposição férrea, persistente e obstinada, de múltiplas correntes de
opinião, de um conjunto alargado de forças políticas, sociais, sindicais e até
partidárias, que, umas vezes na clandestinidade, outras vezes às claras, de
forma mais ou menos velada ou através de processos, movimentos, actos e
operações perfeitamente estruturados e consertados, não deixaram nunca os seus
créditos por mãos alheias. Esta oposição viria a ser designada por Resistência.
Vamos então aos factos (a partir da perspectiva histórica da própria
resistência) e às datas:
Logo após o movimento de 28 de Maio
de 1926, no qual o General Gomes da Costa, partindo de Braga, com o concurso de
várias guarnições militares, afirmava proceder à libertação de Portugal,
visando dotá-lo de um governo estável, não sujeito a interesses partidários, o
executivo democrático, vigente até essa data, é vencido e substituído, não
obstante a revolta dos marinheiros que contestaram, desde logo, o facto do
poder ter sido tomado de assalto pelos militares.
Na sequência do aludido movimento de
28 de Maio, Cabeçadas ainda consegue disputar o poder com Gomes da Costa, mas
perde. Chega ao fim, desta maneira, a República democrática (1.ª República -
iniciada em 5 de Outubro de 1910, depois de banida a Monarquia), após 16 anos
de inconsistência, irregularidade e persistente caos, que deixariam Portugal
numa situação desprestigiante e lastimável, face aos restantes países europeus.
Quando acontece a renúncia do
Presidente da República Bernardino Machado, é dissolvido o Parlamento. A
imprensa é censurada. Os concelhos municipais, até aí eleitos pelo povo, são
substituídos por comissões administrativas. Em Julho, o general Carmona fica à
frente do Governo depois de um golpe de Estado. Portugal, nesta altura,
encontra-se já sob uma espécie de ditadura que a vizinha Espanha, dominada por
Primo de Rivera, imediatamente reconhece e apoia.
A Resistência irá então iniciar a
sua acção: em Chaves, a 11 de Setembro de 1926, o poder totalitário, que domina
o país, começa a ser posto em causa. Nesta conformidade, uma pequena força de
Infantaria subleva-se, protestando contra o arbítrio e a prepotência dos
governantes. Como a liberdade continuasse a ser negada, todas as bolsas de
resistência passam a ser alvo de perseguições, prisões e outras formas de
coacção. Os partidos republicanos são também afastados.
Os revoltosos manifestam-se na
cidade do Porto, na capital e no Algarve. Unidades do Exército e da Marinha
sublevam-se, secundadas por milhares de populares armados. É com alguma
dificuldade que o governo lhes faz frente e vence o ímpeto resistente.
Entretanto, decorre o ano de 1927. A
luta prolonga-se entre 3 e 7 de Fevereiro. Segundo rezam as
"crónicas" de autores ligados à Resistência, são às centenas os
mortos e feridos. Algumas correntes da oposição, das quais fazem parte os nomes
sonantes dos seus principais dirigentes, tais como Afonso Costa, Álvaro de Castro, António
Sérgio e Jaime Cortesão, agrupam-se em Paris e criam a "Liga de Defesa da
República". No entanto, não tendo conseguido a unidade esperada, a sua
acção acaba por se reduzir a simples documentos escritos e pouco mais.
As
associações operárias passam a ser objecto de apertado controlo por parte da
facção governamental; depois de dissolvidas são obrigadas a apresentar novos
projectos de estatuto. A polícia revista e encerra a sede da C. G. T.,
extinguindo a organização, que se vê forçada a passar à clandestinidade,
juntamente com o seu órgão de imprensa "A Batalha". (Continua)