terça-feira, 23 de outubro de 2018

DIDFUNÇÕES PRÉ-ESCOLARES



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       Preocupa-nos, sobremaneira, as reiteradas omissões perpetradas aquando da definição do tempo de duração do ensino pré-escolar e, por consequência, da idade mais adequada para o início do primeiro ciclo do Ensino Básico. Como é sabido, e por razões que temos vindo a fundamentar, a criança deve ingressar no Pré-escolar depois de ter completado os três anos de vida. No 1.º Ciclo, deve ser matriculada, depois dos sete anos de idade. Evidentemente que as políticas educativas são uma coisa, não coincidindo com estas o superior interesse dos seres humanos em contexto de criação e formação.

            Reparem: entre os seis e os sete anos de idade, a criança depara-se ainda com inúmeras dificuldades de adaptação, já que se trata de um período fundamental de transição, caracterizado por necessidades ainda não superadas e por comportamentos atitudinais propiciadores da aplicação de propedêuticas de acautelamento da nova realidade escolar. É fundamental garantir, nesta fase de transição, vivências plenas que satisfaçam e consolidem a integração harmónica da criança no âmbito sucedido (psicologicamente maturado) da sua preparação para o ciclo inicial das aprendizagens conceptuais. Portanto: não se exima o sistema educativo (os seus responsáveis tutelares) de levar em linha de conta muitas das dificuldades especiais de adaptação da criança, induzindo, tacitamente (?!) a escola a ignorar e a reprimir ou atropelar as necessidades típicas do período pré-escolar.

            Crianças há, devido a causas particulares que se prendem com a realidade familiar, social, cultural, financeira, cuja natureza psíquica (desenvolvimental), entre os três e os sete anos, tende em permanecer arreigadamente interjeccional e sígnica em detrimento do amadurecimento simbólico, abstracto, proposicional e genérico. A escola deve ponderar esta realidade concreta, facilitando o período final do pré-escolar, rumo a um airoso enriquecimento da maturidade infantil, até porque, nesta fase, o crescimento mental é sempre caracterizado por uma marcante instabilidade psíquica. E, atenção! A não ser assim, o sistema educativo estará a condenar a criança – incapaz de tolerar a frustração que resulta da pressão das exigências desproporcionadas e inadequadas às suas capacidades – a fixações regressivas primárias, sempre difíceis de debelar.

            A este propósito, o Dr. R. Meinert (1958), citado por Lotte Schenk-Danzinger (1959), efectuou um exame médico escolar, no ano de 1954, às crianças de um jardim-de-infância austríaco, tendo despistado um largo espectro de sintomas neuróticos, tais como seguem: “hipermotricidade; anorexia; dores de barriga; dores de cabeça; vómitos; tonturas; onicofagia (roer as unhas); sucção do polegar, mexer (ritualizado) no cabelo; dificuldade em adormecer; sono intranquilo; ranger os dentes; jactacio capitis (cabecear a parede); pavor nocturnus; ira; medo; disfasia (perturbação da fala); enurese (incontinência urinária)”. Meinert concluiu ainda que, mais do que quaisquer outras crianças em idade pré-escolar, aquelas cujas mães exerciam actividades laborais fora de casa da família apresentavam sistomas de medo e falta de apetite.

            NOTA: O progresso civilizacional – e estamos já no ano lectivo de 2018/2019 – deveria significar negociações e consenso entre o(s) Estado(s) e as Entidades Patronais, para que as mulheres que são mães pudessem acompanhar os filhos em casa, presencialmente, até aos três anos de idade, sem perder o direito ao seu posto de trabalho e à respectiva remuneração integral – antes, durante e depois da licença de maternidade. Isto, seria investimento!

2 comentários:

  1. O seu excelente texto leva-me a pensar se os responsáveis pelos governos se debruçam sobre estes problemas… Temo que não…
    Uma boa semana.
    Beijo.

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    1. Graça
      Agradeço a gentileza dos seus comentários.
      Prezo muito o seu talento poético, a beleza essencial da sua poesia... Acontece que não tenho conseguido aceder ao seu blogue -- Ortografia do Olhar; tem dado sempre erro.
      Um abraço.

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