sexta-feira, 6 de maio de 2016

CULTOS, RITOS E FITOS





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    Sobre as relações humanas, mormente no que toca às conjugais, há bem pouco tempo, escrevemos algures: “ (...) Não devemos dar aos outros, nem mesmo àqueles a quem amamos incondicionalmente, mais do que eles nos merecem, nem é tão pouco aconselhável que alimentemos expectativas, relativamente aos mesmos, de retornos afectivos improváveis, no âmbito das suas incompetências e inabilidades emocionais”. Pois bem, não obstante a aparente lógica que esta pequena reflexão possa, eventualmente, revestir; ainda que o teor da mesma nos induza a pensar o óbvio; mesmo que a conclusão mais imediata, a que chegue uma mente racional, aponte para a evidente interpretação e aceitação das coisas, tal e qual elas se nos apresentam, sem derivas, distorções, equívocos ou mal-entendidos, uma coisa é a teorização das situações, outra é a vivência empírica das mesmas, em termos de aparente normalidade, sempre que integramos determinado contexto.

            Se fosse comigo, eu fazia e acontecia – ouvimos, por vezes, dizer... Em tese, tudo é possível. No terreno, em situação, o caso muda de figura, e, sempre que se nos deparam metas, objectivos, fitos em vista, os ritos que preparam os cultos, e que culminam nos comportamentos atitudinais, isto é, na acção ou interacção com os demais no seio do social, devem reunir, uma espécie de energia granjeada “cerimonialmente”, paulatinamente, no âmbito do esboço do esforço propedêutico que prepara um dado passo a concretizar na vida de cada um de nós. Vamos a exemplos: o primeiro ingresso na escola; o primeiro exame; o primeiro encontro de namorados; o primeiro emprego; o primeiro filho, enfim, tudo isto (e muito mais) requer o seu devido enquadramento e, mesmo assim, varia de pessoa para pessoa e é também influenciado pela qualidade da personalidade (inteligência, individuação, carácter, consciência, identidade, afirmação) dos indivíduos em presença, ainda que dentro de determinado padrão de normalidade aparente. Convém notar que, sempre que escrevemos, nos referimos à cultura ocidental.


       Relativamente a estes últimos exemplos, como, de resto, face às restantes situações da vida, repletas de contratempos, sacrifícios, contrariedades e conflitos, os indivíduos, caso não tenham beneficiado de uma ambiência familiar salutar, isto é, se não foram convenientemente desejados, aceites e amados, devidamente educados, ou seja, equilibradamente preparados para os constantes desafios da existência, podem experimentar nas suas relações com os outros (duais ou grupais) reacções de compensação dissonantes, desagregadas, esquizóides, começando por se alterar a presença do seu próprio corpo no horizonte da consciência, isto é, o sentimento de si tolda-se de irrealidade, não chegando nós nunca (ou raramente) a perceber se estamos a ser postos em causa ou, se pelo contrário, estaremos em presença de seres infelizes de quem não devemos  “alimentar expectativas de retornos afectivos improváveis, no âmbito das suas incompetências e inabilidades emocionais”, tal como afirmámos no início do presente escrito.

1 comentário:

  1. As relações humanas. As relações conjugais. O que escreve é certo na teoria. Na prática, penso que tudo passa pela tolerância...
    Um abraço, meu amigo.

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