terça-feira, 17 de abril de 2018

APRENDIZAGEM EFECTIVA




Imagem do Google


   
Num escrito agora revisitado, onde procurámos recordar as ínvias contradições dos curricula, mormente no que diz respeito aos aspectos desviantes de alguns dos seus componentes, uma vez que tudo é curriculum na vida de uma criança, concluímos com a ideia de que o enquadramento ensino/aprendizagem tem sido, devido ao facto, profundamente prejudicado. Sabemos do que falamos: nos últimos anos do século XX integrámos a co-autoria da obra A Construção do Currículo na Escola, cuja publicação sugerímos à Porto Editora. Desta feita, no entanto, vamos reflectir sobre o conceito de aprendizagem activa.

    Aquando do nascimento de qualquer indivíduo humano, muito pouco dos comportamentos observados no bebé é inato, exceptuando o impulso da sucção, os processos de maturação do crescimento e o cansaço resultante de esforços exagerados. Tudo o resto, como a locomoção erecta, a linguagem e todo o conjunto alargado de aquisições culturais, resulta de um continuum de aprendizagens obtidas na micro-sociedade familiar, na sociedade mais ampla que é a escola e, por fim, na macro-sociedade. Todas estas aprendizagens, portanto, são passíveis de operar mudanças comportamentais verificadas em resultado da experiência intrapessoal e intersubjectiva relacional.

            Quanto mais experiências vivenciar a pessoa, melhor; aquelas acumulam no cérebro de cada um aquilo a que o médico inglês F. Semon (1849-1921) chamou  as engramas de memória; estas elucidam sobre a interpretação de futuros protagonismos individuais ou colectivos. A memória, contudo, pode ser curta ou estendida. A primeira pode diluir-se de imediato ou durar apenas escassas horas; já a segunda beneficia do desaparecimento da primeira, uma vez que o cérebro selecciona (memoriza) os dados realmente importantes para o indivíduo, necessitando de espaço para o efeito.

            Segundo a Psicologia do Desenvolvimento, o primeiro processo de aprendizagem conta com a percepção impressiva, que actua logo após o nascimento, particularmente nas aves – fizémos a experiência com uma rola brava tombada do ninho –, e que alicerça a ligação do recém-nascido à mãe, na consolidação da marcha do desenvolvimento. O segundo modelo processual radica a aprendizagem ao condicionamento de resposta estudado por Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936), no âmbito do qual a transferência de um estímulo para outro resulta da capacidade de evocar uma reacção emocionalmente matizada. Já o terceiro processo de aprendizagem liga-se ao condicionamento dinâmico, estudado por Skinner, cuja resposta é tanto mais potenciada quanto mais aliciante for a meta a atingir; acrescente-se que, neste caso, este tipo de aprendizagem tanto pode funcionar para o bem como para o mal.

            Convém, contudo, salvaguardar a distância que vai da teoria à prática da vida. Em contexto real multiplicam-se as situações específicas de condicionamento da percepção impressiva, da capacidade de resposta e da dinâmica operacional. Para além disso, não ignoremos a diferenciação idiossincrática dos indivíduos, a determinar susceptibilidade na forma de responder aos mesmos estímulos, bem como nas maneiras de interpretar as motivações. Sendo assim, a efectivação das aprendizagens varia, quer em qualidade, quer em quantidade, sendo também sensível ao contexto, pelo que, sobre esta matéria, nada é peremptório nem definitivo.

Sem comentários:

Enviar um comentário